Sim, Luiz Zaffalon vai sair do MDB. Está declarada a III Guerra Política da história moderna de Gravataí; pós Oliveiras x Abílio, Bordignon e Stasinski.
O prefeito de Gravataí confirmou em entrevista ao Seguinte:.
– Vou sair para preservar o governo de uma eleição que foi antecipada e, se quiser, ter alguma chance de submeter aos eleitores a reeleição de um governo com 90% de aprovação. Não sou trouxa de achar que no MDB poderia ser candidato – disse o sincericída, referindo-se ao ex-prefeito e seu ‘Grande Eleitor’ em 2020 como dono do partido, ao usar a metáfora de que o MDB é um elevador para apenas uma pessoa, “e essa pessoa já está lá”, restando ele apenas “subir pelas escadas ou encontrar outro elevador”; ou partido, desenhando.
Sente-se Zaffa “desrespeitado” pelo partido por, em sua análise, Marco Alba já estar “em campanha” sem ter conversado com ele.
– Uma coisa é certa. Se tivesse diálogo teríamos um acerto. Mas patrolar é mais fácil. Afinal, até agora funcionou, né? – lamentou.
Recebi centena de mensagens perguntando “é verdade?” após Rosane Oliveira, em GZH, garantir que Zaffa sairia do MDB para enfrentar Marco Alba – prova de que, permitam-me, na política de Gravataí, só quando o Seguinte: confirma, é verdade.
Sábado tinha perguntado a Zaffa sobre o racha, após ouvir relatos de que, em reunião na quarta-feira, teria assustado a bancada do partido com a possibilidade. Disse-me o prefeito, contemporizando, que nos próximos dias embarcaria em viagem oficial aos Açores e no retorno anunciaria sua decisão: apoiar Marco, ou sair.
A ligação de Rosane Oliveira antecipou a III Guerra Política.
– Ela chegou com a matéria pronta. Alguém a informou. Confirmei – disse.
Perguntei a Zaffa se demitiria secretários e CCs do MDB ligados a Marco Alba. Ele deu uma risada.
– Não, não é por aí. Vamos sentar e redefinir os espaços – disse.
Marco Alba não retornou o contato do Seguinte:. Apurei que o MDB prepara nota oficial.
Vamos à análise.
Reputo, tenha todo o direito natural da política de almejar a reeleição, o primeiro desafio de Zaffa é não parecer à sociedade um traidor; não pode o prefeito caber na frase de Brizola, “a política ama a traição e odeia o traidor”.
O próprio artigo de Rosane Oliveira coloca Zaffa como uma criação de Marco Alba, o que é incontestável, já que do 1% que tinha na primeira pesquisa eleitoral chegou aos 51,3% nas urnas – tivesse Gravataí dois turnos, teria vencido no primeiro, já que fez mais votos que os adversários somados.
Reproduzo a abertura da nota.
Não é a primeira vez que a criatura se revolta contra o criador. Ou que um político chamado de “poste” porque se elegeu na carona da popularidade de um prefeito, governador ou presidente, resolve desafiá-lo na eleição seguinte.
Eleito com a bênção de Marco Alba (MDB) em 2020, sem nunca ter concorrido a cargo público, o prefeito de Gravataí, Luiz Zaffalon (MDB), ganhou luz própria e está disposto a enfrentar o “criador” e disputar a reeleição.
“Criador”, “criatura”, “poste”, “carona”, “bênção”… Percebem? Não soubesse do desgosto de Rosane por Marco, poderia ser o próprio a fonte; asseguro: uma impossibilidade.
Precisará Zaffa habilidade para não ser visto como um Stasinski; e aqui guardemos as proporções: o petista cometia um governo desastroso, enquanto o prefeito tem um governo com aprovação de 9 a cada 10 gravataienses, conforme pesquisa encomendada pela Prefeitura.
Aguardemos os efeitos dos passos seguintes e – e da bic – de Zaffa, que parado agora não pode ficar, já que enfrenta aquele que chamo ‘pelé da política’ da aldeia.
Na sessão de ontem da Câmara de Vereadores, Cláudio Ávila e Clebes Mendes fizeram os ataques mais fortes a Marco Alba – Ávila próximo a enquadramento no Código Penal, até.
Serão os pitbulls de Zaffa?
O prefeito já falou de tudo para todos sobre Ávila e o figadal Clebes, após ajudar a reprovar as contas de Marco Alba, fez campanha para Dimas Costa (PSD), adversário de Zaffa na eleição de 2020.
Dilamar Soares, vereador mais próximo ao prefeito, e, por menos atacável, talvez o mais credenciado para ser o Denunciador Geral, preservou-se; ao menos ontem.
