coluna do silvestre

Eu não sabia que água não tem galhos, e quase morri afogado

Da série me cortem os tubos!

Me aguentem ou…

 

Como os que leem esta coluna já sabem, fui criado no interior do interior de Cachoeira do Sul, Região Central do estado, mais precisamente em Cerro Branco quando o lugar ainda era um distrito da Capital Nacional do Arroz.

Por lá, em Cerro Branco, costumava tomar banho nas límpidas águas do Arroio Branco. Usava calção e corria com pés descalços sobre as pedras. Pescava lambaris para minha mãe fritar depois de limpá-los e passar um por um na farinha de trigo.

De sob as pedras extraia, "à unha", Cascudos. Depois de retiradas as vísceras e o couro, eram apetitosas iguarias colocadas à frigideira sem qualquer gordura. Fritavam na própria banha.

Tem até uma passagem de quando estava pescando com vara e anzol em uma vala que levava água para irrigação de uma lavoura de arroz e fui solenemente picado por uma cobra. Era dessas sem veneno. Ficou pendurada no meu dedo mínimo do pé esquerdo.

Que baita cagaço!

No começo dos anos 70 fui morar na sede do município. Tenho convicção de que foi minha iniciação em meio à civilização. Com 12 anos, ainda usava calção. Mas os pés já tinham experimentado as marcas 7 Vidas, Kichute e Alpargatas.

Claro, depois de muitos calos provocados por tamancos de madeira, com os quais subia cerros para colher catófi (batatinhas), espigas de milho verde ou braçadas de folhas de fumo, que deixavam um melado grudento na roupa da gente.

E foi em Cachoeira que encarei duas situações dramáticas. Quase morri afogado, duas vezes. Uma delas em um poço escavado com trator, perto de casa, no qual se acumulou grande volume de água da chuva. Saí dessa por milagre.

Outra vez no Rio Jacuí, onde estava com meus pais e irmã adotivos. Eu não sabia nadar e inventei de dar algumas braçadas em direção ao meio do rio. Fracote que era, logo cansei. Tentei achar o fundo para tomar fôlego, em vão.

Desci umas duas ou três vezes e quando chegava ao fundo impulsionava o corpo à superfície, em busca de oxigênio. Meu pai percebeu a situação e foi em meu socorro. Não contava com cãibras que praticamente imobilizaram suas duas pernas.

Malandro que o velho era, bom nadador, ficou na água flutuando ao ver que um amigo e vizinho havia se jogado no Jacuí para me salvar. Era o “seu” Pedrinho, um ex-marinheiro, de pouca estatura e meio magrela.

Mas ótimo nadador e boa musculatura.

Pegou-me pelos cabelos e me afogou umas duas ou três vezes. Só quando eu já não esboçava reação ele me puxou para a margem onde me recuperei. Do susto e da falta de respiração.

Até hoje tenho o maior medo da água e lembro o que meu pai dizia, depois: “água não tem galho para a gente se agarrar!”…

Por que lembrei disso, hoje?

É que lendo o Jornal do Povo, lá da terra dos arrozais, me deparei com uma enquete questionando leitores sobre quem frequentava, ou não, a Praia Nova, um balneário em que se banham os que não têm condições de desfrutuar do Litoral, por exemplo.

Eu mesmo fui um frequentador assíduo da Praia Nova, já mais taludo, e poucas foram as vezes em que entrei na água barrenta. Gostava mesmo era dos bares por sua música ao vivo, peixe frito com limão e “suco de cevada” bem gelado…

Ainda lembro do local pelas amizades que fiz, muitas que por lá ficaram, e pelas histórias que passei a contar depois, já trabalhando em rádio e, em seguida, escrevendo para o jornal.

Bateu uma nostalgia.

Saudades de tempos bons, em que havia menos maldade e mais humanidade.

E saudade da minha irmã, Catarina, que foi morar com Deus no ano passado.

Ontem, ajeitando as fotos na parede da casa em que passei a residir, uma delas retrata, exatamente, eu e ela em um momento de lazer no Rio Jacuí. Eu deveria ter meus 16 ou 17 anos, por aí, ou menos até, e minha irmã Catarina era 10 anos mais nova.

 

Por estas e por outras que eu digo, para o mundo que eu quero descer.

Ah, aproveita e me corta os tubos!

 

 

 

 

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