Esta ‘passou batido’ e quase ninguém percebeu.
Nem a grande mídia deu ênfase a uma informação que pode estar mudando a relação das pessoas com os automóveis num prazo não muito distante, situação que vai ser vivida em sua plenitude pela grande maioria dos que estão lendo este texto. É que daqui a 20 anos, pelo projeto que está tramitando em Brasília, os carros estarão proibidos de circularem com propulsores alimentados por… Gasolina!
E o assunto é sério.
Na noite de 13 deste mês, há menos de 20 dias, portanto, a Comissão de Constituição e Justiça do Senado Federal aprovou o teor de um projeto de lei apresentado ainda em 2017 pelo senador Ciro Nogueira, advogado e empresário, que está em seu segundo mandato com o referendo do povo do Piauí.
A proibição para circular é a partir de 2040, mas daqui a 10 anos, ou seja, a partir de 2030, já estaria proibida a comercialização de carros como motor alimentado por gasolina ou diesel. Somente os carros, utilitários, de passeio e de transporte de cargas e passageiros, movidos a biocombustível – como é o caso do etanol – poderiam sair da garagem.
Porém – e sempre tem um porém! – ainda é longo o caminho para que esta lei seja colocada em prática. Principalmente porque são muitos os caminhos a serem percorridos até que um projeto seja efetivamente tornado lei. E no meio destes caminhos há muitas bifurcações, encruzilhadas, pontes, pontilhões e viadutos a serem vencidos conforme os interesses dos políticos do momento.
Agora o projeto de lei (PL) 304 está na Comissão de Meio Ambiente (CMA), para que sejam auscultadas as opiniões de especialistas do setor automotivo e parlamentares além de representantes do setor público como Detran e Denatran. Se aprovado nesta comissão, o PL volta para nova rodada de votações no Senado e no Congresso e somente se for aprovada entra em vigor. Claro, se for sancionado pelo presidente da República.
O maior desafio é…
O assunto remete a um tema que vem sendo alvo de exaustivo estudo em salas “lacradas a vácuo”, os secretíssimos laboratórios das montadoras e até de empresas ligadas à produção de energias alternativas. Entre estes estudos estão propulsores movidos à eletricidade, sem o uso de muletas como são os motores estacionários que consomem combustíveis fósseis.
Tesla, General Motors e Ford, entre outras, para ficar na esfera dos automóveis, há anos fazem pesquisa e já colocaram nas ruas protótipos que aos poucos estão evoluindo, vão sendo aprimorados. Lentamente, mas evoluindo. A Tesla, indiscutivelmente, é a fabricante de automóveis, entre outras milhares de atividades paralelas, mais avançada neste segmento, o do automóvel 100% elétrico.
A Tesla já testa (perceberam, Tesla, testa…??) até avião 100% elétrico.
O grande desafio, o maior desafio, ainda é produzir baterias que ocupem o menor espaço possível dentro do carro, ônibus ou caminhão, e que sejam infinitamente menos pesadas do que as atuais. E mais: é preciso que, mesmo diminuindo o tamanho das baterias e o peso, tenham carga suficiente para aumentar a autonomia dos veículos que, atualmente, não chega aos 400 quilômetros percorridos.
A média é de 380 quilômetros.
Lembro que dirigi um carro da General Motors (GM) apresentado para que jornalistas testassem, na fábrica de Gravataí, ainda em 2011. Era um híbrido, o Volt. Motor elétrico que tocava o carro enquanto a bateria tivesse carga, coisa de 300 quilômetros. Depois disso era acionado um motor estacionário, pequeno, movido a gasolina, que gerava a energia que fazia o carro continuar andando. Uma engenhoca e tanto!
Extremamente silencioso. Tão silencioso quanto pesado.
: Nas fotos acima, o colunista e o Volt de 2011 da GM. Com parada para “recarga” da bateria em um dos aerogeradores do Parque Eólico Ventos do Sul, em Osório.
Sem muletas
Depois disso a GM trouxe ao Brasil em agosto de 2018, igualmente para apresentar à imprensa e por ocasião da entrega à montadora de Gravataí, pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, a U.S. Environmental Protection Agency, da Certificação Energy Star, o Bolt EV, este sim, 100% elétrico. Sem muletas, como o estacionário do Volt de 2011.
Novamente andei no carro, bem mais leve, com bateria menor e autonomia um pouco maior, de 380 quilômetros.
