RAFAEL MARTINELLI

Gravataí poderia ter um Memorial para 1.116 vidas perdidas pela covid; O ‘PIXida’ genocida

Para lembrar: retirada do container que armazenava corpos no hospital de Gravataí no auge da pandemia da covid-19 | Foto ARQUIVO

Gravataí poderia ter seu memorial para lembrar as vítimas da covid-19, assim como o Brasil terá, conforme anunciou a ministra da Saúde, Nísia Trindade. Além da reverência às vidas perdidas, serviria para nunca esquecermos dos efeitos nefastos de uma política de estado potencialmente homicida cometida pelo então deprimente da república; volto a isso após as informações, porque 1 a cada 4 mortes poderiam ter sido evitadas.

Do primeiro caso da pandemia, em 20 de março de 2020, até esta quinta-feira, 3 de agosto de 2023, foram registrados 45.388 infectados e 1.116 mortes; desde a primeira vida perdida em Gravataí, em 26 de abril de 2020, chegamos a uma média de quase 1 vida perdida por dia.

Para efeitos de comparação, em maio de 2021, mês mais virulento, registramos média de 6 óbitos a cada 24 horas.

No Brasil os números oficiais de hoje são de 37.728.415 casos e 704.794 mortes desde o início da pandemia. No mundo, 692.577.488 infecções e 6.903.987 vidas perdidas.

Dados do Portal Coronavírus da Prefeitura contabilizam 45.388 infectados nestes três anos e quatro meses – 52.41% mulheres e 37.62% homens; 21.79% até 59 anos; 26.8% até 39 anos e 13.8% até 17 anos.

Foram aplicadas pela Secretaria Municipal da Saúde 547.966 doses de vacinas, frente a uma população de 281 mil habitantes.

Agora vamos às responsabilidades.

Excluo o ex-prefeito Marco Alba e o atual Luiz Zaffalon, que enfrentaram a pandemia, assim como Miki Breier, em Cachoeirinha.

Eventual culpa tem os dois primeiros indiretamente, por terem sido, no segundo turno de 2018, eleitores de Jair Bolsonaro, e novamente no segundo turno de 2022, após a tragédia acontecida.

Inegável é, porém, que suas políticas municipais de saúde nunca foram negacionistas.

Vacinaram-se e permitiram vacinar. Usaram máscaras em público. Preservaram suas comunidades ao regulamentar atividades econômicas com decretos que as milícias de fake news jocosamente chamaram de ‘fica em casa’.

Infelizmente, restou o estrago de ter na Presidência da República um irresponsável, um desvairado, que precisou ser tutelado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), ou não teríamos vacinas, ‘Orçamento de Guerra’ ou um auxílio emergencial minimamente suficiente – Paulo Guedes queria dar três parcelas de R$ 200 para desempregados e informais e mandar para casa, por 15 dias e sem salários, aqueles que tinham contrato de trabalho.

Possivelmente teríamos país afora experiências factualmente homicidas, como a ‘imunidade de rebanho’ e a cloroquina que ajudou a sufocar Manaus.

O dano foi tamanho que mesmo que as vacinas tenham salvo pelo menos 20 milhões de mortes – e ajudado a, em 5 de maio deste ano, a Organização Mundial da Saúde (OMS) ter declarado o fim da Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional –, saímos da pandemia com vacinas (qualquer tipo delas) mais desacreditadas que antes da covid; campanhas contra a Polio, por exemplo, beiram o fracasso e o índice de confiança na ciência atingiu o menor percentual já registrado em uma série histórica de 10 anos: 68,9% conforme pesquisa do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Comunicação Pública da Ciência e da Tecnologia, divulgada em dezembro.

É a herança da covidiotia.

Aplicando em Gravataí fórmula constante no relatório final da investigação feita na CPI da Covid, no Congresso Nacional, poderíamos ter evitado pelo menos 500 das 1.116 vidas perdidas, tivesse o governo federal atuado sem negacionismo, e sim em articulação com estados e municípios na compra, divulgação e aplicação de vacinas, além das comprovadamente necessárias restrições sanitárias.

Ao fim, não sou eu, são os fatos, aqueles chatos que atrapalham argumentos, que culpam por parte das mortes na pandemia aquele que foi um deprimente da república e, ao vivo, retirou máscara de criança, imitou gente sufocando e disse que não seria vacinado – seja verdade, ou apenas um apito de cachorro a seus símiles, napoleões de hospício.

Nem uma vida será suficiente para apagar da minha memória imagens da UTI lotada, de gente embaixo de cobertores no chão do hospital de campanha, de sacos pretos que isolavam vítimas enterradas sem velório, ou do que talvez já fosse um memorial triste e macabro: o container instalado ao lado do Hospital Dom João Becker para armazenar corpos.

Eu faria um pix para ajudar na construção de um Memorial Para As Vítimas da Covid em Gravataí. Há quem prefira homenagear com dinheiro um ‘PIXida’ genocida.

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