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Entrevista com Miki; governo, política, Stédile, Leite, Bolsonaro e a vida pessoal

Prefeito Miki Breier e a primeira-dama Vanessa Morais

O governo Miki Breier chega a sua metade. O Seguinte: foi ouvir o prefeito. Siga a entrevista, feita por cerca de uma hora na tarde desta quarta, onde ele avalia os primeiros dois anos, fala sobre o futuro, as derrotas eleitorais, a relação com José Stédile, a expectativa com os governos Leite e Bolsonaro, 2020, os tempos de Grande Tribunal das Redes Sociais e também sobre a vida e gostos pessoais. Nos links relacionados você também encontra mais detalhes sobre os assuntos tratados

 

Seguinte: – Como o governo chega a sua metade?

Miki – Costumo dizer que o último ano é 2019, porque 2020, ano de eleições, é sempre complicado governar, você mais dá continuidade do que inova. Ainda enfrentamos muitas dificuldades, mas vejo o próximo ano com esperança. Passaram as incertezas da eleição de 2018 e a economia dá sinais de melhora. Cachoeirinha sofre com a crise, mas também aproveita quando há um bom momento econômico. Aqui sentimos rapidamente. E já percebemos mais procura de investidores, temos investimentos anunciados e outros chegando. Emprego é a nossa obsessão neste momento. E eles estão chegando.

Faço uma boa avaliação das parcerias firmadas pelo governo, como nas novas calçadas da avenida Flores da Cunha, que é um cartão postal da cidade. Só foi possível pela compreensão das secretarias e dos empresários. Assim como o cercamento eletrônico, que além da ligação com órgãos de segurança do estado, envolve os comerciantes. Ainda há problemas, como em toda cidade metropolitana, mas a população já sente, e as estatísticas mostram uma redução na criminalidade. Veículos roubados ou furtados têm sido identificados e recuperados, por exemplo. Isso é um sinal que se envia de que Cachoeirinha não é um bom lugar para quem quiser cometer crimes.

Também procuramos mostrar para comunidade a importância da transparência, com o gabinete do prefeito aberto nas quartas, a prefeitura nos bairros aos sábados e lives no Facebook toda quinta, para dialogar, ouvir, explicar e aprender. É uma marca de nosso governo. Hoje só não fala com o prefeito, ou com os secretários, quem não quiser.

É um chavão, mas fizemos mais, com menos. Revimos contratos, o que foi positivo, porque não houve prejuízo aos serviços. Cortamos todos os gastos possíveis, fizemos ajustes necessários para governar, o que já levou a uma economia de R$ 32 milhões. Conseguimos asfaltar algumas ruas e estamos retomando obras que estavam paradas, como no PAC II, da Frederico Ritter e da Av. das Indústrias, que estamos fazendo novas licitações porque chegamos à conclusão de que as empresas não entregariam as obras. Na educação infantil concluímos uma escola no Navegantes e, também por problemas com as empresas, estamos relicitando as da Moradas do Bosque e Central Park. Investimos bastante em opções para as crianças no turno inverso, com aulas de futebol, arco, pingue-pongue.

Queremos também entregar o píer no Rio Gravataí e a Casa de Cultura reformada. Trabalhamos também a regularização fundiária. Já concluímos 150 casas no Jardim Conquista e nosso desafio agora é a Granja Esperança.

E há também um fundo de investimento, junto a Corsan, que prevê R$ 18 milhões para saneamento, pavimentação e contenção de alagamentos.

No momento de dificuldade é preciso criatividade e muito trabalho. Destaco a importância do vice-prefeito Maurício Medeiros (MDB), que foi prefeito na década de 90, como eu fui vice em Gravataí, deputado estadual e secretário de estado, então buscamos abrir portas. Acredito que não será diferente agora, já que meu partido participará do novo governo estadual e o dele do governo federal.

 

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Seguinte: – Qual seria sua manchete positiva para o 2018 de Cachoeirinha?

Miki – A volta dos investimentos! Tivemos o retorno da Souza Cruz, mesmo que como central de distribuição, porque foi um baque muito grande quando a empresa saiu. E mais a Vital, a Valeo… Serão pelo menos 1200 empregos nos próximos dois anos. Nada mais importante hoje do que a geração de emprego e renda.

Outra boa notícia é que arrecadamos R$ 8 milhões a mais com a antecipação do IPTU. É também um sinal de que passou o período de dúvidas e incertezas, e as pessoas estão acreditando no futuro e, por que não, confiando no governo, no retorno dos impostos em serviços e obras.

 

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Seguinte: – E as más notícias?

Miki – A morosidade dos processos no serviço público. Sei que não depende só da nossa vontade, mas fico angustiado. Secretários dizem que cobro demais. Um exemplo: quero uma ligação aqui da prefeitura até o Parque da Matriz, mas tem o entrave do Mato do Julio com os herdeiros, que se arrasta há décadas na justiça. O estacionamento rotativo já era para estar funcionando, mas, apesar de termos seguido modelos já implantados, precisamos refazer o processo devido a um apontamento do Tribunal de Contas do Estado. A PPP (parceria público-privada) da iluminação, também. Temos nossa parcela de culpa, claro, mas os processos são lentos demais!

