Como tenho postado meu diário de viagem com um dia de atraso, decidi acertar isto, hoje, publicando de uma vez o que ocorreu no sétimo e no oitavo dias, mesmo porque, no sábado, meus filhos decidiram convidar a família da minha amiga Tuca para um churrasco (com direito a vários pratos vegetarianos, porque as gurias não comem carne), e não saí o dia todo.
Sábado, a função começou cedo por aqui. Enquanto alguns foram fazer compras no Mercado Santa Clara, outros ficaram em casa, para deixar tudo nos trinques. A Nanda colocou mesas no pátio e arrumou tudo super lindo, e assim que as visitas chegaram, nos acomodamos por lá. Mas logo veio a chuva, que nos fez correr para dentro de casa. Aliás, já havia chovido na tarde anterior, o que é comum por aqui nesta época do ano, e eu já estava até estranhando a falta da chuva.
Depois do almoço, cheios de delícias gaúchas e equatorianas e regado a caipirinha de “naranjilla”, tivemos uma sessão de malabares, jogos de adivinhação e jogos de cartas. E, logo mais, estávamos todos diante da lareira, pois a noite chegou trazendo um frio tremendo.
Hoje, domingo, meus filhos saíram cedo para Ambato, onde estão registrados como eleitores, para participar da Consulta Popular e do Referendo, integrados por sete perguntas que visam alterações de leis ou da Constituição.
E eu sai, lá pelas 9h, para o Centro Histórico de Quito — declarado Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco em 1978 —, pelo qual sou apaixonada.
Trata-se do mais conservado e extenso conjunto arquitetônico da época colonial nas Américas. Conta com 320 hectares, 40 igrejas, 16 conventos e monastérios e cerca de 5 mil imóveis patrimoniados.
Desci do táxi na entrada do Centro e fui caminhando por suas ruas estreitas, a maioria delas com duas placas, onde constam os nomes atuais e os da época da colônia, que, cá entre nós, eram muito mais bonitos.
A Calle García Moreno, por exemplo, chamava-se Calle de las 7 Cruces, porque ali existem, até hoje, sete igrejas, algumas construídas logo após a fundação da cidade, em 1534, no início da colonização espanhola, que se estendeu até 1808.
A Calle Olmedo era conhecida como Cuesta del Suspiro, porque se trata de uma ladeira tão íngreme, que os pedestres chegam a seu ponto mais alto esgotados e suspirando. E o antigo nome da Calle Mideros era Subida del Placer, por motivos óbvios.
Depois de passar pela Igreja de San Blás, segui em direção ao Teatro Sucre, diante do qual está montado um palco, onde ocorrem, todas as tardes, há uma semana, apresentações do XIV Festival Equador Jazz, além das que são realizadas, à noite, em teatros da cidade.
Ao me aproximar, ouvi um som afro-caribenho muito animado e logo fiquei sabendo que o grupo do músico colombiano Elkin Robinson estava passando o som, e fiquei ali um tempão, curtindo.
Depois segui caminhando e parei inúmeras vezes para apreciar igrejas, monastérios e outras edificações da época colonial.
A Plaza Grande, em cujo entorno ficam a Catedral Metropolitana, o Palácio Presidencial, o Palácio Arcebispal e a Prefeitura, estava lotada de gente e havia muitos policiais por lá, em função da Consulta Popular e do Referendo.
Como de praxe, nestas ocasiões, a Lei Seca começou 48 horas antes e, a partir de então, nenhum estabelecimento pôde vender ou servir bebidas alcóolicas, o que tem uma fiscalização muito rígida por aqui, pois o consumo excessivo de álcool está arraigado à cultura equatoriana e é um dos principais problemas sociais e de saúde pública do País.
Quase terminando meu passeio, decidi visitar o Mercado de San Francisco, o mais antigo de Quito, fundado em 1893, que é bastante limpo e organizado atualmente.
Chama a atenção, nesse mercado, o espaço destinado à medicina ancestral e natural. Ali são vendidas ervas aromáticas e incensos em doze postos atendidos por curandeiras, que anunciam que podem te livrar de espanto, “mal de ojo” (mau olhado) e vários outros males.
Dali, subi várias quadras mais, em direção ao São Roque, um mercado atacadista e varejista imenso, onde mais de 3 mil pessoas trabalham como comerciantes, carregadores, debulhadores e artesãos todos os dias do ano, com exceção do 1º de janeiro.
No caminho, ao ver que me dirigia ao São Roque, uma indígena me alertou: “Con cuidado irás!”, e me agarrei bem a minha bolsa, para não correr o risco de ser vítima de algum descuidista, que, segundo contam, abundam naquela região da cidade.
Na verdade, não vi nada que me fizesse ter medo por lá, mas não consegui ficar muito tempo na área coberta e nas ruas do entorno do Mercado, onde vende-se absolutamente tudo o que se possa imaginar, pois o movimento era tão grande que me sentia como em um ônibus lotado.
Então, peguei um táxi e voltei correndo para casa, onde, lá pelas 14h, chegaram meus filhos, de volta de Ambato, e almoçamos com um riquíssimo suco de badea, uma fruta que trouxeram de lá, que eu nunca tinha visto ou provado. A variedade de frutas que há neste país é incrível…
Depois, passei a tarde de papo furado com as gurias, enquanto a Nanda acompanhava, pela Internet, os resultados da votação, que até agora não está encerrada. Gostei de saber, a propósito, que vários homens que deviam pensões a suas mulheres foram presos assim que se apresentaram para votar.
Amanhã tem mais!
O álbum de fotos:
: Igreja do Monastério de El Carmen Bajo
: Igreja do Monastério de El Carmen Bajo
: El Carmen Bajo
: Jardim da Casa Cangotena, hotel
: Casa Gangotena
: Catedral Metropolitana de Quito e Plaza Grande
: Catedral Metropolitana de Quito
: Palácio Presidencial e Plaza Grande
: Plaza Grande
: Plaza Grande
: Prefeitura de Quito e Plaza Grande
: Frederica e Carla
: Frederica experimentando a caipirinha de naranjilla
: Jogos de adivinhação
: Laura, namorada do Bruno, preparando espetinhos especiais para os vegetarianos
: Mais da churrascada em família e com amigos
: Nanda e Freddy
: Paulinho e Javiera fazendo malabares
: Centro Cultural Metropolitano
: Centro Cultural Metropolitano
: Centro Cultural Metropolitano
: Curandeira do Mercado São Francisco
: Igreja de San Blas
: Igreja de San Blas
: Igreja de San Blas
: Igreja El Carmen Alto
: Igreja El Carmen Alto
: Igreja La Compañía
: Igreja La Compañía
: Museu del Carmen Alto
: Passagem de som Festival Quito Jazz
: Teatro Nacional Suce
: Vista urbana de Quito