SOS Xará

Chegam as telhas para um Xará arrasado

Cerca de 800 telhas - de um total de 1.500 - começaram a ser distribuídas ontem para moradores atingidos pelo vendaval

Cerca de 40 famílias se aglomeraram sob uma cobertura com frágeis telhas de fibrocimento na frente do que deveria ter sido um estabelecimento comercial, esquina da avenida Princesa Isabel com uma travessa sem nome, no Loteamento Xará, no começo da tarde de hoje (16/1).

O objetivo foi confirmar o cadastramento e esperar a distribuição de lonas e telhas. Todas, ou quase todas as pessoas, de famílias atingidas pelo vendaval da madrugada da segunda-feira passada (9/1) que deixou dezenas de casas parcial ou totalmente destelhadas.

A distribuição estava prevista para começar as 14h, e até o prefeito interino Nadir Rocha e o deputado federal Jones Martins (ambos do PMDB), foram conferir a ação da Coordenadoria Municipal da Defesa Civil. O caminhão carregado com as telhas, porém, só entrou na Princesa Isabel às 15h24min e começou a ser descarregado às 15h40min.

 

Na dependência

 

No total foram cadastradas, ainda no dia do temporal, 115 famílias. Destas, pelo menos três tiveram perda total em suas residências. E a metade delas recebeu de imediato lonas para cobrir as casas. As restantes ficaram na dependência da compra de mais material, feita na semana passada pela Prefeitura.

— A gente esteve aqui, antes, verificando a situação, e voltamos hoje para acompanhar o processo e apelar para que todas as famílias sejam atendidas nas suas necessidades — disse Nadir Rocha, que chegou ao local pouco depois das 14h e fez questão de checar a lista de cadastrados e conversar com várias pessoas, entre um e outro chimarrão.

— Como estamos de recesso na Câmara e já que estou na cidade, vim acompanhar o prefeito e testemunhar esse momento importante de solidariedade para com as famílias atingidas — falou o deputado federal Jones Martins que chegou ao Xará às 14h40min, com um assessor.

 

: Prefeito interino Nadir Rocha foi ao Xará verificar a situação e acompanhar ações desta tarde

 

Ansiedade geral

 

— E cadê o caminhão que não aparece?

A frase ouvida em meio às famílias, servidores do município, da Defesa Civil e as poucas autoridades, soou pela primeira vez às 14h47min. A resposta foi de que o prefeito Nadir recém havia entrado em contato com o coordenação da Defesa Civil e que o veículo estava em deslocamento.

— Daí, está vindo o caminhão?

Foi o questionamento feito por um quase nervoso deputado Jones Martins, às 15h04min, ao lado de várias pessoas que olhavam com ansiedade generalizada para o início da avenida Princesa Isabel. Isso depois de terem passado pelo local pelo menos 11 ônibus do transporte coletivo urbano, todos da linha municipal.

 

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Os números

 

O coordenador municipal da Defesa Civil, Frademir Lemos, explicou o atraso desta tarde pela dificuldade em carregar o caminhão.

— São uma 20 toneladas e a gente só tinha três funcionários. Nem equipamento munk (caminhão com braço mecânico) a gente tinha na mão, tivemos que correr atrás — disse Lemos ao prefeito e ao deputado, logo que chegou e somando-se aos que esperavam o veículo carregado com as telhas.

Lemos explicou que mesmo não havendo uma obrigatoriedade, já que não foi decretada Situação de Emergência e nem de Calamidade Pública, pela Prefeitura, é o município que está fazendo a doação do material – lonas, telhas, cestas básicas e outros materiais – por entender a situação de vulnerabilidade e necessidade extrema das famílias.

Ele também contou que no dia do vendaval – que chamou de micro-explosão – já haviam sido entregues oito rolos de lonas para as famílias mais necessitadas, e que o restante do material precisou ser comprado. A expectativa inicial de fazer a distribuição até sexta passada não aconteceu porque atrasou a entrega das telhas.