 

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Seguinte: – O governo começou em 2017 cortando vantagens do funcionalismo e enfrentou uma greve de 60 dias, a maior greve da história de Cachoeirinha. Em alguns momentos, parcelou salários. Para receber o décimo terceiro é preciso o servidor tirar empréstimo no banco. O ano de 2018 foi de ‘reajuste zero’. Os últimos dias foram de tensão entre o governo e a direção do sindicato dos municipários. Seu grupo político, que está no comando da prefeitura há 18 anos, já viveu altos e baixos na relação com os servidores. Como avalias essa relação hoje?

Miki – Sem as medidas que tomamos, não governaríamos. O gasto com a folha em 2016 era de 77%. Conseguimos reduzir para 62%. É muito ainda. O limite da Lei de Responsabilidade Fiscal é de 54%, para contrair financiamentos precisaríamos chegar a 51,3%. Isso de certa forma inviabiliza o governo. Em 2018 não foi possível dar nenhuma reposição aos servidores, mas é preciso lembrar que assumimos em 2017 cumprindo o acordo firmado em 2016, pelo governo anterior, pagando uma parcela de 5% já em janeiro.

Os números estão abertos. A categoria compreende o que estamos fazendo. É um momento de tensão com aqueles da direção do sindicato que apostam no quanto pior, melhor. O que não ajuda a construir. Fiz uma ironia em minha postagem ontem no Face, dizendo que o ‘pacote’ do governo era o pagamento antecipado dos salários. É que as postagens do sindicato falavam de algo que não existia. Sempre que apresentamos um projeto, discutimos com as categorias, com a comunidade e enviamos à Câmara. Não é correto dizer que agimos sem transparência, ou que faltou diálogo.

 

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Seguinte: – O Iprec (o instituto de previdência municipal) é uma bomba-relógio, com uma dívida de R$ 150 milhões e que só cresce. Há como resolver sem aumentar a contribuição do funcionalismo de 11% para 14%, como fez o governo Marco Alba (MDB) em Gravataí? Ou a esperança é uma reforma da previdência nacional que alongue o tempo de serviço, e contribuição, dos servidores em geral?

Miki – A reforma da previdência vai ter que acontecer ou não só o governo federal, mas os estados e as prefeituras vão quebrar. Em Cachoeirinha ou pagamos os salários, ou recolhemos nossa parte para as aposentadorias do Iprec. Optamos por pagar os salários. E a dívida cresce. Não há mágica. Mas no momento não está em discussão aumentar a contribuição dos servidores.

 

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Seguinte: – Quais os principais planos para os próximos dois anos? A UPA (unidade de pronto atendimento) do Jardim do Bosque será entregue?

Miki – Vamos entregar a UPA, mais duas escolas infantis e investir mais em segurança. Já estamos em contato com os deputados federais que vão assumir para conseguir emendas, que para nós é uma importante fonte de financiamento. O retorno do ICMS dos novos investimentos não é imediato, mas esperamos para logo o impacto dos novos empregos. Cachoeirinha vai sentir a recuperação da economia.

 

Seguinte: – Como Miki chega como pessoa ao fim de dois anos de governo?

Miki – Confiante e sempre sabendo que há muito para aprender. O poder tem limites. Um prefeito, governador ou presidente não pode fazer tudo que gostaria, então é preciso aprender com o contexto, a conjuntura política, a cultura local. Já aprendi muito e aprendo a cada dia. Não é da boca para fora que digo que aprendo muito ao ouvir as pessoas que vem ao gabinete, que encontramos nos bairros ou interagem pela internet. Você fica sabendo o que as pessoas estão sentindo no cotidiano de suas vidas, as angústias, expectativas e as reais prioridades. Sinto estar mais maduro, tanto pela idade, quanto pelo trabalho. E com muita vontade de dar tudo de mim. Chego à prefeitura 7h e não tenho horário para sair. Às vezes a esposa diz, quem sabe fica mais em casa… mas quando assumo um compromisso, gosto de me dedicar à plenitude. Estou chateado com a incapacidade de resolver as coisas mais rapidamente, mas compreendo que o sistema é assim. Porém, sigo confiante e com muita esperança em dias melhores.

 

Seguinte: – Aceitas a leitura de que o prefeito, o PSB e o governo sofreram uma grande derrota eleitoral, já que Ciro Gomes não foi eleito presidente, José Ivo Sartori não conseguiu a reeleição, José Stédile não terá mais um mandato como deputado federal de Cachoeirinha e Juliano Paz, ‘número 1 de Miki’, não retomou a cadeira que era tua na Assembleia Legislativa?

