David Almansa é o pré-candidato de consenso do PT para a Prefeitura de Cachoeirinha. O vereador em segundo mandato, que com 20 mil votos ficou em segundo lugar na eleição suplementar de 2022 na qual foi eleito Cristian Wasem (MDB), conseguiu na unidade do partido um feito histórico.
Cubro política na região desde 1996 e nunca vi o PT definindo uma candidatura de consenso um ano antes da eleição. Históricos do partido com os quais conversei também não. Entre os petistas do município sempre valeu aquela provocação de Frei Betto sobre prisões na ditadura, de que “a esquerda só se une na cadeia”.
O Seguinte: ouviu Almansa, que neste sábado, na Câmara de Vereadores, das 9h às 17h, começa as reuniões para elaborar um plano de governo, ao lado de PCdoB, PV e PSOL e com a presença do ex-governador Olívio Dutra, da deputada estadual Laura Sito e do vereador de Porto Alegre Pedro Ruas.
Siga os principais trechos da entrevista com o sociólogo de formação.
Seguinte: – Como se chegou a uma unidade que é histórica no PT de Cachoeirinha?
Almansa – Há um amadurecimento das lideranças do PT, uma consciência de que não somos apenas mais um partido que disputa eleições, e sim temos responsabilidade com virar a chave de Cachoeirinha. Ou apresentamos unidos um projeto de transformação social, ou permitimos o avanço de políticas autoritárias que conseguimos enfrentar com a eleição do presidente Lula. A escolha de meu nome levou em conta o compromisso histórico com o partido, a fidelidade com pautas históricas e, também, a aprovação nas urnas, o reconhecimento à minha liderança pela população na última eleição.
Seguinte: – No que és diferentes do grupo que está no governo, ou de gestões anteriores?
Almansa – Vemos a máquina pública por outra lógica: a Prefeitura tem que servir às pessoas e não somente aos interesses políticos. Por exemplo: o prefeito anunciou um hipotético programa de pavimentação, mas a população não participou da escolha das obras, das ruas. Tudo foi definido por sua base de governo, que pensa prioritariamente na reeleição, em manter os mandatos. Queremos afastar a politicagem e resgatar a política, que significa o povo participando das decisões. Quando falo em participação popular, não é voltar aos anos 90, é adaptar ao século XXI, às novas configurações da sociedade, à tecnologia.
Seguinte: – Como governar sem a ‘República de Vereadores’, que historicamente faz dos governos ‘rainhas da inglaterra’ em Cachoeirinha e, guardadas as proporções e o tamanho político de Lula, também obrigam o presidente a concessões e negociações por cargos e verbas?
Almansa – Sou um estudioso da democracia, sei que as coisas não mudam da noite para o dia, mas é preciso começar a mudar esse processo. O primeiro passo é apresentar um projeto nítido, transparente e público, e fortalecer mecanismos de controle social, como os conselhos municipais. Hoje o bastião que sobrevive é o Conselho de Educação. O governo destitui e aparelhou o Conselho de Saúde, o Conselho da Criança e Adolescente nós vimos o que aconteceu na eleição para o Conselho Tutelar, onde até hoje descumprem ordem judicial do Tribunal de Justiça, além do Conselho do Plano Diretor, que é uma vergonha sob influência do governo. A participação popular tira o peso da dependência legislativo. Mas vejo diferenças com Lula. O Congresso tensiona, mas debate projetos. Aqui na Câmara existe uma simples divisão de poder e cargos. Muitos votam com o governo sem ler os projetos. O ‘bonde dos cargos’, por exemplo, foi aprovado desrespeitando a Lei de Responsabilidade Fiscal. É preciso lembrar sempre que o prefeito é oriundo dessa ‘República de Vereadores’.
Seguinte: – Até onde vai a política de alianças do PT?
Almansa – Seguimos o mestre Luiz Inácio Lula da Silva. O país está polarizado e trabalhamos para resgatar também o centro democrático de cooptação pela extrema direita. É um desafio da esquerda democrática voltar a ter influência sobre o centro, mesmo àqueles que não estiveram conosco. Vamos dialogar com todos os partidos da base do presidente Lula.
Seguinte: – Que são praticamente todos.
Almansa – É claro que há particularidades da cidade. Mas o Cidadania, federado com o PSDB, o Solidariedade e o União Brasil são oposição ao atual governo municipal. Queremos também conversar com partidos que nos últimos anos foram aliados ao poder, que entendemos estando na chapa conosco, em um governo nosso, poderão ter mais protagonismo em suas pautas históricas, como o PDT e o PSD, por exemplo.
Seguinte: – Foste um dos principais críticos aos governos Miki e Stédile. Há conversas com os ex-prefeitos?
Almansa – Não temos nenhuma aproximação com o ex-prefeito Miki. Acho que ele deve se dedicar a se defender nos processos que responde e a justiça vai julgar, e não ter influência na eleição. Com o PSB há uma aproximação se consolidando no Rio Grande do Sul.
Seguinte: – Lula ajuda ou atrapalha a candidatura em Cachoeirinha? No segundo turno Bolsonaro recebeu 58,56% dos votos, Lula 41,44%.
Almansa – Lula ajuda e ajuda muito. Está bem avaliado em Cachoeirinha, a população já sente no dia a dia as mudanças na economia, na redução do endividamento das famílias, na volta de programas que marcaram a vida das pessoas e em novas ações. Cachoeirinha terá uma oportunidade de se alinhar ao governo federal, devolver o pobre ao orçamento, construir uma cidade sustentável. Uma de nossas principais pautas e o Instituto de Educação. Queremos retomar as obras paralisadas em escolas infantis, mas não para entregar um pavilhão como a Chico Mendes, que não merecia essa questionável homenagem. Vamos construir escolas modelo, teremos projetos para aderir ao PAC.
Seguinte: – Aposta num ‘GreNal’ em 2024, apenas com tua candidatura e a do prefeito?
Almansa – Vemos a liderança do vice-prefeito cada vez mais diluída nessa sua associação ao prefeito. Há um contraste entre os dois. Para ser referência no campo da direita, o vice terá que alçar voo. Mas trabalhamos com uma disputa polarizada, com nossa candidatura enfrentando o governo. Trabalhamos para unir o campo de oposição.
Seguinte: – Já prestaste depoimento na Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa denunciando ter sido vítima de ameaças. Temes por isso na campanha à Prefeitura?
Almansa – Nos preocupa muito. Desde já trabalhamos para impedir o uso da máquina pública na eleição, como aconteceu ano passado com o uso de agentes de trânsito. Temos mensagens de Whats, provas que vamos entregar judicialmente. Também temos diálogo com o Ministério da Justiça para observar a eleição em Cachoeirinha, para que a violência não seja usada na campanha pelo prefeito e seus aliados.