Patrícia Alba (MDB) passou a fazer parte da base formal do governo Eduardo Leite (PSDB) na Assembleia Legislativa. Pelo que o Seguinte: apurou com diferentes fontes, a deputada estadual já não resta mais “independente”, como se apresentava desde o primeiro mandato do governador. A advogada não quis se manifestar. Confirmada, a adesão é uma decisão estratégica, mas que carrega um desgaste inevitável. É da política. Do ‘Ser Político’. Analiso neste artigo.
Reputo a decisão de Patrícia – que, pragmaticamente, sem machismo, também arrasta o marido, o ex-prefeito Marco Alba (MDB) – é estratégica pelo vice-governador Gabriel Souza (MDB) ser hoje o candidato do governo em 2026.
Naqueles símbolos que a política exige, acredito que a confirmação da reaproximação com Gabriel, político que assim como Marco é cria do falecido Eliseu Padilha (MDB), tenha-se dado no jantar na casa do casal em Gravataí, em dezembro, o que já reportei anteriormente.
Patrícia e Marco não apoiaram a reeleição de Leite. Abriram dissidência no MDB e fizeram campanha para Onyx Lorenzoni (PL), em 2022.
Foram linha de frente de movimento que teve também participação do diretório de Porto Alegre. Em 2018, tinham apoiado a reeleição de José Ivo Sartori (MDB), e não ocuparam cargos quando o partido aderiu à base do governo.
Antes, ainda prefeito, Marco travou uma polêmica estadual com Leite, culpando o governador pela perda do investimento de meio bilhão e dois mil empregos do Mercado Livre, o que considerou “pior do que perder a Ford”, no governo Olívio Dutra (PT).
No mandato, se houve alinhamento no enfrentamento da pandemia, e votos majoritários a favor de projetos do governo, Patrícia marcou posição independente, ou para além disso, de oposição, em pautas-bomba apresentadas como fundamentais para o futuro do governo pelo próprio Leite: criticou a privatização da Corsan, o aumento do ICMS (onde foi estrela da Fiergs e da Federasul na crítica ao projeto do governo) e, com um efeito mais local e regional, um pedágio na ERS-118.
Nas críticas ao plano de concessões que previa pedágio na 118 – e também na ERS-020 – Patrícia foi a cola política de uma campanha que reuniu o RS Sem Pedágio e entidades como a Associação Comercial e Industrial de Gravataí (Acigra).
A palavra do governador foi cobrada, por ter assinado na campanha eleitoral documento no qual se comprometia a não pedagiar a rodovia. Patrícia ajudou a organizar audiência pública onde o deputado Rodrigo Lorenzoni (PL) chamou Leite de “mentiroso”.
Na campanha pela Prefeitura de Gravataí em 2024, Leite foi alvo e atirador, na relação com o casal Alba.
(Para contextualizar: o prefeito Luiz Zaffalon, após o rompimento com seu ‘Grande Eleitor’ de 2020, filiou-se ao PSDB pelas mãos de Leite).
Nos debates, Marco criticou Leite. Instigou desconfiança sobre a palavra do governador, inclusive. E Leite, em palanque no comitê central da reeleição do prefeito Luiz Zaffalon (PSDB), alertou para a “volta ao passado”, usando a metáfora de que “reatar com o ex” nunca funciona, em obvia alusão a Marco, ex-prefeito.
Sigamos. É estratégica a decisão de Patrícia porque Gabriel, além de candidato ao Palácio Piratini, vai ser governador por pelo menos oito meses, já que Leite precisará se desincompatibilizar do cargo para concorrer à Presidência da República, ou ao Senado.
Desenhando: Gabriel, do MDB, partido de Patrícia e Marco, terá na caneta as tintas do poder – e no ano eleitoral, em que a deputada disputa a reeleição e o ex-prefeito deve concorrer a deputado federal.
Se resolver não concorrer, Marco também pode ser deputado federal ainda em 2026, caso Gabriel convide um dos hoje parlamentares para compor seu governo, o que também já tratei em artigos anteriores.
