Enquanto o Rio Grande do Sul enfrenta números alarmantes de violência doméstica e feminicídios, Gravataí emerge como um caso de sucesso: desde janeiro de 2024 até abril deste ano, o município não registrou nenhum caso de feminicídio. O feito é resultado de uma estratégia integrada entre secretarias municipais, órgãos estaduais e iniciativas de acolhimento, que ampliaram o suporte a mulheres em situação de risco e atuaram na prevenção de crimes.
De acordo com dados da Secretaria de Segurança Pública do RS, o município alcançou a marca histórica de ausência de feminicídios graças a ações coordenadas pela Prefeitura, por meio da Secretaria Municipal da Mulher e Direitos Humanos (SMDH), Casa Lilás e Secretaria Municipal de Assuntos para Segurança Pública (Smasp). O prefeito Luiz Zaffalon destacou a importância da abordagem multissetorial: “Enfrentamos esse problema com políticas horizontais, envolvendo diferentes áreas e parceiros. O objetivo é único: prevenir a violência e salvar vidas”.
Patrulhamento e prevenção
Um dos pilares do sucesso é o programa de patrulhamento ostensivo em casos de violência doméstica, vinculado à Lei Maria da Penha. Coordenado pela Smasp, o serviço atua para evitar a reincidência de agressões e impedir escaladas de violência. “Ainda há registros preocupantes de violência doméstica em alguns bairros, mas zerar os feminicídios é um avanço que nos motiva”, afirmou Emílio Teixeira, secretário da Smasp.
A criação da SMDH em 2024 ampliou a capacidade de atendimento da Casa Lilás, principal centro de apoio às vítimas. O espaço oferece assistência psicológica, jurídica e social, integrando uma rede que inclui a Delegacia da Mulher (DEAM), Defensoria Pública, Ministério Público e o Poder Judiciário. Os números refletem o impacto: em 2023, como assessoria, foram 243 acolhimentos; em 2024, já como secretaria, saltou para 326.
“O fortalecimento da rede permitiu que mais mulheres buscassem ajuda antes que a violência se tornasse fatal”, explicou Analu Sônego, secretária da SMDH.
Trabalho com agressores e campanhas de conscientização
Além do apoio às vítimas, Gravataí inovou ao incluir os agressores na equação. O Grupo Reflexivo de Gênero (GRG), em parceria com o Judiciário, promove debates com autores de violência para desconstruir comportamentos abusivos. “Muitas vítimas são agredidas repetidamente pelo mesmo parceiro. Atuar na raiz do problema é essencial”, destacou Analu.
A iniciativa privada também entrou na luta: cartazes com mensagens contra o assédio e a violência foram instalados em banheiros de bairros e casas noturnas. “É estratégico conscientizar onde há consumo de álcool, ambiente que muitas vezes potencializa conflitos”, completou a secretária.
Rede Lilás
Apesar do marco, autoridades reconhecem que os casos de violência doméstica ainda exigem atenção. Para 2025, a meta é ampliar as campanhas educativas e fortalecer a Rede Lilás, garantindo que Gravataí não apenas mantenha os feminicídios zerados, mas reduza também todas as formas de violência contra mulheres.
“Estamos mostrando que é possível mudar realidades com políticas públicas eficazes. Mas o trabalho nunca termina”, concluiu Zaffa.
Como buscar ajuda
Mulheres em situação de risco podem contatar a Casa Lilás pelos telefones (51) 3600-7720, 0800-510-2468, WhatsApp (51) 3600-7722, ou presencialmente na Rua Heitor de Jesus, 232, centro.
A Polícia Municipal atende pelo 153 ou 3600-7634.