 

: Frademir Lemos, da Defesa Civil de Gravataí, coordena as ações no Loteamento Xará

 

Reserva técnica

 

A Prefeitura comprou 1.500 telhas com quatro milímetros de espessura, cada. Hoje o carregamento para o Loteamento Xará foi de 800 telhas, aproximadamente, ficando outras 700 para serem distribuídas ao longo desta semana. A Defesa Civil ainda tem 300 destas telhas como reserva técnica, segundo Frademir Lemos.

Outros 22 rolos de lonas, com 100 metros cada, também começaram a ser distribuídos nesta segunda-feira. A Secretaria Municipal da Família, Cidadania e Assistência Social também está atuando no atendimento às famílias cadastradas.

De acordo com Diego Moraes, Diretor de Proteção Básica da pasta, já foram entregues 35 cestas básicas para 38 das famílias que pediram a ajuda. Colchões e roupas também estão sendo entregues.

 

: Famílias foram orientadas pela Defesa Civil para o recebimento de telhas e lonas

 

Perda total

 

Da esquina oposta ao local onde aconteceu a aglomeração em torno da distribuição das telhas, a aposentada Ediles Ribeiro de Souza, 65 anos, observava a movimentação. O filho dela, Volnei de Souza Oliveira, era mais um dos que ansiava por receber telhas e outros materiais para ajudar a mãe na reconstrução da casa.

— Ela perdeu tudo. O telhado voou com as tesouras (estruturas de madeira) e parte caiu dentro de casa. Ela (Ediles) se salvou porque correu para o banheiro que tem cobertura com chapa de cimento — contou o filho Volnei.

Na casa, Ediles, que mantém um salão para corte de cabelos e embelezamento das mulheres na peça da frente, onde era uma sala, e é cuidadora de um idoso de 86 anos, é só lamentação. Ela perdeu tudo, literalmente. Da televisão à geladeira, móveis e eletrodomésticos menores, além de roupas pessoais e de cama.

— Não fazia muito tempo tinha ‘botado’ uns R$ 10 mil na reforma da casa — revelou, manifestando o propósito de reconstruir e readquirir o que foi perdido.

— Não tem outro jeito! Vamos ter que aproveitar as paredes que ficaram em pé e refazer tudo de novo — afirmou.

 

: Ediles, aposentada, conta perdeu tudo que tinha dentro de casa por causa do vento

 

Capina no meio fio

 

E na outra esquina mora o aposentado Américo Miranda Pinto, de 79 anos, um ex-motorista de caminhão que se mostrava alheio à movimentação que acontecia a cerca de 20 metros da sua casa. O vendaval de segunda-feira da semana passada não atingiu sua residência.

Hoje, enquanto umas 40 pessoas se movimentavam com crianças ao colo, fumando e tomando chimarrão em meio de pelo menos três cachorros, Américo retirava o mato e a terra que se acumulou junto ao meio fio na frente da sua moradia, na avenida Princesa Isabel, 705.

— Estou fazendo uma limpeza que é para ficar bonito e evitar alagamentos — disse para o Seguinte:, sempre sem dar importância ao que ocorria praticamente ao seu lado.

Ainda sobre a esquina, revela que frequentemente faz a limpeza e aterra uma sarjeta próxima que é para evitar erosões.

— Se não cuidar a água acaba levando o terreno — justifica.

 

: Ex-caminhoneiro, Américo Pinto limpa meio fio para evitar alagamentos na frente de casa

 

Apelo de mãe

 

A dona de casa Rosane Gomes, de 56 anos, cuja situação foi contada pelo Seguinte: na semana passada, estava entre as pessoas que apelavam por telhas para cobrir suas casas.

— Só quero 'telhar' o quarto dela — disse, hoje, referindo-se à filha deficiente que tem 22 anos.

Rosane recebeu uma notícia melhor ainda. O coordenador da Defesa Civil, Frademir Lemos, reconheceu a dona de casa e, puxando-a de lado, garantiu que lhe daria um tratamento diferenciado por ter se comovido com a situação que viu na casa.

— Os olhos de desespero e tristeza da menina (filha de Rosane) mexeram muito comigo. Vou fazer o que for possível e o que estiver ao meu alcance, por ela — assegurou.

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