No #DasUrnas, siga análises sobre quem ganhou, quem perdeu, quem empatou e os números da eleição de 2024.
Com a reeleição da vereadora Márcia Becker (PSDB), o bem-estar animal segue com representação na Câmara de Gravataí, mas as urnas evidenciam que o bom trabalho pela causa não é a garantia de votos que muita gente pensa.
O entendimento do eleitor sobre a suposta obrigação dos protetores faz perder votos, inclusive. É o ‘chama a ONG’, ‘chama a vereadora’, ‘chama a Prefeitura’, que o problema – no caso o animal – sumirá dos olhos, corações e mentes.
Nas eleições de 2024, Márcia recebeu 2.102 votos e foi a oitava mais votada. Em 2020, tinha sido eleita em segundo lugar, com 2.573 votos. São 471 a menos.
Fosse Márcia um dos tantos oportunistas que são eleitos prometendo trabalhar pelos animais e durante o mandato nada fazem além de ações instagramáveis, ok. Mas não. Foi ela, como chamo, a ‘vereadora da causa animal’ pelos quatro anos, seguindo um trabalho que já fazia desde a infância e, no poder, atraindo até antipatia para governos que participa por manter bandeiras como a crítica aos rodeios.
E, em um momento em que Gravataí teve os maiores investimentos no bem-estar animal, com a ampliação no governo Luiz Zaffalon dos atendimentos que fazem da unidade de saúde animal (Usag) uma das maiores clínicas públicas do Brasil.
Para se ter uma idéia, são realizadas em média 1,2 mil castrações por mês, além de consultas e cirurgias, muitas necessárias após o resgate de animais atropelados. Somam-se o resgate de cães, gatos, cavalos e aves vítimas de maus-tratos, entregues a fiéis depositários com termos policiais registrados, além de animais silvestres, entregues a serviços conveniados.
Há, ainda, um trailer que faz a captura, castração e devolução de animais que vivem em áreas de vulnerabilidade social, como Jobim, Vila rica, Xará, Princesa, Vila Neila e Arinos, usando modelo utilizado na Europa de, após os cuidados pós-operatórios, e em caso de não ocorrer adoção, devolver o animal ao cuidado comunitário, sem aprisionar em canis.
Foi Márcia também a idealizadora da lei que, após um período de transição até novembro de 2023, hoje proíbe a exploração animal em carroças, além de projetos que se tornaram leis que proíbem fogos de artifício com estampido; animais presos em áreas de risco de catástrofes naturais e que impõe regras para quando existe a necessidade para cães ferozes; de prender algum (feroz, casa sem cerca, tratamento) ou que permite animais de pequeno porte em transporte público.
Para além do trabalho junto ao governo Zaffa, Márcia ainda acolhe mais de 300 animais no sítio onde mora.
– Faço resgates todos os dias, o ano inteiro. Cuido e trato de todos sozinha. Não tenho voluntários, funcionários ou ajuda, nem na limpeza e nem financeira – diz a gravataiense de 55 anos, que navegou a região metropolitana em barcos durante a enchente de maio e que acolhe não só cães, gatos e cavalos, mas porcos, gambás, ouriços, pássaros, coelhos, cabritos, galinhas, patos e até ratos.
– Infelizmente não tenho como atender todos os pedidos, pois não teria como abrigar tantos. Recebo em torno de cem pedidos de resgates por dia, muitos de mais de um animal – conta.
– Talvez se eu resgatasse todos teria muitos votos, mas não daria nenhuma qualidade de vida aos animais – conclui.
Aí chegamos ao ponto que antecipei na abertura do artigo: quando a causa animal tira votos. Como também sou ativista, resta-me lugar de fala para atestar.
Você arruma um inimigo ao não dar um jeito nos cães idosos que, após a morte da vovó, a família quer jogar na rua; você tem um hater na rede social se não vai buscar um cãozinho que cresceu demais, ou o gatinho que provoca alergia no nenê, e as famílias não querem mais, e por aí vai – com um curioso aumento dos pedidos no período de férias.
Ao fim, reputo a boa notícia é que Gravataí mantém representante do bem-estar animal na Câmara. Márcia é uma vereadora necessária para a causa coletiva, não só pelas suas ações práticas e articulação com o governo, mas também para lutas de conscientização que por vezes demoram décadas a se assentar no cotidiano das sociedades – para ficar em alguns exemplos de pouco mais de uma década: lembram a polêmica que causava um governo investir no bem-estar animal? Lembram que animais eram explorados em circos? Lembram que animais mal existiam no Código Penal? Lembram que animais recolhidos das ruas pela ‘carrorinha’ eram mortos?
Mas, arrisca Márcia, se concorrer à reeleição em 2028, perder mais votos. Afinal, são os Humanos, não os Animais, que vão às urnas.
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