A partir das 9h, Comissão Processante colhe os primeiros quatro depoimentos das testemunha da defesa do vice; Jairo Jorge é o quarto a falar
Os termômetros canoenses prometem uma terça-feira gelada neste dia 20 com temperaturas na casa dos 6° ao amanhecer e chegando aos 11° ao longo da manhã, mas não é disso que se trata este post. O clima que descrevo daqui para frente, diverso desde que antecipa o inverno que chega na quinta, é político. E quente, portanto. Com horário marcado, inclusive – ou quase isso. Antes do meio-dia no plenário da Câmara de Vereadores acontece o esperado enfrentamento de Nedy de Vargas Marques com o prefeito Jairo Jorge – o ‘derby’ político que, reputo, vai definir o rumo do impeachment de que trata a Comissão Processante e no qual o requerimento para a oitiva do prefeito foi agendado. A pedido da defesa, diga-se: JJ é ‘testemunha de Nedy’, mas não se espera que diga uma única frase em abono do ex-aliado, parceiro de chapa e vice eleito em 2020.
Ao contrário.
O depoimento de Jairo é tido como crucial para enquadrar Nedy na tal ‘negligência’ de que é acusado, formalmente, por Teresinha do Nascimento, a dirigente petista que assinou o pedido de cassação do vice lá em abril. Jairo é gestor hábil e experiente; em sua fala deve apresentar à Processante e à defesa do vice o ponto exato em que o então prefeito em exercício ‘deveria ter agido e não agiu’; é esse, afinal, o conceito de negligência que põe a a perda do mandato no horizonte de Nedy em um julgamento absolutamente político, é claro – e nem por isso menos irrelevante.
Antes de Jairo, Nedy deve inquirir a própria Teresinha, uma diretora técnica do Hospital Universitário e o Dr. Paulo Nader, pediatra e ex-diretor médico do HU. Jairo é quarto e vem na sequência. A se ter por parâmetro os depoimentos de sexta, 16, a fala deve começa entre 11h e 12h. Em princípio, a oitiva será feita por videoconferência – facilidade oferecida e aceita por todos os depoentes até o momento.
O blog tentou confirmar com a assessoria do prefeito se ele realmente irá falar por vídeo, mas não obteve retorno até a publicação deste post. Evitar o encontro pessoal com Nedy é a orientação política dos principais conselheiros de JJ. A avaliação unânime é a de que interessa apenas ao denunciado um confronto direto. Por vídeo, mesmo que tenha que responder às perguntas sob juramento, escapa do embate e de eventuais provocações.
Pelo lado da defesa, Nedy e o advogado Rodrigo Schmitt preparam a oitiva desta terça desde o dia em que o processo foi aprovado por 18 votos a 3, em 25 de abril, e o vice se tornou ao mesmo tempo réu e arrimo da própria defesa. Nedy quer bater tacos com JJ. É certo que além das questões envolvendo a gestão do HU e os meses de intervenção em 2022, trará ao baile a Copa Livre, os motivos do afastamento de Jairo no ano passado e as denúncias que pesam sobre ele na Justiça. Se conseguir fazer com que JJ não o incrimine, Nedy espera avançar uma casa em direção a uma improvável absolvição no plenário quando finalmente o relatório da Processante for votado. Caso contrário, perde.
Tem tudo para ser uma manhã quente e será. E antes que este post termine, ‘terça gorda’ não tem nada a ver com gordofobia – até porque, de quilos a mais eu é que entendo. ‘Terça gorda’ era como os cristãos antigos chamavam a terça-feira de Carnaval – o último dia do calendário religioso para que os fiéis pudessem comer carne. Depois, durante a quaresma, era jejum do dia e abstinência ‘da carne’ à noite – nem bifes, nem sexo. A tradição perdurou firme entre os séculos III e VII mas a fome e a pouca decência arrefereceram o espírito dos fiéis que abandonaram aos poucos tanto o jejum como a proibição do prazer. E o que isso tem a ver com o depoimento de JJ ou o enfrentamento dele com Nedy? Além da terça, muito pouco – mas é certamente o dia em que se juntarão ‘a fome com a vontade de comer’.
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