Porém, Patrícia experimentará, como nunca ainda, o sabor agridoce de participar do governo Leite. Se terá obras para inaugurar no portfólio da campanha (caso queira estar presente), como a elevada da ERS-118, e a escola mais moderna feita pelo governo estadual no Rio Grande do Sul, no Breno Garcia (onde, junto a Marco, já postou foto ao lado de Gabriel, e articula nos bastidores a construção), também terá que absorver críticas aos serviços da Aegea, a empresa que comprou a Corsan, e legitimar o plano de concessões de rodovias, que se não terá mais pedágio na 118, como o governador já confirmou, deve ter um ‘freeflow’ na 020 – talvez em Gravataí.
Identifico, inclusive, um teste de fidelidade para Patrícia nos próximos dias: o deputado Gustavo Vitorino, do bolsonarismo que será adversário de Gabriel em 2026, colhe assinaturas para a ‘CPI dos Pedágios’. Vai procurá-la.
Inegável é que há desgaste político na aliança Patrícia-Marco-Gabriel-Leite.
Além de compor um governo o qual não queriam eleito, e contra o qual fizeram críticas em momentos decisivos, obviamente também convencendo seus fiéis eleitores a fazer oposição, os Alba estão aderindo a um governo hoje liderado por Leite, que tem em Gravataí um grupo político consolidado em torno do prefeito, Zaffa, e do deputado estadual Dimas Costa (PSD), a quem o governador, em agenda no município, descreveu como seu “embaixador” em Gravataí.
E, hoje, os votos falam, Marco e Patrícia são a principal oposição ao governo Zaffa.
Os 28 anos cobrindo a política da aldeia me permitem prever que, ano que vem, Gabriel terá duas grandes festas em Gravataí, na sua campanha ao Palácio Piratini: uma organizada por Patrícia e Marco, outra por Zaffa e, talvez, Dimas. Juntos, no mesmo palanque, nunca.
Fato é que plot twist assim é da política. Ninguém é governo ou oposição impunemente. Um dia ganha, outro perde. O segredo é achar a medida. Sem nunca, nestes tempos, deixar de sorrir quando ganha um hater, porque isso é a consagração da relevância no julgamento diário e sumário no Grande Tribunal das Redes Sociais.
Ao fim, evoco mais uma vez ‘Ser Político’, verbete genial de Millôr, e entidade que transcende lados da ferradura ideológica, para descrever o Ouroboros que é a política.
Ser político é engolir sapo e não ter indigestão, respirar o ar do executivo e não sentir a execução, é acreditar no diálogo em que o poder fala e ele escuta, é ser ao mesmo tempo um ímã e um calidoscópio de boatos, é aprender a sofrer humilhações todos os dias, em pequenas doses, até ficar completamente imune à ofensa global, é esvaziar a tragédia atual com uma demagogia repetida de tragédia antiga, é ver o que não existe e olhar, sem ver, a miséria existente, é não ter religião e por isso mesmo cortejar a todas, é, no meio da mais degradante desonra, encontrar sempre uma saída honrosa, é nunca pisar nos amigos sem pedir desculpas, é correr logo pra bilheteria quando alguém grita que o circo pega fogo, é rir do sem-graça encontrando no antiespírito o supremo deleite desde que seu portador seja bem alto, é flexionar a espinha, a vocação e a alma em longas prostrações ante o poder como preparação do dia de exercê-lo, é recompor com estoicismo indignidades passadas projetando pra história uma biografia no mínimo improvável, é almoçar quatro vezes e jantar umas seis pra resolver definitivamente o problema da nossa subnutrição endêmica, é tentar nobremente a redistribuição dos bens sociais, começando, é natural, por acumulá-los, pois não se pode distribuir o pão disperso, e é ser probo seguindo autocritério. E assim, por conhecer profundamente a causa pública e a natureza humana, estar sempre pronto a usufruir diariamente do gozo de pequenas provações e a sofrer na própria pele insuportáveis vantagens.
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