Se você não se importa que faltem 10 médicos na periferia de Gravataí, nem leia o artigo, ou vai gastar ainda mais as teclas c-o-m-u-n-i-s-t-a, p-e-t-r-a-l-h-a ou m-i-m-i-m-i ao servir de milícia para Guerra Ideológica Nacional travada no Grande Tribunal das Redes Sociais.
Vamos aos fatos, aqueles chatos que atrapalham argumentos pré-concebidos – o que apresento por dever jornalístico, não por prazer em ser portador de más notícias, secar governo ou pobre.
Nada mudou no ‘Mais Médicos’ em 2019, após a saída dos ‘escravos’ cubanos. Como relatei no artigo Médicos não querem trabalhar na periferia de Gravataí, publicado em dezembro no Seguinte:, o escalte de hoje é o mesmo da semana entre o Natal e o Ano Novo: apenas 10, dos 18 profissionais inscritos se apresentaram para trabalhar em bairros pobres, que perderam 5 mil atendimentos mensais nas unidades de saúde da família.
Para piorar, após chamamento do prefeito Marco Alba (MDB), apenas três concursados aceitaram assumir as funções pelas mesmas 40h – com cartão-ponto – e salários semelhantes aos R$ 15 mil do programa federal que garante também auxílios moradia e alimentação. Um dos poucos que procuraram a Prefeitura exigiu trabalhar no Centro, para compatibilizar os horários com o consultório e o hospital Dom João Becker. Ao saber que a vaga era para a USF Águas Claras, que estava sem médicos após a saída de duas cubanas, abriu mão da nomeação.
Impedido de fazer contratações emergenciais devido a um termo de conduta proposto pelo Ministério Público, o secretário da Saúde Jean Torman lança na próxima semana edital para contratar empresa para novo concurso no mês de março.
– Está cada vez mais difícil contratar médicos. O mercado da medicina é muito competitivo e os profissionais avaliam que os salários públicos não compensam. Salvo raras exceções, mas os médicos geralmente querem conciliar o serviço público com o privado, e o município precisa cumprir a lei e exigir o cumprimento da carga horária. Estamos fazendo o possível, mas há falta de médicos sim – explica o secretário.
Nesta semana, a coordenadora nacional do Mais Médicos, Mayra Pinheiro, que em 2013 vaiou a chega dos cubanos, anunciou que o governo Jair Bolsonaro vai encerrar o programa. O que será feito para suprir a falta de atendimento país afora, não se sabe. Até agora, ficou apenas discurso bonito da posse o aceno do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, de convocar os cerca de 4,5 mil médicos militares para atuarem nos grotões e lugares mais distantes.
O que, para Gravataí, não mudaria nada.
Jean Torman também não acredita na criação de uma carreira federal para os médicos, reivindicação da categoria desde que Dilma Rousseff era a vilã dos jurados de Apolo, Esculápio, Hígia e Panacea.
– Hoje um médico terceirizado é pago por hora trabalhada e, em caso de falta, substituído em 60 minutos. Criar uma nova classe de funcionários públicos me parece uma coisa anacrônica – argumenta.
No artigo Só metade dos médicos apareceram em Gravataí; calma, há esperança, escrevi no Seguinte::
"(…)
Acalmem-se os sempre nervosos, os indícios são de que, se não em Calabaço, no Ceará, que nunca tinha visto um médico antes da chegada da escrava cubana que atendia lá, Gravataí logo preencha as vagas que ficaram em aberto.
Não sou secador de pobre, então, de verdade, não vejo a hora de, quem sabe em 10 dias, postar a manchete: “Médicos brasileiros já substituíram todos os cubanos em Gravataí”.
(…)".
Infelizmente, quase 15 mil atendimentos a menos depois, não foi desta vez que as Marias, Joões e Cauãs, patriotas ou não, conheceram novos ‘doutores e doutoras’.
Está cada vez mais difícil essa manchete se tornar realidade. Fato é que hoje, em Gravataí, para os pobres é ‘menos médicos’.
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