O vereador Mário Peres (PSDB), de Gravataí, falou com exclusividade ao Seguinte: sobre a apreensão de meia tonelada de maconha em um prédio de sua propriedade na Vila Rica, que também seria usado para prática de rinhas de galo.
– Aluguei o prédio por cinco anos. Não tenho nada com isso. Mas meu nome está circulando aí, nas redes sociais, como um criminoso – lamenta o caminhoneiro aposentado, primeiro suplente que herdou o mandato quando o eleito Áureo Tedesco renunciou para assumir a vice-prefeitura em 2017.
A operação foi realizada pela 2ª Delegacia de Polícia de Gravataí na noite desta segunda.
– As drogas apreendidas estavam etiquetadas com o nome de uma organização criminosa – informou o delegado Rafael Sobreiro, que comanda uma investigação que monitora há três meses o local, apontado como um centro de armazenamento e distribuição de drogas, onde os tabletes de maconha estavam acondicionados no interior de um caminhão e em dois automóveis.
Siga a entrevista.
Seguinte: – O senhor é proprietário do prédio?
Mário Peres – Sim, mas estava alugado. Tenho outros imóveis alugados também. Não tenho como saber o que os inquilinos fazem…
Seguinte: – O senhor tem contrato de aluguel?
Mário Peres – Sim, tenho toda documentação.
Seguinte: – O senhor conhecia o locatário?
Mário Peres – Sim, conheço há uns cinco anos, moro a 100 metros do local. Para mim é uma surpresa. Alugava a quase um ano.
Seguinte: – A investigação aponta o local como um centro de distribuição de drogas relacionadas a uma facção.
Mário Peres – Meu Deus! Não sei nada disso.
Seguinte: – Qual o valor do aluguel?
Mário Peres – Fiz uma permuta, em que o locatário retiraria e daria a destinação correta a resíduos de couro que tinha ficado ali depois que quebrou uma firma do meu irmão de equipamentos de EPIs (equipamentos de proteção individual), como luvas, essas coisas.
Seguinte: – Em quanto o senhor calculava o valor do aluguel? Ou quanto o senhor projetava gastar dando a destinação ao couro?
Mário Peres – Não sei. Fiz a cedência por cinco anos para resolver o problema.
Seguinte: – O senhor, que é vizinho do pavilhão, sabia da realização de rinhas de galo?
Mário Peres – Não sei de onde tiraram isso. Se acontecesse, eu saberia, os vizinhos saberiam. Vi um vídeo na internet onde apareciam galos e um tonel, mas nunca vi rinha ali. O que há de verdade é que um vizinho cria galos, galinhas, mas se usa para rinha, como tenho como saber.
Seguinte: – O senhor já foi intimado para depor?
Mário Peres – O delegado me disse para ficar tranqüilo, que estão investigando há bastante tempo e não sou eu quem estão procurando. Ele vai me avisar quando devo ir na delegacia, levar os documentos e prestar depoimento.
Seguinte: – O senhor teme prejuízos políticos com o caso?
Mário Peres – Tudo que aparece relacionado aos políticos é ruim, né? Ninguém quer saber a verdade. Todo mundo já sai acusando, condenando.
Seguinte: – O senhor espera solidariedade dos colegas vereadores ou teme uma investigação na comissão de ética da câmara e uma ameaça a seu mandato?
Mário Peres – Mas por que comissão de ética? Seria uma grande injustiça. Não fiz nada, não tenho nenhum envolvimento com crime. Os vereadores me conhecem, sabem que sou um cara honesto, de família. Estou tão surpreso quanto qualquer um. O importante é que não tenho culpa de nada. Eu agradeço o espaço para me defender, mas infelizmente sei que vou ser condenado pelas redes sociais…
A operação
Em entrevista coletiva às 14h desta terça-feira, na 2ª Delegacia de Polícia Civil de Gravataí, o delegado Rafael Sobreiro vai dar detalhes da operação e da investigação que ainda não teve prisões confirmadas, mas levou a uma das maiores apreensões de maconha do ano no Rio Grande do Sul neste ano, inferior apenas às 6 toneladas flagradas em abril pela Polícia Rodoviária Federal, na BR-386, em Lajeado, a maior da história do estado.