coluna da jeane

De volta à aldeia

Jeane Bordignon é jornalista e poeta, autora do livro ’Brado Carmesim’

Em setembro de 2014, resumi minha vida em 3 malas e entrei pela primeira vez em avião, embarcando para aquela que foi até agora a maior aventura da minha vida: morar no Rio de Janeiro. Entre uma temporada nos arredores da famosa Lapa e outra na Madureira cantada pelo Arlindo Cruz, passei cinco anos e alguns meses na Cidade Maravilhosa. E a cidade faz jus ao título, é encantadora e apaixonante. Também faz jus ao verso da Fernanda Abreu: “território da beleza e do caos”. Mas isso é assunto para outra coluna. Porque desde dia 2 de março estou de volta para minha querida Aldeia dos Anjos.

Já aviso que não trouxe o coronavírus, juro. Cheguei um pouco antes de ser anunciada a pandemia. Mas por conta dessa situação, ainda não deu pra matar as saudades de vários lugares. Só tenho saído para o essencial, como meus pais são idosos sou eu que faço tudo que precisa na rua: banco, farmácia, mercado. Para evitar ônibus (já sei que os amarelinhos e branquinhos continuam lotados como sempre), tenho feito a pé o caminho entre o Parque dos Anjos e o Centro. São menos de 30 minutos de caminhada e já faço um exercício, né?

E talvez a maior mudança que encontrei na Aldeia foi a tão esperada duplicação das pontes do Parque. Sério, desde que eu nasci eu ouvia falar dessa duplicação, e isso já faz quase 40 anos! Foram décadas evitando a caminhada até o Centro sempre que possível porque era uma aventura atravessar as pontes, que foram construídas sem passagem para pedestres. E quando a gente arriscava, dava aquele frio na barriga cada vez que um carro passava mais perto. Imagina a pessoa ansiosa aqui? Fazia o caminho imaginando que a qualquer momento seria jogada para dentro do arroio. Agora é suave atravessar as famosas pontes!

Quase sempre subo pela rua da garagem dos branquinhos, e lembro q ali perto ficava o Clube Literário do Seu Edílio, que depois era a sede da Agir da Denise e do Max. Ainda é muito estranho saber que não vou mais encontrar a Denise agitando a arte da cidade. Coração chega a apertar… Ando mais um pouco e chego na praça da rodoviária. A primeira vez que olhei para o espaço vazio no lugar da rodoviária, parecia que não era a mesma praça. E ainda não acostumei, não. Só na terceira ida ao centro foi que passei em frente a nossa linda igreja matriz, que naquele dia estava emoldurada por um céu bem azul. Não resisti a fazer uma foto. Outro lugar que precisei fotografar (quase no meio da rua, a doida), foi o Casarão dos Fonseca, sede da Caergs. Adoro esses lugares que contam um pouco da história da nossa aldeia.

Da última vez voltei pela Anápio Gomes, e quando eu me vi quase entre meu querido colégio Dom Feliciano e o prédio do Museu Agostinho Martha, chegou a dar um nó na garganta. Muito carinho por essa parte da minha cidade! Segui em direção ao shopping, outra novidade (não tinha visitado antes de ir embora). Não é um grande shopping, mas pelo menos temos cinema, não é? No caminho passei em frente a Pasmania, e senti o cheiro que marcou minha adolescência e início da idade adulta, quando a pastelaria original, no Parque, era o point da galera. Nostalgia boa!

O centro me parece um pouco mais moderno, mas ainda tem bastante do jeito de interior que eu me acostumei. E se antes já parecia ter farmácias demais, agora consegue ter ainda mais (não é coisa nossa, no Rio também tem uma farmácia a cada dois passos). Tirando as pontes e o shopping, a aldeia não mudou muito. E isso é uma coisa boa, porque aumenta minha sensação de aconchego, de estar em casa. É bom estar volta, Gravataí!

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