opinião

Demite daqui, nomeia dali, os ’negócios em família’ da política

Em foto do Facebook, Darci, Douglas e Milene, hoje todos servidores públicos

Não é preciso ir até a Praça dos Três Poderes, 70175-900, ou andar mais cinco minutos até o Senado para encontrar situações análogas ao ‘amigo do amigo do meu pai’ ou o índio mais bem pago – e depilado – da república. Nossas aldeias são céleres. Nossos negócios em famílias não saem de moda entre cortesãos e cortesãs, desde pelo menos o tempo historiografado em que Elias Antônio Lopes cedeu a Quinta da Boa Vista a Dom João.

Olha essa.

Tudo dentro da lei.

Vou pela cronologia (entre parênteses, observe a sopa de letrinhas partidárias – e os números).

Dia 28 de fevereiro, Fernando Medeiros (PDT), presidente da Câmara de Cachoeirinha exonerou (demitiu) o diretor legislativo Sérgio Luis Gouveia. Portaria 090/2019, para quem gosta de recibo. Ganhava cinco mil e poucos reais.

Dia 1º de março Fernando nomeou para o cargo Douglas Lempek da Silva Rosa. Portaria 091/2019. É o filho do prefeito de Glorinha Darci Lima da Rosa (PRB).

No mesmo dia, Darci nomeou Gouveia na Prefeitura de Glorinha, como ‘assessor para assuntos institucionais e legislativos’.

Os ‘casos de família’ tiveram novos episódios no mesmo mês: dia 27 de março o prefeito de Canoas Luis Carlos Busato (PTB) demitiu José Valdoir Pinheiro Vargas Jr. do cargo de ‘assessor especial 2’ e Michele Godoi Menezes de ‘assessora de governo’. Portarias 659 e 662.

No mesmo dia, Darci nomeia os dois para CCs na Prefeitura de Glorinha. Valdoir na Obras, Michele na Fazenda, com salários de quatro mil e poucos reais, semelhante ao que recebiam em Canoas.

Em Canoas, Busato nomeia Milene Lempek da Silva Rosa, para um CC cujo salário custa aos contribuintes a soma dos dois referidos acima: R$ 8.518,00. É a primeira-dama de Gorinha.

O vereador João Soares (PP) fez a denúncia na Câmara de Glorinha:

– É negócio em família, é nepotismo cruzado.

 

Analiso.

Como discurso político, até pega João Soares falar em ‘nepotismo cruzado’, mas a denúncia não encontra guarida na Súmula Vinculante 13, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Ao fim, as nomeações são legais, mas, convenhamos, pegam mal, não? O que não muda nada. Em tempos de Grande Tribunal das Redes Sociais, todos sabem que, mais dia, menos dia, o post aparece. Resta calcular as perdas e os ganhos – no caso, na conta conjunta.

Não serei eu a considerar ‘imoral’, porque a definição de imoralidade não casa com as práticas desde a Corte de há 500 anos até as aldeias de hoje: “(…) contrário à moral, às regras de conduta vigentes em dada época ou sociedade ou ainda àquelas que um indivíduo estabelece para si próprio; falto de moralidade; indecoroso, vergonhoso (…)”.

Pela descrição aureliana, parece exceção, quanto é regra, sabemos.

Para fazer o desempregado rir, reproduzo Millôr:

“Nepotismo e coçar / É questão de começar / Assim que um parente mama / Surgem mil para mamar / Se se contenta Gregório / Pacheco pede ajutório / Todo preto tem seus brancos / Todo João suas Marias / Toda tia seus sobrinhos / Todo sobrinho suas tias / E somos todos parentes / No Brasil das mordomias”.

Quando você gritar por aí “acabou a mamata!”, ou falar em 'meritocracia', não esqueça de um Poupard de Paris na cabeça e uma mão de colete.

 

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