Por mais sensação de onipresença que as tecnologias nos deem hoje em dia, estar presente ainda é uma energia direcionada. E quando a vida nos traz novos (felizes) caminhos, provoca algumas ausências, como estive dessa coluna. Ausência temporária, importante ressaltar. Normal precisar de um tempo de vez em quando para organizar a vida na nova etapa e voltar renovada para os compromissos já assumidos.
Mas há ausências que são progressivas e permanentes. Essas são muito mais dolorosas. Foram 10 longos anos vendo a vó Elza ir embora aos poucos, ficando distante de tudo, presa a um corpo e um cérebro cada dia mais inativo. Antes da pandemia ela não conseguia mais falar, e não sabíamos se nos reconhecia.
Nas poucas vezes que pudemos visitá-las nesses dois últimos anos, seus olhos pareciam querer dizer algo… eram neles que ainda encontrávamos a presença daquela dona Elza que conhecemos. Pelo menos, preferíamos acreditar que ainda restava ali alguma memória de tudo que vivemos, que ela não estava vivendo totalmente nas lembranças de um passado distante.
Enfim a vó descansou, se libertou daquele corpo paralisado, daquela mente consumida pelo Alzheimer e pelos traumas de uma vida sofrida. Pode parecer contraditório, mas agora sinto que está mais presente. Penso na vó ao lado de Deus e Nossa Senhora, cuidando de nós. E meu coração se sente em paz.
Também me sinto muito grata por tudo que pude viver ao lado dela. Ser a neta mais velha teve suas vantagens… Lembro do sorriso que a vó tinha antes de perder o vô, um sorriso que ficou muito raro depois disso. Lembro dela mais leve, fazendo os melhores bolos de aniversário. Ou fazendo aquela lasanha que nunca mais comerei igual, assada no forno de rua, de onde também saíam biscoitos e pães maravilhosos.
E que sorte eu tive de aprender com uma autêntica nonna a dobrar capeletti! Antes de ter idade para “botar a mão na massa” literalmente, eu já vivia em volta nas tardes em que a vó fazia os capelettis ou macarronis, filando uns pedacinhos de massa crua.
As lembranças da vó, que não são mais ausências, têm cheiro e sabor de massa fresca.
Para muitos que a conheceram, tenho certeza que têm gosto daquele pudim todo mundo reconhecia que era da dona Elza. Minha mãe faz bem parecido, mas obviamente não fica igual, porque a vó tirava o leite da vaca, usava os ovos das galinhas que ela criava… nenhum pudim feito com leite de caixinha e ovo de granja chega perto.
Não era à toa que o pudim da vó era o doce mais aguardado nas festas da igreja. As macarronadas também faziam sucesso. Lembro de um dia muito frio, no galpão do CTG Laço da Amizade, estava ajudando a vó a fazer o macarrão para o almoço que haveria no dia seguinte, em prol da creche Santo Aníbal. Eu, mesmo trabalhando, estava morrendo de frio, mas a vó parecia nem sentir.
Uma mulher muito forte, assim era a vó Elza.
E que estará sempre presente nas nossas melhores e mais saborosas memórias.