A General Motors de Gravataí parou. Começaram nesta segunda-feira as férias coletivas que vão até 20 de março. Notícias de Brasília tranquilizam sobre um eventual pinote da montadora do Brasil, assim como fez a Ford. É que, se tudo der errado, a China pode ‘salvar’ Gravataí, que tem metade do orçamento gerado pela GM.
Antes, contextualizo mais uma vez. Abaixo, na conclusão do artigo, trago o que conta fonte que transita pelos carpetes da capital federal sobre interessados no futuro da fábrica gravataiense.
Vamos lá.
No Grande Tribunal das Redes Sociais alguns julgaram fake news meu artigo Por que a GM de Gravataí pode parar em 2022; Perdas na pandemia somaram 50 milhões, publicado pelo Seguinte: dia 16 de janeiro, mas a informação foi confirmada como reportei em Confirmado: GM vai parar em Gravataí; Custa 5 reais por minuto.
Em nota a empresa informou sobre uma “parada técnica para atualizações na linha de produção”. Mas o mercado sabe que a paralisação da fábrica gravataiense em 2022, assim como por cinco meses em 2021, acontece por falta de insumos. Um problema mundial, consequência da pandemia.
Em Gravataí a produção retornou em agosto, mas ainda sem um dos turnos.
Se em 2020 as paradas aconteceram devido às restrições sanitárias da pandemia, o motivo pela montadora ter produzido menos em 2021 foi a falta de peças. Em especial, semicondutores, cuja escassez também já paralisou indústrias de veículos da Chevrolet em outros países. São os mesmos usados em chips para aparelhos de celular, por exemplo.
No artigo que referi, adverti: “… A política de ‘covid zero’ da China pode forçar a General Motors a fechar em Gravataí, e no Brasil…”.
Marta Sfredo, principal colunista de economia de GZH, também postou: “… o que estava desenhado como o principal risco para 2022 do Eurasia Group começa a se materializar: com a disseminação da variante ômicron pela China, o governo do país insiste na política ‘covid zero’ e volta a impor lockdows em cidades afetadas…”.
A jornalista citava relatório do Banco Original que informou que empresas como Samsung, Volkswagen e fornecedoras de marcas como Nike e Adidas já enfrentavam impactos na cadeia.
Também de acordo com a instituição financeira, a Toyota já tinha paralisado operações fabris em Tianjin, cidade que é um centro industrial responsável por 1,7% das exportações chinesas.
Ainda segundo cálculos do Original, o atraso de uma semana no comércio essencial no porto de Ningbo, a cerca de 1,1 mil quilômetros ao sul de Tianjin, já afetava operações estimadas em US$ 4 bilhões, incluindo a exportação de US$ 236 milhões em placas de circuitos integrados.
– A escassez desses semicondutores travou a produção de vários segmentos ao redor do mundo, especialmente da indústria automobilística – concluiu ela, sem citar a General Motors, o que fiz nos artigos anteriores, e faço novamente.
A conta da tragédia, como reportei no ano passado em Os milhões que Gravataí já perdeu com a GM parada; Aguente firme, Dominic!, é de que a pandemia tenha provocado perdas de pelo menos R$ 50 milhões em impostos que retornariam em 2022 aos cofres da Prefeitura.
Em uma média, o complexo automotivo que tem 5 mil funcionários, incluindo as 18 empresas sistemistas, ficou completamente parado por 10 meses entre 2020 e 2022. São cinco reais perdidos por minuto; R$ 5 milhões a cada mês.
Essa redução na produção corresponde a 40% dos R$ 200 milhões recebidos de todos os impostos recolhidos pelo município.
A parada de 2021 também fez com que o Onix, produzido em Gravataí, perdesse para o Fiat Strada a liderança de vendas que comemorava desde 2015. O Onix também perdeu a liderança no ranking sem veículos maiores, como picapes, para o HB20, da Hyundai.
São perdas que se somam aos impactos do dinheiro a menor circulando na economia local.
Agora vamos ao que, no caso de pinote, é boa notícia.
Como tudo é gigante quando se trata, para o bem ou para o mal, dos impactos da relação GM-Gravataí, busquei com fonte de Brasília informações sobre o que se sabe – ou se fala – sobre o futuro da montadora.
– Printa e me cobre: Gravataí não vai perder nada.
A fonte, que pede anonimato, conta que Great Wall, que comprou a fábrica da Mercedes Benz em São Paulo, tem interesse no complexo de Gravataí. A GM também tem perspectivas de, em caso de sair do Brasil, vender a operação para a BYD e a Keyton.
– Todas as três são chinesas e uma leva Gravataí – afirma.
A GM, agradando ao governo norte-americano, que já socorreu a empresa, ficaria com 4 fábricas no mundo: Estados Unidos; México; Argentina e China. Mais parcerias da Opel na Alemanha e Mahindra na Índia, além de uma nova parceria a ser firmada na Coreia. A operação no Japão também já foi vendida para o parceiro local naquele país.
Conforme a fonte de Brasília, na fila de desembarque no Brasil para montagem de carros elétricos estão no Ministério da Economia nada menos que 6 montadoras chinesas e 3 indianas.
– O Brasil pode se tornar o maior polo automotivo não-poluente do planeta.
Como não há almoço de graça, como gostam de dizer os executivos, resta aprovar um projeto de lei de incentivo à produção e redução da carga tributária nacional para o setor; o que nunca foi, e nem será uma dificuldade no Congresso.
Ao fim, a volta do segundo turno da GM no segundo semestre de 2021, com produção recorde, indicava a salvação das perdas. Uma nova parada em 2022 liga o pisca-alerta, mesmo para a Gravataí que “tem dinheiro”, como o prefeito Luiz Zaffalon (MDB) disse em janeiro na entrevista Um ano de governo, 1h com Zaffa: balanço e perspectivas; Covid, Rio, investimentos, Zaffari, pauta-bomba da Sogil e outras polêmicas.
A General Motors é uma bênção para Gravataí e, com a 'GMdependência', seria uma catástrofe desistir do Brasil, como já tratei em artigos como A GM vai embora de Gravataí; O ’Tchau, Ford!’ e nós e Se ou quando a GM for embora de Gravataí; o cavalo e o burro em 2024. A informação de que, caso tudo dê errado, há interessados em comprar a montadora; e o complexo de Gravataí, ainda mais para investir em carros elétrico, nos permite dormir menos intranquilos.
Com a – mais ou menos – imprevisibilidade da pandemia, seguimos como aquela personagem do Millôr que se jogou do décimo andar e, ao passar pelo oitavo, constatou: “até aqui tudo bem”; e, ao chegar ao segundo andar, refletiu: “bem, se eu não me machuquei até aqui não é neste pedacinho à toa que vou me arrebentar”.