O modelo foi lançado oficialmente ainda em 2016 nos Estados Unidos, onde era vendido – informações do segundo semestre de 2018 – por cerca de 40 mil dólares. Pela cotação do dólar-coronavírus algo em torno de R$ 180 mil, aqui. Considerando as taxas de importação e demais impostos a serem pagos por imposição do governo brasileiro, quem quisesse um desses hoje teria que ter na conta pelo menos uns R$ 250 mil. Por baixo, cúmulo da generosidade de parte do colunista!
Ainda assim, um carro que “não vingou”, termo que se usa para dizer que o volume de vendas ficou bastante abaixo da expectativa inicial.
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Aposta no carro elétrico
Por que destaco o carro elétrico como alternativa e provável substituto ao modelo que vem sendo empregado desde que o automóvel foi inventado? Porque não tem escapatória! Até já tentaram fazer o carro andar movido à água (isso mesmo, água!), mas parece que interesses bilionários sepultaram, literalmente, os rascunhos e o autor dos rascunhos.
Mais recentemente falou-se em fazer o carro andar tirando energia das moléculas de hidrogênio. Acho que o autor destes rascunhos ficou com medo, depois de saber o que aconteceu com o "professor Pardal" que queria abastecer o tanque dos carros com água de poço e simplesmente sumiu do mapa!
A eletricidade é o caminho.
As fontes para gerar eletricidade estão se aprimorando cada vez mais ao ponto de impactar cada vez menos no meio ambiente se pensarmos no formato das grandes hidrelétricas ou das usinas abastecidas com carvão fóssil. A energia eólica aí está, e chegou para ficar. Louco é quem duvidar. E não param de surgir novos parques com moderníssimos aerogeradores com capacidade crescente – a cada novo modelo que sai dos laboratórios e das fábricas – de geração de energia.
Fumaça é fogo, não?
E eu aposto tanto neste modelo que cheguei a projetar para Gravataí, ainda no final de 2018, a produção de carros elétricos na montadora que a General Motors tem por aqui. Acontece que onde há fumaça, há fogo. Isso é incontestável.
Analisemos pois, os fatos!
Mundo afora, cresce o número de países aprovando legislações proibitivas à utilização de motores a combustão (gasolina, óleo diesel, etanol, querosene…).
Pelo menos 11 a cada 10 fabricantes de automóveis – veículos de modo geral – estuda, projeta, planeja motores elétricos com “um olho no gato e outro no peixe”, tentando resolver a equação baterias menores e mais leves versus maior autonomia.
E, por fim, no final de 2018, o então recém-empossado diretor de Relações Governamentais para o Mercosul, Adriano de Barros, peregrinou salas acarpetadas do governo do estado e estacionou no gabinete do prefeito de Gravataí, Marco Alba (MDB).
No discurso de estreitar relações, colaborar para a melhoria da economia do estado e do município, desenvolver produtos economicamente viáveis e sustentáveis, Barros disseminou a ideia de que é preciso preparar a infraestrutura para a comercialização, e circulação, de veículos elétricos.
Aqui no Rio Grande do Sul e, de resto, em todo o Brasil. É o que se convencionou chamar, até agora, de “eletrovias”. Cheguei a escrever textão para o Seguinte: (link abaixo) prevendo que a montadora de Detroit aqui na aldeia seria a primeira a acionar a ignição de um elétrico genuinamente tupiniquim.
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A pergunta é…
Mais do que pedir pelas “eletrovias”, Barrios e Daniela Kraemer, gerente de Relações Governamentais e Institucionais da GM- Mercosul, anunciaram as pretensões da General Motors de trazer, a partir de 2019, carros elétricos produzidos por aí para serem vendidos por aqui.
As “eletrovias” não aconteceram.
E os elétricos não vieram.
Nem da GM, nem da Tesla e nem de outras montadoras.
Só que “o tempo ruge e a Sapucaí é curta” quando o assunto é legislação ambiental e nele se inclui a adoção de motores voltados à sustentabilidade ambiental. Os prazos estão sendo estabelecidos na Europa, na Ásia, nas Américas…
A pergunta a ser feita, é:
O Brasil vai aprovar o projeto de lei que limita até o "ano tal" a circulação de carros a combustão, implantando as ditas “eletrovias” para viabilizar a entrada do carro elétrico no mercado nacional, ou vai dar uma de “joãozinho do passo certo” se tornando o único país do mundo em que um tema de fundamental importância será relegado a uma reles caixa de ferramentas?
Quem viver, verá!