Eduardo Leite estuda transferir aos municípios a decisão sobre as bandeiras no Distanciamento Controla do Governo do RS. O Estado indicaria a cor – amarela, laranja, vermelha ou preta – e os prefeitos teriam autorização para seguir ou não. Politicamente, é uma jogada de esperteza, tanto que a ideia partiu de políticos aliados. Para o interesse público, é um desastre sanitário. Corre o risco das decisões tomadas até agora, e embaladas acadêmica e tecnicamente pelo governador, serem influenciadas pela universidade do grito.
Como já tratei em uma série de artigos, o distanciamento é fake, é lei vampeta: uns fingem que fecham, outros fingem que fiscalizam, porque se depender do governo federal CPFs morrem de fome e CNPJs de falta de ar com a chega dos boletos a cada fim de mês perpétuo!
Gaúchos não são suecos, e mesmo que fossem não seria suficiente, já que o país nórdico tem proporcionalmente mais infectados e óbitos pela COVID-19 do que os vizinhos Suécia, Noruega, Dinamarca, Finlândia e Islândia. Porém, cultura e disciplina à parte, reputo o gaúcho como o melhor entre os piores sistemas de isolamento social aplicados no país – e os índices de contágio e letalidade do RS comprovam.
Repassar aos prefeitos vai bagunçar ainda mais. O modelo restará sujeito às pressões políticas, comunitárias e empresariais locais, em um ano de eleição, em que muitos políticos são candidatos à reeleição, ou tem candidatos à sucessão que dependem da popularidade do governo.
Caso passe o ‘Decreto Pilatos’, resistirão Marco Alba, em Gravataí, e Miki Breier, em Cachoeirinha? O gravataiense já recorreu uma vez da bandeira vermelha e desistiu. O cachoeirinhense apelou duas vezes e recuou. A alta mortalidade e a explosão no contágio, de mais de 400% em 10 dias, como tratei em Em 10 dias, Gravataí e Cachoeirinha tem mais casos do que em 4 meses de pandemia, envergonharia qualquer governante a apenas dar satisfação aos insatisfeitos, que foi o que fizeram nos recursos, já que a proximidade da lotação das UTIs nos hospitais de referência não indicavam um mínimo de chance de retorno à bandeira laranja.
Mesmo fazendo o certo para a grande maioria, como mostraram as pesquisas Gravataí aprova medidas de Marco Alba na pandemia e Pesquisa mostra aprovação a medidas de Miki na pandemia; siga na íntegra, publicadas pelo Seguinte:, Marco Alba e Miki Breier tinham sempre a proteção do 'espantalho' do governador, ao menos até a última troca de bandeiras, neste sábado, o responsável final por ‘brincar de colorir o mapa’, como dizem os críticos, desinformados ou informados do mal.
Neste cada-um-por-si-e-cloroquina-pra-todos, o Brasil já comete, não apenas na opinião deste jornalista em Nem com COVID 19 Bolsonaro ajuda; fãs já morreram em Gravataí e Cachoeirinha, mas nas palavras de um ministro da Suprema Corte, Gilmar Mendes, um “genocídio”, com 73.161 mortes e 1.895.555 infectados em dados desta terça, e contando. O Ministério da Saúde não passa de um almoxarifado comandado pelo Recruta Zero, sem nenhuma articulação com estados e municípios. Lavando as mãos, Eduardo Leite infectaria aqui no RS, que cresceu o contágio em 72% nos últimos 7 dias, o que ainda resta de integração no combate à pandemia.
Ao fim, que o governador não aceite a sugestão e siga decretando as regras sanitárias, já minimamente cumpridas. Caso seja contagiado pela política, já deixo meu apelo aos prefeitos Marco Alba e Miki Breier para que não troquem vidas por votos.
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