Essa informação foi publicada ontem pela Folha de São Paulo. O juiz Gilberto Gomes de Oliveira Junior, da 1ª Vara Cível de Brusque, é filho do desembargador Gilberto Gomes de Oliveira, que estava no jantar na mansão de Luciano Hang essa semana.
O banquete de Natal e fim de ano, oferecido pelo autoproclamado véio da Havan a 11 desembargadores e juízes, foi noticiado pelo jornalista Vinicius Segalla, no DCM. Há outros empresários no jantar.
O juiz filho do desembargador, citado pela Folha, já condenou acusados de provocar danos morais por comentários sobre o véio da Havan, seus problemas com a Justiça, sua militância cloroquinista e seu ativismo de extrema direita.
O fato de o juiz ser filho do desembargador que janta com Hang seria desabonador? Não é. Não é nada disso. O que a Folha informa aqui é que há uma rede em que pais, filhos, empresários e gente com poder se misturam. A história, a literatura e o cinema mostram como isso vem funcionando há séculos. E ainda funciona.
Eu sou um dos condenados em Brusque esse ano por esse mesmo juiz. Por ter escrito, em agosto de 2021, que não me convidassem para levantar uma estátua da liberdade de plástico de qualquer loja do véio.
Sim, fui condenado por escrever que não participaria de nenhum vandalismo contra as estátuas, mas que não ajudaria a levantar uma aberração como aquela. E por ter dito que o empresário deveria inaugurar uma loja em Cabul, o que poderia (segundo o juiz) configurar incitação ao ódio. Ora, o que eu disse e está no texto é que, se fala tanto em liberdade, Hang deveria investir em um lugar com ‘liberdades’. Qual delito eu cometo dizendo isso?
Meu texto é forte, como deve ser qualquer abordagem sobre esse sujeito. Mas não contém inverdades e não configura nenhum crime ou calúnia ou injúria ou difamação.
Tanto que o mesmo artigo, publicado no meu blog e no DCM, foi usado em queixa-crime do sujeito contra mim, em Porto Alegre, e eu fui absolvido. O véio tentou me transformar em criminoso. O Ministério Público não viu crime. O juiz não viu crime.
Mas em Brusque poucos escapam e eu fui condenado por disseminar ódio contra uma estátua. Por dizer que uma cópia grotesca, que agride áreas urbanas em todo o Brasil, inclusive em espaços históricos, não teria minha ajuda para ser levantada e deveria estar no meio dos talibãs. Kiko Nogueira, diretor do DCM, também foi condenado.
Posso ser condenado por ter escrito que, se derrubarem Bolsonaro, eu não ajudo a levantá-lo? Que poder tem essa estátua?
É a situação de Santa Catarina. Esse processo contra mim está em recurso no Tribunal de Justiça do Estado. É o mesmo tribunal que abriga desembargadores participantes de banquetes na mansão do autoproclamado véio da Havan, personagem de dezenas de processos nesse mesmo tribunal.
O Tribunal de Justiça de Santa Catarina tem a chance de provar que não teme o poder econômico e não tem, ao contrário de alguns de seus membros, nenhuma relação institucional de proximidade, nem mesmo gastronômica, com o empresário.
Escrevo esse texto em nome de todos os que sofrem assédio judicial de figuras impunes até hoje, apesar de investigadas, inclusive em inquéritos relatados pelo ministro Alexandre de Moraes, por suspeita de envolvimento em todo tipo de crime.
E que boa parte do jornalismo, até agora indiferente às perseguições dos poderosos bolsonaristas, finalmente resgate parte da bravura que a grande imprensa já teve no Brasil. Acordem, covardes.