crise do coronavírus

Gravataí pode ter 12 vezes mais infectados por COVID 19; reabrir ou não comércio?

UPA de Gravataí recebendo desinfecção que equipes da Prefeitura fazem em unidades de saúde e área de maior movimento

Gravataí tem mais de 12 vezes o número de casos confirmados da COVID-19, conforme pesquisa apresentada nesta quarta pelo Governo do RS, cujos resultados completos você lê clicando aqui.

Com mais uma paciente infectada –uma mulher de 43 anos, que procurou atendimento no 24H e foi transferida para a UTI do Hospital Conceição, em Porto Alegre – os 21 casos representariam 252.

É um levantamento otimista frente à aplicação que fiz de estudo realizado pelo governo do Distrito Federal, que indica um potencial de 4 mil infectados em Gravataí, como tratei em É moralmente homicida pressão pela volta da ’vida normal’; o que fará Gravataí?.

Mas foquemos no estudo gaúcho, realizado por universidades públicas, e que já apresentei em O estudo que prorrogou para o dia 30 abertura do comércio; Gravataí, Cachoeirinha e Glorinha teriam 15 vezes mais casos, porque é o modelo matemático e epidemiológico que orienta o governador nos decretos de distanciamento social – seguidos pelos nossos prefeitos.

Na live de hoje, Eduardo Leite não sinalizou prorrogar a ‘quarentena’, que conforme seu último decreto termina nesta quinta na região metropolitana. Significa que o comércio pode reabrir a partir do feriado da sexta.

– Vamos conviver muito tempo com o vírus. Não há como parar tudo para sempre. As pessoas precisam garantir o sustento. Estamos formando indicadores, conforme a velocidade do vírus e a capacidade de leitos, para permitir a retomada conforme cada região – disse, sem apresentar dados regionais para além da pesquisa que nos últimos dois meses já atingiu 9 mil pessoas no Estado.

Em Gravataí, Marco Alba faria uma transmissão ao vivo nesta noite, mas remarcou para amanhã, 19h30. O prefeito ainda não respondeu a consulta feita pelo Seguinte: neste fim sobre a autorização para reabertura do comércio, como sinalizou domingo, quando disse apenas esperar pelo governador para apresentar regras sanitárias para a retomada em um ‘distanciamento controlado'.  

Não deveria, analiso, e não ‘opino’, já que minha argumentação toma como base o estudo gaúcho que fez 4,5 mil testes em nove cidades, que correspondem a 31% da população, e no qual Canoas foi a ‘cidade sentinela’ para Gravataí.

Além de especialistas como Eduardo Sprinz, chefe da Infectologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, alertarem para a necessidade do distanciamento social por 10 semanas (chegamos à metade disso), os dados da pesquisa científica comandado pela UFPEL são preocupantes.

Antes, o trágico quadro geral: pelo indicador R, do Imperial College, instituto mais usado no mundo para medir a pandemia, o Brasil tem a maior taxa de contaminação do planeta: 2,8. Significa que cada infectado contamina outros 3. Na Alemanha é 0,8, ou 1 para 1.

Com 5.466 mortes, o país do presidente que chamou a COVID -19 de ‘gripezinha’ ultrapassou a China em óbitos. A taxa de letalidade – que é a proporção entre casos e óbitos – é de 7%. Só nas últimas 24h foram confirmados 6.276 casos de infecção pelo SARS-CoV-2. No total, há 78.162 confirmações oficiais de brasileiros que tiveram contato com o vírus: 34.132 curados (44%), 38.564 (49%) em tratamento/acompanhamento e outras 1.452 mortes sob investigação.

No Rio Grande do Sul são 1.420 casos oficiais, com 51 mortes. Os recuperados são 825 (51,8%), os pacientes em tratamento/acompanhamento são 544 (38,3%) e os óbitos 51 – uma taxa de letalidade de 3,65.

Pela pesquisa apresentada hoje pelo governo do RS, quando os casos estavam em 1.350, o contágio já chegaria a 15 mil pessoas. Na primeira fase da pesquisa, cujos exames foram divulgados em 1º de abril, eram 5.600. Nos 4,5 mil entrevistados em cada fase, na primeira foi detectada uma infecção a cada 2 mil; na segunda 1 a cada 769.

O percentual de pessoas com anticorpos, ou seja, que já tiveram contato com o vírus, tenham ou não manifestado sintomas, é de 0,13%. Na estimativa, em um milhão de habitantes, a população de Porto Alegre, teríamos 1.300 infectados. Em Gravataí, com 281 mil habitantes, 422. Significa que o potencial de contágio ainda é imenso.

Mas o dado que reputo mais preocupante é relativo à alta taxa de transmissibilidade. Familiares dos casos detectados como positivos pela pesquisa também foram testados: 75% também estavam contaminados. Poderia ter chegado a 100%: dos 6, um morava sozinho e em outro caso, onde quatro familiares foram positivados, um quinto que morava na residência não foi localizado para fazer o teste.

Essa ‘virulência do vírus’, aplicada sobre os dados que mostram que as pessoas estão aos poucos abandonando o distanciamento social, permite a projeção de um longo inverno de contaminação.

Na primeira fase da pesquisa do governo do RS, 20,6% das pessoas saiam diariamente de casa. Um mês depois, são 28,3%. O percentual dos que ficam em casa reduziu de 21,1% para 18,3%. Para efeitos de comparação, no levantamento Seguinte:/Studio Pesquisas, com dados coletados entre 25 e 30 de março, quase que simultaneamente ao estudo público, em Gravataí 10,7% disseram sair “todos os dias” para trabalhar.

Nossa pesquisa, que além da percepção da pandemia, tem avalições dos governos municipal, estadual e federal no enfrentamento à crise do coronavírus, você acessa em Pesquisa mostra que Gravataí aprova o ’fecha tudo’ de Marco Alba, Gravataienses temem perder renda mais que emprego, diz pesquisa e Governo, família ou amigos: de quem gravataiense espera ajuda na crise.

A força de ‘cura’ do distanciamento social é reforçada pela ‘interiorização’ do vírus. No início de abril, Porto Alegre tinha 190 casos e o restante do RS 115. Dados de hoje mostram que enquanto a Capital teve duas vezes mais casos, no interior o número de infectados multiplicou por sete, atingindo um quarto do Estado.

Lajeado, uma das cidades que abriu antes o comércio, já no período da Páscoa, já é o terceiro em casos e mortes no RS (84 e 4). Como consequência, nesta quarta o prefeito Marcelo Caumo decretou um lockdown, o fechamento total de qualquer atividade entre a noite desta quinta e a manhã da próxima segunda.

Passo Fundo, outra cidade onde o ‘liberou geral’ começou com a autorização para a venda de chocolates, a explosão de casos já faz com que 9 a cada 10 leitos de UTI estejam ocupados.

Para se ter uma ideia, Porto Alegre, o ‘epicentro’ da COVID-19 no RS, tem 560 leitos com uma ocupação de 66,2%, média que mostrei ao ter acesso ao painel de controles de UTIs em É moralmente homicida pressão pela volta da ’vida normal’; o que fará Gravataí?.

Ao fim, figura que criei, os comerciantes passam mal ao ver os boletos chegando e perdem cada vez mais a respiração com a chegada do dia 5, o pagamento dos funcionários. Mas a pesquisa do governo do RS – ao mostrar que, em resumo, há um grande público alvo para contágio e uma alta taxa de transmissão, que explodiu nas cidades que saíram do distanciamento social – não garante segurança nenhuma de que é o momento adequado para a retomada das atividades econômicas.  

Parece-me que reabrir não é nada além de desespero pela quebradeira geral, como demonstra a declaração do governador, que reproduzi neste artigo. Evidência da certeza de Eduardo Leite de que o sistema de saúde vai colapsar é que ainda hoje fez um apelo ao Ministério da Saúde por mais 298 leitos para o RS, que tem um total de 1,7 mil.

– Há cidades que não adotaram medidas de isolamento, ou tiveram um comportamento mais relaxado em relação à determinação de manter as pessoas em casa, agora as UTIS estão ficando lotadas – avaliou o infectologista do Hospital Conceição André Luiz Machado da Silva, para GaúchaZH.

Talvez na live de amanhã o prefeito Marco Alba transmita tranquilidade para a população de Gravataí; e Miki Breier faça o mesmo em Cachoeirinha. Infelizmente, não vejo como. Urge que informe até onde podemos ir. Vamos reabrir apostando no bom comportamento da população e no respeito às regras sanitárias pelos comerciantes mas, provavelmente, precisaremos fechar tudo de novo.

Um lockdown talvez chegue antes do frio.

Se Gravataí é uma incerteza, o Brasil não: somos o próximo Estados Unidos, hoje epicentro do novo coronavírus.

 

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Clique aqui para ler a cobertura do Seguinte: para a crise do coronavírus

 

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