Como descerá Zaffa, eleito como um outsider da política, para a planície da política? Inegavelmente é mais chato, e é preciso lavar bem as mãos, para além de anunciar e realizar R$ 200 milhões em obras ter que conversar com os políticos para montar partidos e garantir exército na rua e estrutura de campanha.
O dia de Zaffa já deve ter amanhecido sob essa perspectiva, com gente séria e que gosta dele apoiando sua decisão, mas também com interessados, interesseiros e puxa sacos aparecendo com seus avatares no seu WhatsApp.
Permita-me, amigo Zaffa: bem vindo à política!
Fato é que Zaffa precisará de uma boa narrativa – e tem para aconselhar, seja isso bom ou ruim, o marqueteiro Cleber Benvegnu, da Agência Critério, contratada pela Prefeitura, e que fez a campanha de Luis Carlos Heinze (PP) ao Palácio Piratini, candidato que o prefeito apoiou no primeiro turno e partido que é, por ideologia e também pela amizade de infância com o presidente estadual Celso Bernardi, deve ser seu destino – para diferenciar seu governo do realizado por Marco Alba – também com os mesmos 90% de aprovação; e que, na campanha, apresentou como o melhor dos mundos.
Não é nem uma obviedade da política, é Física, a impenetrabilidade da matéria: dois corpos não ocupam o mesmo espaço; terá Zaffa que explicar para os eleitores no quê é diferente de Marco Alba, já que, em tese, parte dos votos que disputarão são os mesmos. Mau gestor o ex-prefeito não foi – a ‘ideologia dos números’ comprova, goste-se ou não do filho da dona Suely.
Leiam Guerra e Paz, de Tolstói, para compreender. Ninguém é candidato de si mesmo. “A soma das vontades fez a revolução”, está lá, entre as 1255 páginas da primeira parte e às 2528 da segunda; que compartilho.
Toda vez que houve conquistas, houve conquistadores; toda vez que houve uma revolução num país, houve grandes homens”, diz a história. De fato, toda vez que surgiram conquistadores, houve guerras, responde a mente humana, mas isso não prova que os conquistadores foram a causa das guerras e que seria possível descobrir as leis da guerra na ação pessoal de um homem.
Toda vez que eu, olhando meu relógio, vejo que o ponteiro se aproximou do dez, ouço que numa igreja próxima começam a tocar os sinos, mas do fato de que toda vez que o ponteiro marca dez horas os sinos começam a tocar eu não tenho o direito de concluir que a posição do ponteiro é a causa do movimento dos sinos.
Os camponeses dizem que no final da primavera sopra um vento frio porque os brotos do carvalho se abrem, e de fato na primavera sempre sopra um vento frio quanto os brotos se abrem. No entanto, embora eu não conheça a causa de soprar um vento frio quando os brotos do carvalho se abrem, não posso concordar com os camponeses em que a causa do vento frio seja o desabrochar dos brotos de carvalho, porque a força do vento se encontra fora do alcance da influência dos brotos.
Vejo apenas uma conjunção de circunstâncias que ocorre em qualquer fenômeno da vida, e vejo que, por mais que eu examine e por mais minuciosamente que observe o ponteiro do relógio e os brotos do carvalho, não reconheço a causa do ressoar dos sinos e do vento da primavera. Para tanto, tenho que mudar completamente meu ponto de observação e estudar as leis do movimento do vapor, dos sinos e do vento.
O mesmo precisa fazer a história. E já foram feitas experiências sobre isso.
Para o estudo das leis da história temos que mudar completamente o objeto de observação, deixar em paz os reis, os ministros e os generais, e examinar os elementos infinitesimais, homogêneos, que dirigem as massas. Ninguém pode dizer até que ponto é dado ao homem alcançar por esse caminho o entendimento das leis da história; mas é evidente que só por esse caminho se encontra a possibilidade de apreender as leis da história, e nesse caminho a mente humana ainda não aplicou a milionésima parte dos esforços que os historiadores aplicaram na descrição das ações de diversos reis, comandantes militares e ministros, bem como na explanação das próprias ideias acerca de tais ações.
Um comandante em chefe nunca se encontra no início de nenhum acontecimento, condição em que nós sempre encaramos um acontecimento. Um comandante em chefe sempre se encontra no meio de uma série de acontecimentos em curso. De modo imperceptível, minuto a minuto, o acontecimento toma a forma do seu significado, e a cada momento dessa coerente e ininterrupta transformação do acontecimento, o comandante em chefe está no centro de complicadas manobras, intrigas, preocupações, dependências, poderes, projetos, conselhos, ameaças, embustes, encontra-se o tempo todo na necessidade de responder a uma quantidade inumerável de perguntas que lhe são propostas, sempre contraditórias entre si.
Ao fim, não me peçam respostas quando só tenho perguntas; que seguirei fazendo. Certeza apenas que começou a III Guerra Política da Aldeia, como o leitor mais atento do Seguinte: já sabia.