Em 6 de março alertei, no artigo O contágio do coronavírus é na economia de Gravataí; GM pode parar.
Nesta quarta, a General Motors comunicou em nota que “com o objetivo de ajustar a produção à demanda do mercado, a GM concederá férias coletivas aos seus empregados no Brasil a partir de 30 de março”.
Cinco mil trabalhadores da fábrica e de sistemistas do complexo automotivo de Gravataí vão parar toda a produção por pelo menos 14 dias.
No artigo anterior, trouxe uma estimativa da tragédia que é a suspensão da produção de veículos em Gravataí.
É preciso contabilizar perdas imediatas no giro com salários, em um possível layoff (suspensão temporária de contratos de trabalho); e também perdas futuras, com o Valor Adicionado Fiscal, que é um indicador econômico-contábil utilizado pelo Estado para calcular o índice de participação municipal no repasse de receita do ICMS, que reflete daqui a dois anos, e considera todas as operações com mercadorias/produtos que constituem fato gerador do imposto.
Ao fim, uma GM parada corresponde a um rombo de R$ 10 milhões a cada mês.
Ou quase duas pontes do Parque dos Anjos a cada 30 dias.
Aos que, há 12 dias, acharam que fiz terrorismo na análise, lamento informar: o ‘contágio econômico’ deve ser ainda maior.
Na nota de hoje, a comunicação da montadora não deu detalhes sobre o alcance do “ajuste da produção à demanda do mercado”.
O presidente da GM na América do Sul, sim.
Após entrevista com Carlos Zarlenga, o Valor Econômico, mais importante veículo de economia, finanças e negócios do Brasil, creditou ao executivo a informação de que “a General Motors decidiu adiar seu mais recente plano de investimentos, de R$ 10 bilhões entre 2020 e 2024”.
No ‘show do bilhão’ está o R$ 1,4 bi que a GM anunciou em 2017 para Gravataí, consolidando a unidade como a mais importante da montadora na América Latina.
– A nova linha de produção já está rodando. Aguardamos informações sobre suspensão de investimentos. Fomos informados apenas das férias coletivas – surpreende-se Valcir Ascari, o ‘Quebra-Molas’, Sindicato dos Metalúrgicos de Gravataí, que relata um momento de medo dos trabalhadores do complexo automotivo.
– O mundo está em pânico.
A expectativa do sindicalista é pelo cumprimento do acordo salarial válido por dois anos e firmado em 2019, na crise em que a GM ameaçava fechar as fábricas na América Latina, o que tratei em artigos como Acordo Mercosul-União Européia é ruim para GM Gravataí; there is no free lunch, nem marmita grátis, Trump, Gravataí, almoço e marmita de graça; o futuro da GM, O que queria que a GM mostrasse ao prefeito; é dúvida de todos, acredito, Se precisar fechar GM, fecha; secretário de Bolsonaro avisa, Gravataí espera aterrorizada, O blefe da GM; quem paga esse almoço? e Onde a Gravataí da GM encontra a mulher do Bolsonaro e a filha de Moro.
– Torçamos que não aconteça uma calamidade.
Em sua coluna em GaúchaZH, a jornalista Giane Guerra postou há minutos que “segundo fontes do mercado, a montadora tem estoque de carros para 45 dias”.
O ‘contágio econômico’ pode ir ainda mais além. Ainda não há decisão, mas a expectativa de Flávio de Quadros, presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria da Borracha, é que a italiana Pirelli e a chinesa Prometeon também parem em Gravataí.
– Mais cedo ou mais tarde é o que deve acontecer. Se não por decisão das empresas, talvez por medidas governamentais. Neste momento, estamos cobrando prevenção – diz.
As direções das empresas já receberam ofício do presidente solicitando medidas como ampliação do número de ônibus e do horário de refeição, controle de aglomerações e distribuição de álcool gel.
Apesar de cauteloso com as negociações salariais de 2020, o sindicalista mostra segurança no cumprimento do Plano de Demissão Incentivada (PDI) que encerrará as atividades da Pirelli em 2021, conforme tratei em artigos como O acordo sindical que ’injeta’ 250 milhões na economia de Gravataí e Tirando a bunda da cadeira para socorrer Pirelli; Eles Não Usam Black-tie.
– Está sacramentado judicialmente – reforça.
Ao fim, preparemo-nos não apenas para danos de 20 semanas, a projeção para a crise do coronavírus. Aguardo dados oficiais da Secretaria da Fazenda. Mas, inegável é que, nas contas de Gravataí, a paralisação da GM e de outras empresas cobrará uma fatura diária de Marco Alba, pela 'quarentena' a qual passará o movimento da economia. E também é boleto para quem comandar a Prefeitura a partir de 2021, já que a queda de receita pelas perdas de 2020 é uma certeza em 2022.
São e serão tempos de guerra.
Não é alarmismo, são os fatos, aqueles chatos que atrapalham argumentos.
LEIA TAMBÉM
Gravataí prepara ’estratégia de guerra’ contra coronavírus; crise não é um meme
Clica aqui para ler mais sobre a crise do coronavírus no site do Seguinte: