Natural de Viamão, aos 36 anos, ele é visto em quase todas as solenidades promovidas pela Prefeitura de Gravataí, seja na inauguração de obras – como a das pontes do Parque dos Anjos nesta quinta, dia 31, onde certamente vai estar – ou como mestre de cerimônia em eventos como o Desfile das Vitoriosas, de alerta à prevenção do câncer de mama.
Ele é negro e tem uma voz grave, de barítono, quem sabe tenor. Muita gente pensa que é impostação, coisa dos antigos locutores de rádio. Mas é sua voz, natural. Pelo menos é o que garante o jornalista Jairton Camisolão Silva da Silva. Sim, este é o nome dele: Jairton. E Camisolão!
Nascido no Hospital Beneficência Portuguesa, em Porto Alegre (ele insiste em dizer que é viamonense), é integrante do quadro de jornalistas da área de comunicação social da administração municipal e, não raro, desperta curiosidade entre os que o veem, e ouvem, pela primeira vez.
— Olha só a voz desse cara!
— Quem é esse negro de voz grossa? — são comentários frequentes que passam ao largo dos ouvidos de Camisolão. Ou “camisa”, abreviatura com que carinhosamente lhe chama algumas vezes seu chefe, o prefeito de Gravataí, Marco Alba, e os amigos mais íntimos.
Solteiro, sem filhos, carnavalesco e torcedor do Grêmio de Porto Alegre, explica que uma pesquisa está sendo feita, entre parentes, para descobrir a árvore genealógica e a origem do sobrenome que chama tanto a atenção das pessoas.
— O que descobrimos até agora é que a nossa família tem origem em Portugal — conta.
A pesquisa está sendo encabeçada por um primo, Júlio César Camisolão, que já enviou para o Jairton algumas fotos de ascendentes, como avós, que ele não conhecia.
Quanto ao sobrenome, explica que as pesquisas apontam que, lá atrás, tempos idos, a grafia correta não era com ‘s’, mas com ‘z’.
— Meu avô nasceu em 1927 e o registro de nascimento dele é com a letra ‘s’. Mas do meu trisavô que nasceu depois de 1.800, segundo já foi apurado, era com ‘z’. Ou seja, alguém errou no meio deste caminho.
Político e sambista
Camisolão é um homem ocupado. Formado em jornalismo em 2012, já foi estagiário na Rádio da Legião da Boa Vontade (LBV), da Rádio Guaíba, e iniciou sua vida profissional na Rádio Metrópole, em Gravataí. Passou pelas câmaras de vereadores de Viamão e Alvorada, ainda como estagiário, e, claro, na Câmara Municipal de Gravataí, entre muitas outras funções.
— Por muitos anos também fui assessor de imprensa da minha escola de samba do coração, a Unidos de Vila Isabel, de Viamão — contou quando concedeu a entrevista, há cerca de 15 dias, prometendo enviar fotos da época para ilustrar a reportagem do Seguinte:.
— Bah, não tive tempo de ver isso ainda, e depender dos outros é complicado… — se explicou nesta semana quando foi “cobrado” sobre as fotografias prometidas.
Dizendo-se um militante apaixonado da Comunicação Social, em 2014 aceitou convite do próprio prefeito Alba e, desde então, trabalha na Comunicação Social da Prefeitura de Gravataí. O convite também foi consequência, certamente, da opção política do “camisa”, filiado ao Movimento Democrático Brasileiro (MDB – antes, PMDB) desde 1999.
PERGUNTINHAS
A voz grave te rendeu o que, até agora?
Camisolão – Bastante trabalho. Não posso me queixar. Entrei na Unisinos (Universidade do Vale dos Sinos) em 2007 para cursar jornalismo e paguei boa parte da faculdade fazendo freelas (trabalhos eventuais, os chamados freelancer). Foram convites para ser cerimonialista em um evento, dois, três… Nem era pela qualificação que eu estava adquirindo dentro da academia, a faculdade, mas pelo padrão de voz que era característico dos antigos locutores de rádio.
Te incomoda ser chamado de Camisolão?
