Um novo problema de desabastecimento de água potável aos consumidores urbanos, iniciado no sábado passado e sem solução até o começo desta tarde, fez o secretário geral de Governo da Prefeitura de Gravataí, Luiz Zaffalon, botar a boca no trombone de novo, e reclamar de forma enfática do tratamento dispensado pela Corsan à cidade.
— Em mais de 40 anos de exploração do Rio Gravataí para abastecer nossa cidade, Alvorada, Viamão e Cachoeirinha, a Corsan jamais investiu “um tostão” na preservação do Rio Gravataí. Pelo contrário, pela falta de esgoto tornou-o um dos mais poluídos do Brasil — acusou o super-secretário.
Zaffalon reiterou a preocupação com os frequentes desabastecimentos e acredita que a situação vai ficar ainda pior no “forte” do verão, quando as chuvas se tornam mais escassas e o nível do Gravataí baixa consideravelmente, prejudicando a captação da água necessária à população.
Universalização
O secretário Zaffalon voltou a manifestar convicção de que somente uma empresa privada com recursos para realizar investimentos pesados poderá resolver a grave situação enfrentada pela população de Gravataí.
— A única solução é uma empresa que tenha dinheiro para atender nosso Plano de Saneamento. Nele exigimos que em cinco anos tenhamos a universalização do abastecimento de água potável e em 10 anos a coleta e tratamento de esgotos.
Atualmente a coleta de esgoto atinge cerca de 75% da área urbana mas o que é tratado é menos que 20%. Todo o restante acaba direcionado aos córregos que desaguam no Gravataí, tornando o rio cada vez mais poluído.
Em um século
A Corsan, pelos investimentos históricos e pela demanda, já que tem que atender cidades (316, segundo o site oficial da companhia) em todo o Rio Grande do Sul, jamais poderia atingir estes níveis de investimentos.
— Talvez alcance a universalização em 100 anos — diz Zaffalon, quase em tom de ironia.
Ele lembra que está em andamento na prefeitura uma proposta de licitação para exploração dos serviços de abastecimento de água e coleta e tratamento de esgoto nos moldes do Plano de Saneamento.
Antes de o edital ser lançado, entretanto, é preciso denunciar o contrato existente, provar a caducidade para que o processo seja deslanchado. A própria Corsan pode participar e, se vencer, terá que se sujeitar às novas regras que estarão no edital.
— A Corsan pode participar da licitação, mas como atender esta demanda? Canoas, Cachoeirinha, Farroupilha, Bento, Santo Ângelo, entre outras, também querem universalizar. Ou seja, é impossível atender a todos.
Como o governo federal também fechou as torneiras, porque acabaram as reservas financeiras, sequer muitas obras do Plano de Aceleração do Crescimento, o PAC, foram finalizadas.
— Então sobra para os privados esta capacidade. Ou para empresas estatais competentes. A Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), por exemplo, poderá participar — diz Zaffalon.
Barragens no rio
Não bastam, entretanto, seguir apenas o que ditar o contrato a ser firmado. Se não existirem obras complementares como um controle de vazão através da construção de barragens, mais de uma até se forem pequenas, a tendência é de o rio acabar.
A previsão nada otimista é do secretário de governo de Gravataí, lembrando que hojr, com 45 dias sem chuvas, o Gravataí seca. É possível atravessar a pé, na altura do Passo das Canoas, quando o nível entra em estado crítico.
Já existem estudos realizados pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) sobre a construção de barragens no Gravataí.
De Itapuã
Enquanto isso, a proposta da Corsan é trazer água de Itapuã, em Viamão, ideia que demanda vultoso investimento – quando há falta de recursos de modo generalizado – e tempo – para solucionar um problema que já se arrasta há quase 10 anos.
— Se isso sair do papel, quanto tempo vai demorar? — questiona.
Municipalização não!
A possibilidade de Gravataí municipalizar os serviços de captação, tratamento e distribuição de água potável à comunidade, bem como a captação e tratamento do esgoto, é descartada pelo secretário Luiz Zaffalon.
Segundo ele, municipalizar é um modelo inviável.
E explica:
— O modelo de municipalização não encontra bons resultados. Bagé, Pelotas e Santana do Livramento penam com suas estatais ou autarquias. Porto Alegre é um exemplo acabado. Uma receita fantástica e, até agora, não universalizou a questão do esgoto, sustenta toda Prefeitura com seu superavit e não faz o tema de casa.
E continua:
— Em Bagé falta água e no verão é feito racionamento há vinte anos. Novo Hamburgo municipalizou há 15 anos e não fez um metro de esgoto. Para citar apenas alguns dos grandes, auto sustentáveis. Imagina os pequenos municípios! Jamais terão esgoto tratado — prevê.
Agravante
No Rio Grande do Sul ainda existe um agravante sério, que inviabiliza o modelo praticado pela Corsan. Os grandes municípios não são atendidos pela companhia, como Porto Alegre, Caxias do Sul, Pelotas, São Leopoldo, Novo Hamburgo, Livramento, Uruguaiana e outros.
— Isto tira da companhia alto faturamento e poder de investimento. É o único estado do Brasil onde a capital, Porto Alegre, onde está o verdadeiro pote de ouro, não é operado pela companhia estatal.
A iniciativa privada é considerada a única salvação para cidades como Gravataí, Canoas e Cachoeirinha. Dispõe de dinheiro para investir e universalizar.
— Nós visitamos uma série de municípios no Brasil em que esta revolução esta ocorrendo. Empresas privadas fazendo aquilo que o governo, historicamente, não conseguiu fazer.
O segredo – para alcançar a eficiência com a iniciativa privada – é uma agência de regulação e um controle rígido do município e da população através de conselhos, por exemplo, para fazer cumprir o contrato.
— A água e o esgoto não podem virar apenas um negócio altamente lucrativo. Não tem outra saída. Mas que esta regulação, ou o conselho de fiscalização, não tenha ingerência governamental. Daí…
: Corsan diz que água deve ser normalizada até às 18h de hoje em Gravataí
Falta d’água
Desde setembro passado, pela terceira vez, a falta de água atinge a população de Gravataí de forma prolongada. Desta vez, foi o rompimento de uma adutora na avenida Dorival de Oliveira, afetando diretamente 24 bairros da cidade.
O problema teria ocorrido no começo desta segunda-feira (5/12) mas no sábado já teria faltado água para parte dos usuários, o que se prolongou até o domingo, sem justificativa por parte da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan).
Nas redes sociais são várias as postagens denunciando que o rompimento da adutora, na altura da parada 66 de Gravataí aconteceu, na verdade, ainda no sábado, e se queixando da demora para o conserto do problema.