A reunião entre o prefeito Cristian Wasem (MDB) e o deputado estadual Miguel Rossetto (PT), realizada nesta quinta-feira, na Prefeitura de Cachoeirinha, rearmou uma ‘pauta-bomba’ que há muito extrapola as fronteiras do município: o destino do Mato do Júlio.
A proposta, que tem o aval do presidente da Assembleia Legislativa, Pepe Vargas (PT), é a transformação da área em parque ambiental, garantindo uma estrutura de resiliência hídrica e climática para a Região Metropolitana.
A estratégia para viabilizar o negócio seria incluir a desapropriação da área nas compensações ambientais para construção do cinturão de diques na região – um deles a extensão do atual dique em Cachoeirinha –, previsto nos R$ 2,9 bilhões do PAC para a Bacia Hidrográfica do Rio Gravataí e nos investimentos do Funrigs, o fundo de R$ 23 bilhões para reconstrução do Rio Grande do Sul.
Não se trata de uma ideia inédita. Em junho do ano passado, o Comitê da Bacia do Rio Gravataí já havia apontado a desapropriação do Mato do Júlio como prioridade regional e propôs ao governo federal a compra da área, avaliada em R$ 200 milhões.
A justificativa: em maio, quando o Rio Grande do Sul enfrentou a maior catástrofe climática da sua história, foi o ‘banhado-floresta’ do Mato do Júlio que segurou 35% da água que inundaria Cachoeirinha, poupando milhares de moradores.
– A ideia é fazer um grande Central Park da Região Metropolitana – resumiu à época, ao Seguinte:, o presidente do Comitê, geólogo Sérgio Cardoso.
O Mato do Júlio, com seus 200 hectares de floresta urbana, funciona como uma esponja natural, armazenando água das cheias e liberando lentamente no ecossistema. Ignorar sua função ambiental é fechar os olhos para a realidade: sem ele, 7 a 8 mil pessoas a mais teriam perdido suas casas nas enchentes.
É um patrimônio natural com valor econômico incalculável, ainda que os proprietários privados o avaliem em cifras de mercado.
Historicamente, o Mato do Júlio esteve na mira da especulação imobiliária. Planos diretores atrasados, acordos de troca de dívidas por hectares e pressões de construtoras rondam a área como uma sombra constante. O interesse em transformar ao menos parte da floresta em zona urbana permanece vivo — o que exigiria mudanças legislativas de iniciativa do Executivo municipal.
O prefeito Cristian, em conversa com o Seguinte:, na semana passada, olhando de sua janela para floresta, foi categórico: “É intenção do governo preservar o Mato do Júlio”.
É nesse ponto que a reunião ganha relevância: há dinheiro disponível. A enxurrada de verbas disponibilizadas para reconstrução do Estado tornam a desapropriação mais viável do que nunca. Se antes parecia inviável para os cofres municipais — equivalendo a um terço de toda a arrecadação anual de Cachoeirinha —, hoje é perfeitamente possível com apoio dos governos federal e estadual.
A ‘esponja’ Mato do Júlio — como nenhuma outra área da região — é a prova viva de que a floresta urbana não é luxo, é infraestrutura essencial, tão importante quanto diques, pontes ou hospitais.
Como conclui em Comitê da Bacia do Rio Gravataí pede desapropriação do Mato do Julio ao governo federal; O Central Park do pós-enchente, aguardemos para ver se o interesse na salvação ambiental é mais profundo do que aquele que por vezes se oculta na lama remexida em grandes empreendimentos imobiliários.
Que, se não sair do sonho para realidade o socorro dos governos federal e estadual, ao menos o prefeito mantenha sua promessa de preservar — se não todo, o necessário.






