O segundo governo de Marco Alba (MDB) chega a sua metade. O Seguinte: foi ouvir o prefeito. Siga a entrevista, feita por cerca de uma hora, onde ele avalia os anos frente à prefeitura, fala sobre o futuro, Patrícia Alba, a sucessão em 2020, a expectativa com os governos Leite e Bolsonaro, 2020, os tempos de Grande Tribunal das Redes Sociais e também sobre a vida e gostos pessoais. Nos links relacionados você também encontra mais detalhes sobre os assuntos tratados
Seguinte: – Com R$ 40 milhões inscritos no Orçamento Municipal para investimentos, 2019 será o melhor ano do governo Marco Alba?
Marco Alba – Será um ano bom. Com uma gestão responsável, chegamos a um momento de contas equilibradas, sem nunca gastar mais do que arrecadamos e pagando em dia R$ 300 milhões em dívidas que parecem eternas. Acredito que as obras de infraestrutura, como a duplicação da Centenário e o loteamento Breno Garcia, além do trevo da 103 e trechos da Artur José Soares, o início das obras das novas pontes do Parque do Anjos, enfim, obras de maior visibilidade, fazem com que a população tenha a percepção de que só agora as coisas estão acontecendo. Mas neste período em que tantos municípios sofrem com a crise, além de salários em dia, antecipamos o décimo terceiro pelo terceiro ano consecutivo, instalamos 318 câmeras num sistema integrado de videomonitoramento, contratamos 45 novos guardas municipais, o que faz com que a Guarda tenha um efetivo maior até que a Brigada, viabilizamos um aporte de R$ 10 milhões nos recursos para o SUS, o que fez a Santa Casa assumir o Dom João Becker com sua excelência em gestão hospitalar e, o que considero o principal, mas que às vezes passa despercebido, porque o que chama atenção é asfalto e prédio, foi atingirmos a maior nota da história da educação básica. Em 2017 o orçamento da educação foi de R$ 205 milhões. Em 2018, R$ 230 milhões.
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Seguinte: – Em anos anteriores, o Orçamento previa dois grandes financiamentos, um internacional do CAF (confederação andina de fomento), de R$ 100 milhões, outro do Banrisul, de R$ 60 milhões, que não foram captados. Por que se mudou a estratégia e se optou por financiamentos menores?
Marco – Bons pagadores, conseguimos todas as certidões negativas para financiamentos, mas optamos por captar recursos que serão pagos dentro dos orçamentos de 2018, 2019 e 2020. Não endividarei a prefeitura. Não acho correto com a população, nem com os próximos gestores. Já adquirimos a usina de asfalto e os financiamentos com o Banco do Brasil pagam na medida em que as obras das pontes e em mais de 30 ruas avançam. Essa engenharia permite que as obras não parem em um 2019 onde os governos estadual e federal, que estão começando, devem impor cortes e fazer menos repasses. Acho que um legado importante do nosso governo será deixar uma régua para a cidade crescer de forma sustentável, para que futuros governantes não façam maluquices.
Seguinte: – Explique essa ‘régua’?
Marco – Uma cidade que não está endividada, que paga suas contas em dia, que tem condições de captar recursos, que investe em segurança e apresenta os melhores indicadores em educação, que reduz a mortalidade infantil, entra no radar dos investidores. É assim que se gera emprego e renda, que o dinheiro circula. Entre 2002, quando começou a retornar o ICMS da GM, e 2012, Gravataí teve um crescimento chinês, de 12%, já descontando a inflação de 4%. A cidade teve um boom imobiliário, mas com todos os passivos que isso traz. São despesas permanentes com mais postos de saúde, mais escolas, por exemplo. Houve um endividamento muito grande. De 2013, quando assumimos, até 2018, enfrentamos uma crise brutal, com recessão e crescimento de não mais de 3%. Com responsabilidade, cortamos gastos e pensamos o orçamento para toda a população, não de forma setorial. Auditamos casa despesa. De veículos locados até horas extras. Em resumo, a ‘régua’ é mostrar na prática que é possível fazer as coisas sem apelar para a lógica do endividamento, o grande problema do setor público Brasil afora. É só ver a terra arrasada em tantos municípios. Em Gravataí reduzimos o endividamento de 56% da receita, em 2012, para 4,5% em 2018.
Seguinte: – Quais os principais planos do governo para 2019?
Marco – É o Plano de Asfaltamento e Recuperação de Vias, que começamos no fim de 2018 e vai até 2020. Nos cinco primeiros anos tivemos dificuldades na infraestrutura, nos momentos de ajustes priorizamos a educação, saúde e área social. Agora o Cuidando da Cidade chegará mais de 30 ruas. A duplicação das pontes do Parque vai unir a cidade, é para lá que Gravataí vai crescer e atrair investimentos, emprego e renda. Estamos revisando o Plano Diretor para cuidar bem disso. Entregaremos 957 vagas em escolas de educação infantil, a UPA da Morada e também um complexo de educação especial, que reunirá alunos do Cebolinha, da Escola Especial para Surdos e um centro de atendimento para educação especial. Avalio essa como a grande obra do governo, junto com a nota do Ideb.
