Uma divagação fortuita sobre a eleição americana e o que temos a ver com isso tudo. Siga o artigo do jornalista Róbinson Gambôa
A eleição americana de Trump não costuma atrair o interesse de muitos brasileiros. Temos sempre essa impressão de que se trata de algo distante da nossa realidade. No entanto, não é difícil observar que há muito em comum com a polarização que vivemos por aqui também. Essa dicotomia entre dois extremos que nos faz refém desde a redemocratização nos anos 80.
A vitória de Trump deixa clara a intenção dos americanos em permitir e promover um revezamento no poder, como tem sido,uma vez pra cada um. O pão repartido de forma igual entre os filhos, um traquejo cristão que evita injustiças. Tem sido assim nesse rodízio da História, com Bush, Obama, Trump, Biden e, agora, novamente a bola da vez com os conservadores, que lá usam o nome republicanos, o coração da direita no mundo.
O eleitor escolheu Trump porque enxerga sua amena crise econômica como fruto de um desgoverno dos democratas. Não consegue avaliar o contexto mundial com duas guerras em fluxo, e se coloca como inatingível.
O combo completo de Trump
Mas Trump é um pacote, um combo completo cheio de efeitos colaterais. Junto com a esperança ingênua de milagre econômico, ele traz consigo o ódio gratuito aos diferentes, os imigrantes, os negros, os gays. Quer expulsa-los, mas, se pudesse, mataria a todos.
A versão tupiniquim da dicotomia americana conhecemos melhor. Bolsonaristas e esquerdopatas estão por aqui, entre nós, e sempre podemos avalia-los de perto. Uns rezam para pneus, juram que a terra é plana e escondem suas perversões atrás da tríade “Deus, Pátria e Família”, que todos sabemos de onde surgiu.
Do outro lado, estão os condenados sem prova. No tribunal de papel, são ladrões, mas não têm patrimônio. Se roubaram fortunas, não possuem nada. Sentenciados por um juiz que logo mostrou seu lado, num arremedo de ministro. O Rei não está nu, como naquele conto inglês do século 19, mas tem quase 80 anos e não possui sucessor à altura.
Um desses novos jovens deputados irrelevantes se vangloriou nesta semana que a Direita consegue produzir muito mais lideranças, enquanto que a esquerda se mantém refém de seu único líder.
Ocorre que nessa terra fértil da ignorância, o capim se prolifera muito mais do que as flores.