A Polícia Civil do Rio Grande do Sul deflagrou, na manhã desta terça-feira (12), a Operação Plano de Contingência para desarticular um grupo criminoso de atuação nacional, especializado em fraudes eletrônicas em massa. O esquema, que lesou moradores da Região Metropolitana de Porto Alegre, prometia indenizações falsas por vazamento de dados e usava sites clonados do Governo Federal e vídeos manipulados com inteligência artificial (deepfakes) para enganar as vítimas.
A ação foi coordenada pela Delegacia de Repressão aos Crimes Patrimoniais Eletrônicos (DRCPE), do Departamento Estadual de Repressão aos Crimes Contra o Patrimônio (Dercc), e teve apoio das polícias civis de Minas Gerais e São Paulo. Foram cumpridos nove mandados de busca e apreensão e ordens judiciais de bloqueio de contas bancárias e bens nos dois estados.
O golpe: promessa de indenização de R$ 6 mil e “taxa” via Pix
O golpe começava com anúncios patrocinados em redes sociais, nos quais o grupo prometia uma indenização de quase R$ 6 mil por um suposto vazamento de dados pessoais.
Ao clicar nos anúncios, as vítimas eram direcionadas para sites falsos que imitavam com perfeição o portal do Governo Federal. Para dar veracidade à farsa, os criminosos exibiam vídeos falsificados com deepfakes — imagens de figuras públicas que “confirmavam” o direito ao benefício.
Após inserir o CPF para uma suposta verificação, a vítima era informada de que precisava pagar uma pequena taxa via Pix para liberar o valor total da indenização.
O dinheiro, no entanto, era desviado para uma empresa de pagamentos controlada pela quadrilha.
Estrutura tecnológica e lavagem do dinheiro
O gateway de pagamentos usado no esquema era registrado em Mato Grosso, mas controlado por um jovem de 24 anos de Conselheiro Lafaiete (MG), que recebia os valores e os transferia para um comparsa em São Paulo.
O grupo operava com sofisticação técnica: utilizava serviços de proxy e VPN para ocultar a origem dos acessos e das transações, coordenados por outro jovem, de 25 anos, também de Minas Gerais, responsável pela infraestrutura digital do golpe.
Segundo a Polícia Civil, os criminosos criaram um sistema industrializado de fraude, com divisão de funções e canais próprios de distribuição de anúncios fraudulentos.
A investigação: rastreando o dinheiro e os dispositivos
A investigação começou após denúncias de campanhas fraudulentas que imitavam comunicados oficiais do governo. O avanço se deu quando os policiais rastrearam o fluxo financeiro das transações, seguindo o caminho do Pix das vítimas até as contas usadas pelo grupo.
A análise técnica de dados bancários, telefônicos e telemáticos — mesmo com o uso de anonimização — permitiu identificar o operador real das contas e comprovar a centralização das operações em Minas Gerais.
Durante o cumprimento das ordens judiciais, foram apreendidos dispositivos eletrônicos, dois veículos, uma motocicleta e bloqueadas contas bancárias.
Os bloqueios visam garantir o ressarcimento às vítimas, segundo a Polícia Civil.
Idosos eram o principal alvo
A investigação revelou que o grupo mirava especialmente em idosos, muitos com mais de 70 e até 80 anos, considerados hipervulneráveis.
Essas vítimas, ao acreditarem estar diante de um programa oficial, realizavam transferências via Pix de valores entre R$ 20 e R$ 150, acreditando liberar a indenização prometida.
A Polícia Civil calcula prejuízo comprovado de mais de R$ 1,3 milhão, mas estima que o número real de vítimas seja muito maior, já que o golpe circulava em diferentes redes sociais e aplicativos de mensagens.
Polícia alerta para novos formatos de golpe
A operação recebeu o nome “Plano de Contingência” em referência ao modelo de negócio dos principais investigados, que vendiam contas de anúncios e perfis “aquecidos” em redes sociais — um serviço usado para contornar bloqueios e fiscalizações de plataformas digitais.
Essas contas eram revendidas a outros grupos de cibercriminosos e usadas em novas campanhas fraudulentas, ampliando o alcance das fraudes.
O delegado responsável destacou que o caso ilustra uma nova fase dos crimes digitais, marcada pela profissionalização das quadrilhas e pelo uso crescente de ferramentas de inteligência artificial para manipular imagens e sons.
“Essas fraudes se aproveitam da confiança da população nas instituições e da dificuldade de identificar um deepfake. Por isso, é essencial desconfiar de anúncios que prometem benefícios rápidos e sempre conferir os sites oficiais”, alertou a Polícia Civil.