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Seguinte: – Quais foram as boas notícias de 2018?
Marco – Quando ocorreu aquele problema com a série de crimes violentos, agimos junto aos órgãos de segurança estaduais, mas também fizemos nossa parte. Além das câmeras, os novos guardas nas ruas trazem segurança às pessoas no Centro, nos bairros e as estatísticas mostram melhores indicadores. A vinda da Santa Casa é outra grande notícia que, se não foi sentida imediatamente, já será em 2019, quem conhece a gestão do grupo sabe disso. No primeiro semestre o hospital já deve estar habilitado em cardiologia e oncologia, por exemplo. Posso citar também os avanços no Breno Garcia e o trevo na 103, a Centenário, além da maior nota da redução e a menor mortalidade. Entendo que é preciso reconhecer também que a RS-118 avançou e, quem sabe, tenha os trechos de Gravataí entregues no primeiro semestre e, mesmo que um atraso de um ano, já que a concessão teve uma prorrogação, tivemos êxito na luta histórica que é a transferência da praça do pedágio para depois da GM a partir de 2021, além do acesso à Freeway pela Nutrella. Mas o início da duplicação das pontes, como manchete, é o que mais chama atenção. Teremos uma cidade interligada, finalmente.
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Seguinte: – E as más notícias?
Marco – A redução de R$ 12 milhões no retorno de ICMS, os R$ 4 milhões a menos do ISS da Concepa e a liminar do ministro do STF Alexandre Moraes suspendendo a cobrança do ISS sobre cartão de crédito nos municípios, o que nos tirou R$ 7 milhões. Além dos reflexos da crise, que ainda estão aí, na circulação do dinheiro e na geração de empregos. O período de recessão ficou para trás, mas o Brasil não voltou a crescer de forma a movimentar sensivelmente a economia.
Seguinte: – Reforma é substantivo da moda nos governos. Em Gravataí, aprovaste uma reforma administrativa, mexendo em cargos; tributária, mexendo no IPTU; e previdenciária, nas contribuições do Ipag, tanto previdência como no plano de saúde dos servidores. Nelson Marchezan, José Ivo Sartori e Michel Temer não conseguiram. Qual a fórmula?
Marco – Primeiro é preciso lembrar que não aumentamos impostos. No caso do IPTU foi feita justiça fiscal, cobrando o correto. Só paga mais quem contribuía sobre uma metragem incorreta. Apenas mapeamos as áreas construídas. Nas leis essenciais que alteramos, prevaleceu a articulação política com base no interesse público. Sempre elogio os vereadores da base porque foram corajosos, ajudaram a mudar legislações que eram boas apenas para alguns setores, não para a coletividade. Num primeiro momento, mudanças sempre causam desconforto e incompreensão. Mas os resultados aparecem. O governo e a base na Câmara foram justos com todos, sem fazer populismo, criando dificuldades para vender facilidades, sempre pagas com o bolso do cidadão. Buscamos atender igualmente a todos, não dividimos a cidade em setores, ou categorias. Quem paga a conta, que é a população em geral, merece o retorno dos impostos em obras e serviços.
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Seguinte: – O secretário da Fazenda Davi Severgnini faz um cálculo de que o déficit atuarial do instituto de previdência de Gravataí pode levar a um congelamento de 15 anos nos salários do funcionalismo. Há saída para o Ipag sem a reforma da previdência nacional?
Marco – Em 2018 a alíquota complementar que a prefeitura pagou, ou melhor, a sociedade paga, foi de 14% sobre a folha de R$ 300 milhões. R$ 1,7 milhão por mês. A partir deste janeiro, vai a 18%. São R$ 2,2 milhões. Cresceu 4%, enquanto a inflação pelo INPC 1,44%. Não é um dinheiro que vai diretamente para o bolso dos servidores, mas fica como uma poupança para as aposentadorias. Em 2020 essa alíquota será de 22%, em 2021 de 26% e em 2035 72%, já que o déficit atuarial aponta para R$ 1 bilhão. São 300 mil que contribuem para 5 mil. A reforma da previdência é uma necessidade para Gravataí e praticamente todas as cidades médias e grandes. Já o plano de saúde só não foi extinto porque espero contar com a colaboração dos servidores para resolver os problemas na estrutura, contribuição e prestação de serviços do Ipag Saúde. Nos últimos dois anos a prefeitura precisou cobrir R$ 6 milhões de rombo. Como está não dá para continuar.
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Seguinte: – Após uma década, 2018 foi o ano de teu julgamento pelas denúncias na Operação Solidária.
