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E a Câmara de Gravataí institucionalizou o palanque para ’candidatos de estimação’; Resta homenageado constrangido

Vereador Thiago De Leon | Foto JOÃO FLORES DA CUNHA | CMG

O diabo sabe não porque é diabo, mas porque é velho, diz aquela máxima. 25 anos cobrindo política alguma coisa me permite antever. Alertei o autor Thiago De Leon (PDT), mas resta o constrangimento da aprovação com voto contrário, abstenções e ataques a proposição e ao homenageado, deputado federal Afonso Motta, na aprovação de seu título de cidadão honorário, maior honraria da Câmara de Gravataí.

Os vereadores Clebes Mendes (MDB) – que tinha proposto a homenagem ao deputado estadual Juvir Costella (MDB) – e Cláudio Ávila (PSD), que homenagearia o deputado federal Danrlei de Deus (PSD), aos quais estendi crítica e elogio nos artigos A Câmara de Gravataí não é palanque: vereador, retire título de cidadão para seu candidato de estimação! e Câmara de Gravataí não é palanque: vereador retira título de cidadão para candidato de estimação; Dois ainda avaliam, retiraram as proposições.

Thiago manteve o título de cidadão e testemunhou na sessão de hoje a aprovação com 13 vereadores favoráveis, 7 abstenções e um voto contra.

Votaram a favor Anna Beatriz da Silva (PSD), Áureo Tedesco (MDB), Bombeiro Batista (PSD), Carlos Fonseca (PSB), Claudecir Lemes (MDB), Cláudio Ávila (PSD), Clebes Mendes (MDB), Demétrio tafras (PSDB), Fábio Ávila (Republicanos), Fernando Deadpool (DEM), Márcia Becker (MDB), Mário Peres (PSDB) e Thiago De Leon (PDT). Se abstiveram Alex Peixe (PTB), Alison Silva (MDB), Bino Lunardi (PDT), Paulo Silveira (PSB), Policial Federal Evandro Coruja (PP), Roger Correa (PP). 

O voto contra foi de Dilamar Soares (PDT), colega de partido de Motta, mas em processo de expulsão, assim como Bino.

Dila, que apesar de já ter proposto a honraria para o hoje prefeito afastado de Cachoeirinha Miki Breier (PSB), e neste ano ao ex-vereador Jarbas Tavares da Silva, é o ‘terror’ dos títulos de cidadão: votou contra as homenagens para o ex-prefeito Daniel Bordignon (PT) e para o hoje vice-prefeito Dr. Levi (Republicanos), criticando o uso eleitoral da honraria.

Mas essa foi a justificativa mais leve para seu voto contra na sessão desta noite.

– Essa casa é sagrada, não pode ser usada como palanque – disse.

Foi ficando pior.

– Tenho como critério votar a favor de homenagens para quem veio morar em Gravataí e fez algo relevante. Não vejo contribuição do deputado.

O golpe final foi Dila acusando Motta da prática não ilegal, mas moralmente questionável, de permitir um troca-troca de cargos entre a Câmara Federal e a Câmara de Cachoeirinha.

– Em um dia assessor do deputado foi exonerado e assumiu gabinete de vereador. No dia seguinte a esposa do vereador foi empregada no gabinete do deputado – contou.

Com as portarias de nomeação na tela do celular, o parlamentar se referiu à triangulação de CCs entre Mota, o ex-vereador de Gravataí José Amaro Hilgert (PDT) e ao vereador de Cachoeirinha Fernando Medeiros (PDT).

– Essa prática minha régua não permite. Não estou na política para engordar renda familiar – criticou.

No discurso forte, não faltaram insinuações à direção do PDT e a De Leon, ligado aos grupos que pediram sua expulsão e do vereador Bino Lunardi pelos votos favoráveis à Reforma da Previdência de Gravataí.

– Aprendi na política a não tolerar falso bom moço, do discurso bonitinho e prática diferente – disse, dois minutos após Thiago confidenciar que Dila se nega a conversar com ele.

– Voto contra esse título de cidadão. A Constituição garante respeito ao voto dos vereadores – concluiu, obviamente se referindo à decisão do TSE que garantiu o mandato à Tábata Amaral e outros deputados que votaram a favor da Reforma da Previdência nacional e também eram, como ele, alvo de expulsão.

Além de Dila, outros vereadores criticaram a homenagem de De Leon.

– Agradeço aos vereadores que retiraram para evitar expor a casa – disse o líder do governo, Alison Silva (MDB).

– É uma exposição desnecessária da Câmara. Precisamos incluir no Regimento Interno essa proibição próxima aos anos eleitorais – disse Alex Peixe (PTB).

– Votei a favor de títulos de cidadão para Marco Alba, Bordignon, Miki e Levi porque são pessoas com legado na cidade. Não se trata de gostar ou não dos políticos, mas sim por respeito à representatividade. Não é intenção ser contra alguém, mas o deputado não tem história em Gravataí – disse Paulo Silveira, alertando para o risco de desacreditar a homenagem ao ser apresentada em véspera de eleição:

– Acaba por constranger os demais que receberão justamente a homenagem. Imagine se a vereadora Anna (Beatriz da Silva) propusesse título de cidadão ao marido, Dimas (Costa), que é candidato ano que vem? Ele tem legado, mas não seria o momento.

A crítica foi feita inclusive por um vereador que votou favorável, Cláudio Ávila (PSD):

– Por um acordo tácito para preservar a Câmara retirei o título para o Danrlei, que já encaminhou 6 milhões em emendas, principalmente para a Santa Casa. Gostaria de homenagear o Dimas, o Bordignon, o Lula, mas preferi evitar o constrangimento por ser um momento pré-eleitoral. Votarei favorável em homenagem ao vereador, não ao deputado, que não tem nenhuma vinculação com a cidade.

A defesa feita por De Leon foi do tímida.

– É uma pessoa séria, ilibada, um exemplo do trabalhismo. Me ensina muito a ser parlamentar. E encaminho emenda de R$ 100 mil para saúde de Gravataí – disse, citando a única relação com a cidade inclusa na justificativa do projeto de título de cidadão.

Ao fim, aconteceu o que alertei. O obvio ululante. Resta o homenageado constrangido.

Motta vai receber a honraria em um parlamento onde 40% não votaram a favor e alguns possivelmente sairão do plenário.

E onde foi alvo de críticas plausíveis, já que deve ter passado mais por Gravataí pela Freeway para ir para praia.

Conclui assim o artigo Câmara de Gravataí não é palanque: vereador retira título de cidadão para candidato de estimação; Dois ainda avaliam: “… Costella, Motta e Danrlei não tem culpa. Suas biografias não são reprováveis. E há tipos suspeitos com título de cidadão de Gravataí. O que reputo inaceitável é institucionalizar a Câmara de Gravataí, quarta economia gaúcha, como um palanque para candidatos de estimação…”

Fatos, aqueles chatos que atrapalham argumentos: 13 vereadores institucionalizaram a ‘Câmara-Palanque’. Que moral terão para votar contra homenagens políticas no ano eleitoral de 2022 ou 24? Preparem-se.

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