CULTURA

Carne de Chernobyl vira tema de HQ – Lançamento é nesta terça na Feira do Livro de Canoas

Érico Noronha e Wender Zanon - Créditos da foto: Ana Cândida Sommer

Na terça-feira, dia 10 de outubro, às 16h, ocorre o lançamento da história em quadrinho “Gosto Estranho” na 38ª Feira do Livro de Canoas. A sessão de autógrafos será realizada no espaço Café Literário, localizado na Praça da Emancipação. A HQ está sendo comercializada diretamente pelos autores por R$20 e pode ser adquirida através de contato via redes sociais ou por e-mail: wender.zanon@gmail.com.

Gosto Estranho é uma publicação independente, de 40 páginas, de autoria do quadrinista Érico Noronha e do jornalista e produtor cultural Wender Zanon. O projeto foi financiado pelo Programa Microcrédito Cultural da Prefeitura de Canoas. Érico é responsável pelas artes, desde o rascunho até a arte final, também assina o roteiro, argumento e diagramação do material. Já Wender é responsável pelo roteiro, argumento e produção executiva. A história ficcionaliza o episódio ocorrido nos anos 80 que ficou conhecido por “carne de Chernobyl”. Na HQ, a trama gira em torno de uma carga de carne desviada da Companhia Brasileira de Alimentos (Cobal) que acaba sendo vendida em uma lancheria localizada no bairro Mato Grande, em Canoas. Após ser consumida pelos moradores locais, estranhos acontecimentos ocorrem na região.

Entenda sobre a Carne de Chernobyl

O episódio conhecido por carne de Chernobyl ocorreu em 1986. Na época, o Governo Sarney instituiu o Plano Cruzado e uma das medidas adotadas foi o congelamento de preços do mercado brasileiro. Com isso, a indústria pecuária se negava a repor os produtos pelo preço tabelado. Uma das soluções encontradas foi importar carne e laticínios do mercado europeu. Porém, a carne apresentava sinais de radiação devido ao acidente nuclear de Chernobyl.

Essa ideia de criar uma história relacionada com a carne de Chernobyl surgiu em abril de 2022. “Algum dia estava almoçando com meu sogro e sei lá sobre o que falávamos, mas ele comentou desse caso. Na hora fiquei muito curioso e fui pesquisar para entender mais desse episódio”, relembra Wender Zanon. A carne chegou no Brasil em setembro de 86, teve uma pequena parcela vendida e ficou congelada até 1992 (!!!), esperando por determinações judiciais. A pesquisa da dupla Érico Noronha e Wender Zanon não foi tão longe a ponto de identificar o fim da carne, porém alguns jornais da época noticiavam que o produto seria processado e vendido para a África.

Histórias de Canoas

Ao pesquisar sobre o episódio da carne de Chernobyl, Wender Zanon identificou que um dos espaços de armazenamento da Cobal ficava localizado em Canoas, ou seja, uma boa quantidade da carne de Chernobyl ficou estocada e congelada no município de Canoas no bairro Mato Grande, local que serve também de cenário para o desenvolvimento da HQ.

A ideia integra um conjunto de ações que Wender Zanon vem promovendo nos últimos anos que é basicamente apresentar histórias que tenham como pano de fundo o município de Canoas. Em 2021, Wender lançou o documentário “This is Canoas, not POA!”, contando alguns episódios dos últimos 40 anos do circuito musical da cidade, logo em seguida expandiu o projeto para um podcast chamado “This is Canoas – Discografias” abordando carreiras e álbuns de artistas da cidade. No momento o produtor cultural está divulgando o podcast “Histórias da Música de Esteio”, além de estar em fase de produção do seu segundo filme intitulado “Ensaios sobre uma cidade”, que aborda a preservação dos patrimônios culturais e arquitetônicos da cidade de Canoas. De acordo com Wender, “De certa forma, esse lance de falar sobre a cidade e usar ela como temática artística, já estava presente nas coisas que eu fazia como, por exemplo, botar o nome da banda de Paquetá, por causa da prainha da cidade. Até que ao lançar o filme “This is Canoas, not POA!” percebi que tinha uma motivação mais real por trás disso que era de falar sobre o nosso espaço, criar obras culturais e com isso colaborar na construção e manutenção de “afetos” e laços com o município, com a comunidade e de alguma forma colaborar com essa sensação de pertencimento através identidade cultural e social. Resumindo é botar as nossas cidades como pano de fundo das nossas próprias histórias, sejam elas ficcionais ou documentais”.

Capa da HQ “Gosto Estranho”
Arte de Érico Noronha

Referências

Na capa da HQ já é possível observar referências que remetem aos gibis de terror da EC Comics publicados na década de 50. Na construção da história, por parte de Érico Noronha, as principais influências são de autores como Robert Crumb, Daniel Clowes, Walace Wood e Marcelo D’Salete. Uma inspiração muito forte também vem do anime e mangá Tekkon Kinkreet. Na publicação do autor Taiyo Matsumoto, a cidade age diretamente na vida dos personagens e acaba exercendo um certo poder sobre eles. Além de ganhar destaque através de belos e grandiosos quadros. Ali, os autores Wender Zanon e Érico Noronha entenderam que o principal personagem da HQ “Gosto Estranho” era o próprio município de Canoas. Outra influência também nesse sentido de a arquitetura da cidade estar presente na obra vem dos autores gaúchos Edgar Vasques através da HQ “Tragédia da Rua da Praia” e de Ana Luiza Koehler através do “Beco do Rosário”. Já para Wender, as principais influências passem por filmes como Street Trash, O Incrível Homem que Derreteu, Não se Deve Profanar o Sono dos Mortos, O Exército do Extermínio (e de todos os outros do Romero), entre outras obras que estão principalmente naquelas prateleiras das doideras dos anos 80.

Sobre os autores

Érico Noronha é graduado em Artes Visuais pela UFPel, e trabalha como ilustrador e quadrinista. Entre suas obras de maior destaque estão “O novo Wilson Lanchão” e participações nas antologias de quadrinhos “ El Perro Feo” 1 e 2 , ambas publicadas pela editora Escória Comix. Atualmente, Érico está em fase de impressão de seu mais novo projeto intitulado “Revista Bafo”, realizado em parceria com Solano Gualda e Carlos Jenisch. A revista tem previsão de lançamento para o final de outubro.

Wender Zanon atua como produtor cultural desde 2007. Atualmente, integra a equipe do Festival Internacional de Teatro em Canoas – FESTIA; trabalha como produtor do Rock Na Praça, evento com 22 anos e reconhecido como patrimônio cultural imaterial da cidade de Esteio; e também realiza trabalhos de produção e comunicação para diversos artistas independentes da região metropolitana de Porto Alegre. Em 2021, criou o selo musical Parada 12 e também lançou o documentário “This is Canoas, not POA!”. Atualmente, toca nas bandas Mal dos Trópicos e Paquetá e está em fase de produção do seu segundo filme “Ensaios sobre uma cidade”.

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