Marco – Sabia de minha inocência, entendia que seria absolvido, mas sempre fica o prejuízo familiar, da esposa, dos filhos, que são os que mais sofrem. A absolvição se deu no TRF4, com sete desembargadores, inclusive os integrantes da Lava Jato. É uma boa credencial, não?
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Seguinte: – A não eleição da primeira-dama Patrícia Alba foi uma derrota para o prefeito e o governo Marco Alba?
Marco – Não vejo assim. Faltaram apenas 1500 votos. O MDB tem uma legenda forte, teve oito deputados estaduais eleitos, mas poderia ter 10. A Patrícia fez uma excelente votação e se credencia para ser deputada quem sabe ainda nesta legislatura ou, se não, com certeza na próxima. Não usei a máquina pública, ninguém me viu por aí de mãos dadas usando do cargo para promovê-la. Sempre disse que não faria da prefeitura comitê eleitoral de candidatos ou partidos. A Patrícia fez a campanha dela, foi uma mulher corajosa, determinada, que construiu seu nome e apresentou suas idéias. Para mim, é uma vencedora. Em minha primeira eleição a deputado fiz 25,7 mil. Ela foi a candidata a deputada estadual mais votada da cidade, com 33.390 votos.
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Seguinte: – Quando concluíres o governo o grupo político que lideras terá administrado a prefeitura por quase uma década. Como manter o café quente, a unidade dos aliados e ter a confiança da população nas urnas?
Marco – Temos um projeto para cidade, não projetos políticos particulares. Fui o candidato em 2012 porque era deputado, tinha lastro político, mas elaboramos um plano de governo e metas. Nosso legado é um modelo de gestão e comportamento político que pensa no interesse público, na comunidade em geral, com resultados, sem falsas promessas.
Seguinte: – Quem será o candidato do governo à sucessão em 2020?
Marco – Só vou tratar disso no segundo semestre deste ano. Mas o MDB terá candidato. É momento de aprender com o resultado das urnas, de entender o recado da população, que votou por mudanças no velho modelo da política.
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Seguinte: – Vivemos uma espécie de Guerra Ideológica Nacional no Grande Tribunal das Redes Sociais. Como interpretas o momento, que deixa no rastro da política inclusive famílias divididas?
Marco – As redes sociais são grandes ferramentas para construir, mesmo nas críticas, quando feitas com base em dados, fatos e argumentos, não apenas em versões e desejos. De certa forma vemos um pouco da reprodução do modelo político do ataque gratuito, mas também é um instrumento para informar, esclarecer sobre a complexidade da estrutura pública, onde as coisas não acontecem por ‘vontade política’ ou intuição. Governo funciona pensando no interesse geral da comunidade, com regras claras. Simpatia ou ideologia não governa. Ninguém precisa ser igual. É preciso construir consensos. E ter responsabilidade, já que soluções mágicas não existem. É preciso deixar no passado o modelo onde, enquanto o cidadão pode ser endividar em até 30% de sua renda, o poder público pode chegar aos 120% da receita. Infelizmente, o Brasil premia quem não cumpre suas obrigações. O Congresso mostrou isso, ao flexibilizar a Lei de Responsabilidade Fiscal, dando um tapa na cara dos bons gestores que até aqui fizeram todos os sacrifícios possíveis para colocar a casa em ordem.
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Seguinte: – Qual a expectativa com o governo Eduardo Leite?
Marco – Torço para dar certo. É momento de união de todos, de esclarecer a população, desnudar as finanças. O estado precisa recuperar a capacidade de investir na melhoria da vida das pessoas, não pode trabalhar só para a estrutura pública.
Seguinte: – E o governo Bolsonaro?
Marco – Também tem que dar certo. Questões como a previdência, a dívida pública, os juros e a burocracia tem que ter atenção semelhante ao combate à corrupção. Governo precisa de oposição, mas que seja construtiva. O mundo e seus modelos políticos estão em crise. Vamos experimentar essa mudança. É momento de aprendizado.
Seguinte: – Como chega Marco Alba como pessoa para os últimos dois anos de governo?
Marco – Mais experiente e convicto de que escolhemos o melhor caminho. Os resultados estão aí. Quero que minha grande obra sejam esses índices que nunca antes haviam sido alcançados na educação. A entrega de material escolar para os 30 mil alunos, que faremos este ano, como foram os uniformes, é mais um símbolo disso. Melhorar a educação é minha grande obsessão.
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Seguinte: – Indique um livro que te inspirou no ano que passou e uma leitura para 2019?
Marco – Homo Deus: Uma Breve História do Amanhã, de Yuval Harari, mesmo autor de Sapiens. Para 2019, Se Jesus Fosse Prefeito, de Bob Moffitt e Karla Tesch.
Seguinte: – Um filme.
Marco – Quando consigo, tenho visto séries.
Seguinte: – Uma série, então.
Marco – House of Cards.
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