Miki – Sim. Foi uma derrota e precisamos aprender com ela. A população deu um recado. Radicalizado, difuso, até um pouco sem critério, mas é preciso respeitar o eleitor. O que aconteceu nunca tinha visto, uma onda de mudança e renovação na qual não há uma régua única para definir o que aconteceu e o que se quer. Mas temos tempo para aprender e nos preparar para o futuro. Sobre a representação em Brasília, o deputado eleito Nereu Crispim, do PSL do futuro presidente Jair Bolsonaro, tem família em Cachoeirinha e já se colocou à disposição para ajudar.

 

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Seguinte: – É só fofoca ou Miki e Stédile estão brigados?

Miki – (risos) É só fofoca. Agora no Natal nos encontramos e, como sempre, batemos um longo papo.

 

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Seguinte: – Quando concluíres o mandato, o mesmo grupo político terá completado 20 anos no poder. Como manter a unidade partidária e dos aliados, a confiança e o voto da população?

Miki – Nunca é fácil permanecer tanto tempo no poder. Ao fim é a população quem vai avaliar se a cidade melhorou, ou se está melhorando… Mas entendo que cada governo tem seu estilo.

Seguinte: – Miki é candidato à reeleição em 2020?

Miki – 2020 será debatido em 2020.

 

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Seguinte: – Qual tua expectativa com o governo Eduardo Leite (PSDB)?

Miki – Espero que dê continuidade ao que foi bem feito no governo Sartori. O futuro governador tem sinalizado que não vai mudar os planos de recuperar as finanças do estado, pagar em dia e buscar um acordo com o governo federal para o problema da dívida. Acredito que a jovialidade e disposição do Eduardo ajudem a encontrar um caminho que dê fôlego para o estado. A crise é muito séria, olha todo esfoço que a Yeda fez lá atrás, agora o Sartori. Meu partido está apoiando, o governador vai usar quadros do governo Sartori, como na segurança, o Stédile estará lá na secretaria de Obras e Habitação. Torço por um pacto pelo Rio Grande, que deixe a eleição de 2022 de lado.

 

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Seguinte: – E o governo Bolsonaro?

Miki – Tenho muito receio, principalmente pela superficialidade das avaliações que faz o futuro presidente. Torço que ache o caminho do crescimento, mas tenho desconfiança. Meu partido formou um bloco de oposição, que será crítica, consciente, para ajudar o país. Enfim, torço que acerte, porque também será bom para Cachoeirinha.

 

Seguinte: – Indique um livro que leste no ano e te inspirou.

Miki – O Deserto dos Tártaros (Dino Buzzati, escrito em 1940, cuja sinopse você lê clicando aqui). Me fez pensar nas pessoas que ficam esperando algo acontecer e, no fim, não fazem nada acontecer. Já disse em outra entrevista pra ti que não gosto daquele refrão “deixa a vida me levar”. Acredito em fazer as coisas conforme acreditamos. O livro é uma boa reflexão.

 

Seguinte: – Um filme.

Miki – Bohemian Rhapsody. Gosto de música, do Queen, e fui ao cinema assistir. Freddie Mercury dizia: “Vou fazer aquilo que sei fazer, cantar”. Gosto disso, seguir com paixão a sua vocação.

 

Seguinte: – Uma série.

Miki – Lá em casa assistimos muito Suits. Também achei The Sinner muito inteligente. Mas prefiro filmes. As séries te envolvem muito e você quer ver mais um episódio e outro. Para quem precisa acordar cedo, como eu, não tem como.

 

Seguinte: – Como avalias esses tempos de intolerância e polarização política que beira o fanatismo? Muitas festas de Natal tiveram e, provavelmente, as de Ano Novo terão muito bate boca entre as famílias sobre política, ideologia, questões de gênero…

Miki – É, como descreves em teus artigos, O Grande Tribunal das Redes Sociais. Acho que faz bem tirar um pouco o pé das redes sociais, às vezes não ligar a TV e pegar um livro, bater um papo, conviver com a família e os amigos. Enfim, desconectar um pouco. O mundo é feito de diferenças. Hoje muitos parecem querer que todos pensem igual. Foi triste, quanto da chegada dos venezuelanos a Cachoeirinha, ouvir alguns discursos beirando a xenofobia. As cidades são formadas por gente de todos os lugares. Hoje tuitei sobre a causa animal, porque há quem entenda que não deva receber investimentos. Mas vamos além: como pode alguém abandonar um bichinho de estimação na estrada para curtir uns dias de férias? Isso é de uma desumanidade indescritível. Precisamos respeitar os humanos e todos os seres vivos. Precisamos resgatar nossa humanidade, amar mais, sem verdades absolutas.

 

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Seguinte: – 2019 vai ser um ano bom?

Miki – Vai ser um ano melhor, de esperança, trabalho e realizações, em que ninguém estará preocupado com resultado de eleição, mas sim em fazer por si, pela sua família e, nós, do governo, pela comunidade.

 

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Assista ao vídeo que o Seguinte: produziu com balanço e perspectivas de Miki em janeiro de 2018

 

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