No #DasUrnas, siga diariamente quem ganhou, quem perdeu, quem empatou e os números e análises da eleição de 2024.
Um vereador saiu das urnas com um título incontestável em Gravataí: ‘o montador de partidos’. É Dilamar Soares, o Dila, que completa 54 anos nesta sexta-feira.
Reeleito para o quarto mandato, organizou o Podemos e fez da sigla a segunda em votação entre candidaturas a vereador, com 14.234, atrás apenas do histórico MDB de Marco Alba (20.229), além de a mais votada entre os 11 partidos da coligação da reeleição, superando o PSDB (14.219) do prefeito Luiz Zaffalon.
O Podemos teve três vereadores eleitos em 2024: ele, Carlos Fonseca e Paulinho da Farmácia.
Antes, em 2016 tinha montado o PSD, também segundo partido em votação naquela eleição e com três vereadores eleitos: ele, Bombeiro Batista e Dimas Costa.
Resultado que se repetiu em 2020, no PDT, também segundo partido em votação e com três eleitos: ele, Bino Lunardi e Thiago De Leon.
Ah, mas para a eleição deste ano Dila tinha filiado no Podemos o vice-prefeito, Dr. Levi Melo (salvou-o, quando PP e PL tinham fechado as portas), cargos na Prefeitura e, por um bom tempo, era o ‘vereador do Zaffa’ (foi o no parlamento o mais qualificado defensor do projeto que permitiu ao governo investir mais de R$ 200 milhões, a reforma da previdência), podem argumentar desafetos – que não faltam ao polêmico vereador, que sempre saiu brigado dos partidos e já protagonizou situações inusitadas como votar contra títulos de cidadão para o ex-prefeito Daniel Bordignon (PT) e o próprio Dr. Levi; parêntese: brigou comigo também, amigo de década, e no período em que não estendia a mão criou o apelido ‘Perseguinte’, forma que até hoje alguns políticos se referem ao Seguinte:, quando não concordam com críticas jornalísticas.
Só que a história conta que, em 2020, com Dr. Levi concorrendo a vice pelo Republicanos, o partido teve apenas um vereador eleito: Fábio Ávila.
Verdade é que a proximidade com Zaffa – estremecida no ano passado na eleição para a presidência da Câmara e reatada no período eleitoral – garantiu a aprovação daquele que reputo um dos projetos mais importantes do parlamento gravataiense: a lei da transação, que chamei ‘Lei Dila’, por ter sido apresentada pelo vereador, e já resgatou para a Prefeitura quase 20 milhões na troca de dívidas de empresas pela execução de obras e serviços públicos.
Dila, que tinha sido o menos votado entre os 21 eleitos em 2020, com 957 votos, nesta eleição foi o 13º entre os eleitos, com 1.793, o que o fez o vereador mais votado do partido na região metropolitana.
– Trabalho quatro anos fazendo política, não só oferecendo cargos em véspera de eleição, penso na montagem do partido como prioridade e não em minha própria reeleição, e tenho palavra – é a fórmula de Dila, para ser ‘o montador’.
Provas de lealdade não faltam.
A principal, em 2017. Quando foi cassado o registro da chapa Daniel Bordignon-Cláudio Ávila, vencedora da eleição de 2016, Dila se manteve fiel a Anabel Lorenzi na eleição suplementar do ano seguinte.
Inclusive, negando ofertas de um mundo de facilidades, foi o candidato a vice da então terceira colocada, após Dr. Levi, que tinha sido o quarto lugar, desistir do posto para apoiar a reeleição de Marco Alba.
Foi também líder do governo Marco Alba quando o ex-prefeito experimentava baixa popularidade por, sem caixa para investimentos, encarnar ‘o exterminador de dívidas’, e, ao organizar a campanha de Levi a prefeito, um ano antes, em 2015, entregou todos os cargos que tinha na Prefeitura.
Também foi líder do atual governo no momento de maior tensão da III Guerra Política de Gravataí – Zaffa x Marco, pós Abílio x Oliveiras e Stasinski x Bordignon –, conseguindo, por exemplo, articular a aprovação de R$ 100 milhões em financiamentos.
Ao fim, são os fatos, aqueles chatos que atrapalham argumentos: Dila, o ‘montador de partidos’ (e neste artigo não analiso a orgia político-ideológica do Brasil das 35 siglas), é um dos grandes vencedores da eleição de 2024.
Quem acompanha a política da aldeia sabe que sua chance de reeleição era tratada com deboche por políticos de governo e oposição.
Lembra-me ‘Herói Incômodo’, do Millôr: “Diante do herói incômodo, só resta um recurso – fuzilá-lo e erguer-lhe um monumento”.
Só que, no caso, após o fuzilamento-amigo, o monumento foi o próprio Dila quem montou.
LEIA TAMBÉM
#DasUrnas | Zaffa foi reeleito porque faz um bom governo em Gravataí, e mais
#DasUrnas | Marco Alba foi ‘vítima’ do que construiu – e bem. Ou: Pelé errou o pênalti