Camisolão – Não incomoda em nada. Até prefiro ser chamado pelo sobrenome porque a maioria das pessoas que me chama pelo nome acaba errando. O certo é Jairton, mas acaba saindo Joilso, Josnélio, Jair… Chamam por vários nomes, mas poucos são os que acertam e pronunciam Jairton de forma correta.
Já te apelidaram por causa da voz?
Camisolão – Os apelidos que tive, e alguns ainda permanecem entre amigos ou na família, muito mais por brincadeira é claro, nem são por causa da voz, mas por causa do sobrenome mesmo. Já me chamaram de várias coisas como camisetão, sacolão, big shirt… Já estou acostumado com isso.
Políticas para os negros
— Se vacilar a gente segue noite adentro trabalhando e não para nem mesmo nos sábados e domingos, muito menos nos feriados — diz Camisolão, referindo-se ao que chama de “ritmo frenético” do atual governo, ao qual não economiza palavras para elogiar elencando principalmente as obras realizadas pela Prefeitura desde que Marco Alba é prefeito.
Não bastasse trabalhar na Comunicação Social, produzindo textos para solenidades que vai apresentar e envolvendo-se diretamente na preparação destes eventos, entre outras funções, Jairton Camisolão também trabalha na Assessoria de Políticas Públicas para o Negro dentro da administração municipal.
E garante que ainda são necessárias ações em favor dos negros, as chamadas políticas públicas.
— O negro ainda precisa, sim, destas ações, deste trabalho específico que é realizado, por exemplo no nosso governo. A gente que é negro enfrenta muitas situações. Particularmente, nunca fui alvo de uma ação de discriminação, mas a gente sabe que isso existe, e muito! — afirma.
Ele cita entre medidas adotadas pelo atual governo a criação de dois conselhos, que considera muito importantes para a valorização e inclusão do negro na sociedade. O Conselho Municipal da Promoção da Igualdade Racial e o Conselho Municipal dos Povos de Terreira, além das atividades de promoção da saúde entre as comunidades de periferia e quilombolas, entre outros.
— Não há diferenças entre negros e brancos, além da cor da pele.
É o que garante, provocado sobre o que dizer às pessoas que são racistas – embora não admitam! – e criticam, de forma velada, a assinatura da Lei Áurea pela Princesa Isabel, em 13 de maio de 1888, à época do ainda Brasil imperial.
— Estas pessoas estão totalmente equivocadas.
Folião apaixonado
Um bom vivant na medida do possível. É como o próprio Camisolão se define sobre o estilo de vida que leva e sobre o que gosta de fazer nas horas em que não está trabalhando. Garante que gosta muito da relação com amigos e diz que tem muitas e boas amizades, um aficcionado pelo futebol e, com mais ênfase, quase separando sílabas, garante…
— Sou um apaixonado pelo carnaval e não escondo isso de ninguém. Já participei bem mais, inclusive da direção de escola de samba. Carnaval é como futebol, tu só tem um clube e só tem uma escola de samba. Respeito todas e quem me conhece sabe que tenho a minha escola de samba do coração, que é a Unidos de Vila Isabel (de Viamão) — fala, com entusiasmo
A paixão pela Vila, como a escola é popularmente chamada, talvez tenha uma razão muito forte, pelo que ele mesmo revela.
— Eu nasci praticamente na frente da quadra da Unidos de Vila Isabel, na (vila) Santa Isabel, em Viamão.
O político
Não precisa nem ser na eleição do ano que vem, 2020, mas vai chegar o dia em que Camisolão vai se submeter às urnas. Ele mesmo revelou isso nesta conversa com o Seguinte:, garantindo que a candidatura a vereador é uma meta pessoal que nunca escondeu das pessoas que o rodeiam e questionam sobre seu futuro como político.
— Vou querer, sim, ser experimentado pelas urnas uma hora destas. Não é para testar a minha popularidade, mas para testar o que as pessoas acham do meu trabalho como carnavalesco, como defensor da cultura, das questões raciais… Não é pela popularidade, mesmo, porque acho que de queridinhos a nossa cidade já está cheia.