Ajuda a desinformar, não a informar, o compartilhamento feito pelo vereador de Gravataí, que se apresenta sob a alcunha de Policial Federal Evandro Coruja (PP), da malandra reportagem do UOL sobre sigilo na festa de posse de Lula.
Não há sigilo nos gastos, apenas na lista de convidados.
Induzir a comparação entre a preservação dos nomes de participantes em coquetel no Palácio do Itamaraty e as suspeitas de ‘rachadinha’ no cartão corporativo – como, para ficar em um exemplo, pagamentos em um só dia de seis compras de R$ 9,5 mil e uma de R$ 5,2 mil na lanchonete Tony &Thais, em São Paulo – é como igualar um homicídio a jogar um papel no chão; o que reputo feio para um profissional da segurança pública.
Reproduzo o post do político gravataiense e, abaixo, sigo.
Sigo eu.
A Folha de S. Paulo também cometeu sua desonestidade intelectual ao reportar que “Governo Lula coloca sob sigilo lista de convidados de recepção da posse no Itamaraty. Governo também não divulgou gastos com festa, mas afirma que essas informações são públicas”.
É quase uma fake news dizer que o governo “não divulgou gastos” e, na linha seguinte, atestar que a prestação de contas é pública. Os gastos estão acessíveis a qualquer um clicando aqui, aqui ou aqui.
A argumentação do Itamaraty para o sigilo sobre a lista de convidados cita a Lei de Acesso à Informação e o Decreto 7.724/2012, que regulamentou a LAI, que determina a classificação de informações que possam “prejudicar ou pôr em risco a condução de negociações ou as relações internacionais” do país e, também, garante acesso restrito a informações pessoais “relativas à intimidade, vida privada, honra e imagem”.
Explicando: não cabe ao governo brasileiro expor os ‘CPFs’ das 73 representações estrangeiras e 80 representantes diplomáticos que estavam em Brasília, assim como seus mecanismos de proteção e equipes de segurança.
O gasto sim. R$ 607,9 mil; para quem necessita do falso paralelismo, mais barata do que a de Jair Bolsonaro em 1º de janeiro de 2019, que, corrigida a inflação, custou R$ 1 milhão.
Associo-me ao jornalista Reinaldo Azevedo.
“O Itamaraty só não divulgou a lista de convidados do coquetel oferecido no dia da posse de Lula, o que faz sentido. Os gastos não estão em sigilo, como se sugere malandramente, buscando a falsa simetria com Bolsonaro. Isso é ‘jornalismo de ocultação’, não de esclarecimento”, tuitou.
“Jornalismo não é. Força-se a barra para buscar uma igualdade que inexiste. O sigilo sobre delegações estrangeiras pertence também aos países de origem”, concluiu.
Reproduzo as tuitadas e, abaixo, concluo.
Ao fim, frente à informação, que é com o que trabalho por 25 anos, a manchete é tão errada quanto, voltando a uma analogia com nosso policial federal, um colega do Bope atirar em um pobre na favela porque achava que o guarda-chuvas era um fuzil; ‘hipoteticamente’.
Fato é que o objetivo da postagem do vereador-bolsonarista-raiz-de-Gravataí – que nos últimos 10 posts tem 9 críticas a Lula e apenas uma sobre seu trabalho na Câmara, ou referente ao governo que apoia, do prefeito Luiz Zaffalon (MDB) – me parece atingido como bala achada; e assim mostram os comentários no Grande Tribunal das Redes Sociais e por WhatsApps que recebi: iguala-se o inigualável.
Inegável é que, mesmo tenha Evandro Coruja sido – vamos lá – ingenuamente influenciado pela manchete do UOL, que é uma meia verdade, e meias verdades sempre tem uma metade próxima da mentira, em nada contribui para esclarecer os eleitores.
Lembrou-me seu colega de Câmara, o oposicionista Fernando Pacheco (União Brasil). Foi o PF um “Deadpool do governo”, cuja última polêmica do disse-que-não-disse-o-que-disse tratei em Fernando Deadpool tenta um ‘habeas corpus político’ em Gravataí. Bonito. Vai funcionar com os vereadores de Gravataí? A bala perdida que acha.
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