Recomendamos o artigo do jornalista Reinaldo Azevedo, publicado em sua coluna no UOL
Ah, a moral profunda de cada bolsonarista e o padrão ético do grupo!
Isso há de ser matéria de estudo.
Dados do Ministério Público Federal aponta que metade dos golpistas que foram presos — a contabilidade foi feita num grupo de cerca de mil pessoas — recebeu o Auxílio Emergencial.
Que coisa espetacular!
Em que outro grupamento aleatório de brasileiros a taxa seria tão grande?
Vamos pensar aqui um pouco. O Auxílio chegou a ser pago a 66,9 milhões de pessoas. Como era preciso ter ao menos 18 anos, excluem-se 53.759.457. Dado um total de 208 milhões de brasileiros — houve uma revisão em relação aos antes estimados 215 milhões — tem-se que, do ponto de vista exclusivamente da idade, estavam aptas a receber o benefício 154.240.543 pessoas.
Pois bem: se o Auxílio atingiu 66,9 milhões, estamos falando de 45,12%, certo? Aí o desavisado pode pensar: “Ah, tá na média…”
Errado.
Os que foram presos são pessoas com traços muito particulares. Em primeiro lugar, são bolsonaristas. Ok. Quase a metade dos eleitores escolheu o ex-presidente. Mais do que isso: elas se dispuseram a deixar seus afazeres para cobrar um golpe de estado, depor um presidente eleito e entronizar, em seu lugar, o derrotado.
Havia pré-requisitos de inclusão e de exclusão para receber o Auxílio, além da maioridade, a saber:.
– não possuir emprego formal (registrada na CLT ou ser servidor público) no momento da solicitação do benefício;
– não receber nenhum tipo de benefício previdenciário do INSS (aposentadoria, Auxílio Doença, etc.), benefício assistencial (Benefício de Prestação Continuada – BPC), Seguro Desemprego, ou outro programa de transferência de renda federal com exceção de Bolsa Família;
– cada integrante da família deve receber até meio salário mínimo (R$ 522,50 em 2020) mensalmente ou ter uma renda familiar mensal total de até três salários mínimos (R$ 3.135,00);
– não ter recebido mais de não ter recebido mais de R$ 28.559,70 em 2018 (faixa de isenção do Imposto de Renda);
– ser trabalhador informal inscrito no Cadastro Único para Programas Sociais do governo federal (CadÚnico), autônomo, desempregado, contribuinte individual ou Microempreendedor Individual (MEI).
– O recebimento do auxílio emergencial está limitado a 2 membros da mesma família.
Observem como aquele universo de 154.240.543 pessoas cai drasticamente. Temos, por exemplo, mais de 37 milhões de pensionistas e aposentados.
Assim, é preciso tirar os aposentados daqueles mais de 154 milhões; em seguida, considerar os requisitos socioeconômicos etc. E então se chegaria aos 66,9 milhões.
Mais: entre os 66,9 milhões que receberam o Auxílio Emergencial, estavam os que já recebiam antes o Auxílio Brasil (Bolsa Família): algo em torno de 44,9 milhões.
Agora olhem para a lista de exigências. É crível que metade dos golpistas presos se encaixa naqueles critérios — e estamos falando, pois, de pessoas pobres? Teriam condições de deixar tudo para participar de um golpe de estado?.
O levantamento evidencia ainda:
– aproximadamente 60% dos detidos são homens;
– maioria possui idade entre 36 e 55 anos; – cerca de um quinto é filiado a algum partido;
– alguns dos presos se candidataram em eleições passadas ou forneceram serviços para campanhas políticas.
Estavam aptas a votar 154,6 milhões de pessoas em 2022, e se estimava em 16 milhões o número de pessoas filiadas a partidos — 10,3%. Perceberam? Entre os presos, a filiação a partido corresponde ao dobro do que há no Brasil.
O conjunto da obra permite concluir que a alta moralidade de cada bolsonarista golpista e o padrão ético do grupo convivem muito bem com a mamata. Fosse verdade que metade se encaixa no perfil dos beneficiários do Auxílio Emergencial, cumpre indagar como conseguiram dar uma pausa nos seus afazeres para ficar dois ou três meses acampados. Como não existe mais o auxílio, vivem de quê?
Ademais, todos os recortes que cruzam renda e voto, sem exceção, indicam que a maioria dos eleitores na faixa de renda que suscita o auxílio votou em Lula.
Dados os números, é evidente que é preciso investigar, também, os indícios escancarados de fraude a que golpistas recorreram para receber o Auxílio Emergencial.
Como sabemos, todos estavam lá a pedir golpe em nome da moral, dos bons costumes e da retidão no uso do dinheiro público, né? E estavam mamando nas tetas do Auxílio Emergencial.