Em busca da origem dos cervos flagrados circulando pelas ruas de Gravataí na última segunda-feira (27), o Seguinte: ouviu um dos maiores especialistas em grandes mamíferos silvestres da região. E, a partir das imagens, o biólogo André Osório garante:
— Não são cervos do pantanal.
Esta é a única espécie deste animal nativa da região. É encontrada na região de banhados, nas nascentes do Rio Gravataí, especialmente no Refúgio de Vida Silvestre Banhado dos Pachecos, que é gerenciado pelo biólogo.
— Os animais das imagens não têm as mesmas características do cervo do pantanal e, pela localização em que foram vistos, em área urbana, jamais tivemos relatos, ainda mais em grupo. Se fossem vistos ao longo do curso do rio, até seria possível, embora pouco provável. Por outro lado, não é a primeira vez que se verifica na Região Metropolitana algum cervo de espécie exótica solto em meio à área urbana e sem que se saiba a procedência — afirma Osório.
A existência de cervos estranhos ao ambiente natural da região, inclusive, preocupam o especialista.
— Se eles estão circulando à noite, provavelmente estão se resguardando em algum local durante o dia. É uma região com certa proximidade da área protegida dos cervos do pantanal, que é ma espécie endêmica. Se os exóticos chegarem ao habitat dos nativos, pode haver uma concorrência pela área e as consequências seriam preocupantes — aponta.
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Pampas Safari é vistoriado
No começo da tarde desta terça, uma equipe formada pela Fundação Municipal do Meio Ambiente (FMMA), a Secretaria Estadual de Agricultura e pelo Ministério Público executou a vistoria determinada pela Justiça de Gravataí na área do Pampas Safari, na RS-020. A ordem judicial determinava que fossem verificadas as condições dos animais — sob risco de abate há um ano — e que se fizesse uma nova contagem. No último levantamento feito pelos órgãos ambientais, havia mais de 360 cervos no Pampas. Um relatório da vistoria será divulgado em alguns dias. Extra-oficialmente, integrantes das equipes relatam que o rebanho está menor.
O Ministério Público não se manifestou sobre o resultado da ação, que chegou a ser barrada por um dos advogados dos proprietários do parque. A promotora Camila Barth relatou, pela assessoria de imprensa do órgão, porém, que não sabia da aparição dos cervos. Segundo informa a assessoria, a vistoria teria sido solicitada por outro motivo, não relatado pela promotora.
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O Ibama, que também foi intimado a participar da vistoria, agendada para às 13h, não compareceu. De acordo com a superintendente regional do órgão, Cláudia Pereira da Costa, não havia tempo hábil para que uma equipe fosse deslocada até Gravataí. A partir das imagens, Cláudia diz não ser possível afirmar sequer a espécie de cervos que foi vista na cidade.
— A qualidade das imagens impossibilita de saber se são animais nativos ou uma espécie exótica. Não é possível afirmar que tenham saído da área do Pampas ou da mata próxima ao condomínio onde aconteceu o registro — diz a superintendente.
Conforme o Comitê de Gerenciamento da Bacia do Rio Gravataí, não há relatos recentes da existência de cervos do pantanal tão próximos da zona urbana de Gravataí. O local da primeira aparição fica a 10 quilômetros do Pampas — onde são mantidos cervos exóticos, principalmente os conhecidos como vermelho — e a cerca de 50 quilômetros do Refúgio de Vida Silvestre Banhado dos Pachecos.
Abate de cervos se arrasta na justiça
Procurado pelo reportagem, o advogado do Pampas Safari, Carlos Henrique Fuhrmeister, não comentou sobre a possibilidade de que os animais façam parte do rebanho do parque atualmente fechado à visitação. Limitou-se a informar que “todas as informações sobre o caso estão disponíveis no processo judicial”.
A polêmica envolvendo a intenção do Pampas de abater cervos do seu rebanho completa um ano. A justificativa é de que há um surto de tuberculose entre os animais, e que exames não foram conclusivos em afirmar se há risco de maior contágio, tanto entre cervos vivos mantidos pelo Pampas, quanto a animais domésticos da região próxima ao parque. O caso segue em aberto nas justiça, nas esferas estadual e federal.
No mês passado, porém, o Ibama confirmou que restavam poucos dados técnicos para que fosse possível o abate desejado pela direção do parque. Já no final de julho, o Ministério Público garantiu que não há autorização para que os cervos sejam transportados para abate. Ainda não há sentença judicial sobre este caso.