opinião

Hoje chocolate, amanhã UTI em Gravataí

Guarda Municipal cumpre ordem de fechar comércio que descumprem decreto que só permite reabertura dia 16 | Foto PREFEITURA DE GRAVATAÍ

Um dos Grandes Lances dos Piores Momentos da crise do coronavírus não vai ‘contaminar’ Marco Alba. O ‘liberou geral’ para venda de chocolates pelo governador Eduardo Leite não vai valer na Gravataí que registrou mais dois casos da COVID-19 nas últimas 24 horas.

O prefeito vai manter o isolamento social.

Agentes de fiscalização municipal já estão no Centro e nos bairros determinando fechamento de estabelecimentos conforme o Decreto Municipal 17.856, que prevê a reabertura do comércio somente no dia 16 de abril.

O incendiário, e covarde decreto estadual 55.177, publicado nesta manhã sem apresentar nenhum estudo sanitário que embase o afrouxamento da quarentena, repassa a responsabilidade aos prefeitos ao prever que “restaurantes e lancherias”, serviços de higiene pessoal, “tais como cabeleireiros e barbeiros” e “estabelecimentos dedicados ao comércio de chocolates” poderão atender ao público, desde que expressamente autorizados por norma municipal” e observando normas sanitárias de uso de equipamentos de proteção individual e distanciamento.

Clique aqui para ler a íntegra do decreto.

O Seguinte: consultou a Prefeitura logo após a edição do decreto estadual e, agora há pouco, a Comunicação divulgou nota com o posicionamento do governo municipal.

Siga e, ao fim, comento mais.

 

A Prefeitura de Gravataí intensificou a fiscalização nesta véspera de feriado de Páscoa para que o comércio se mantenha fechado pelo menos até o dia 16, conforme o Decreto Municipal 17.856, independentemente do novo decreto do governador Eduardo Leite, liberando essa atividade.

A decisão, conforme o decreto do governo do Estado transfere a responsabilidade para os municípios. A decisão do prefeito Marco Alba é pela manutenção das medidas de restrição e de reforço do distanciamento social.

Equipes da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Turismo (SMDET), com apoio de agentes da Guarda Municipal, estão circulando por todas as regiões da cidade.

– O próprio governador Eduardo Leite afirmou que a autonomia de manter fechado é dos prefeitos e esta será a minha determinação, que pode ser estendida até o final do mês – reiterou Marco Alba.

O secretário municipal de Desenvolvimento Econômico e Turismo, Victor Johnson, afirma que a maior incidência de desobediência no comércio está ocorrendo nos bairros.

– Mas no Centro, na manhã de hoje, também realizamos o fechamento de diversos locais.

Ele lembra que, além de ter o estabelecimento fechado, o comerciante que descumprir a determinação municipal também será multado.

– Desde o início do período de distanciamento social, a Guarda Municipal vem operando conforme as orientações do prefeito Marco Alba, que é conscientizar as pessoas sobre a importância de ficar em casa e seguir as orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS), com o objetivo de tentar diminuir a curva desta pandemia no nosso município.

Os agentes circulam pelos bairros a pé e em viaturas, fiscalizando, orientando e, quando necessário, interditando os estabelecimentos que insistem em descumprir as normas legais.

– Além disso, estamos acompanhando as ações da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo e da Secretaria Municipal da Saúde – acrescenta o secretário.

 

Analiso.

Antes, um pouco de contexto, a ‘ideologia dos fatos’.

Um milhão e meio de pessoas já foram infectadas pelo novo coronavírus no mundo, em balanço sobre a pandemia divulgado pela Universidade Johns Hopkins, dos Estados Unidos, às 14h (de Brasília).

A descoberta do novo vírus na China foi comunicada à Organização Mundial da Saúde (OMS) no fim de dezembro de 2019. Desde então, 89 mil morreram em decorrência da COVID-19.

O Ministério da Saúde registra até às 14h 16.496 casos do novo coronavírus no Brasil, com 841 mortes.

O número de casos confirmados no Rio Grande do Sul subiu para 618, com 14 mortes, conforme boletim das 14h da Secretaria Estadual da Saúde.

Em relação ao levantamento do dia anterior, houve um aumento de 6,3% nos casos registrados.

Em Gravataí, já são 13 casos e 16 pacientes aguardando confirmação. Aplicando a ‘fórmula 1 para 30’ usada por especialistas para apontar a subnotificação da infecção, e que tratei nos artigos Vítimas da COVID 19 devem ser cremadas em Gravataí; caixão fechado e O perfil dos infectados pela COVID 19 em Gravataí; de 11 para 330 casos?, potencialmente teríamos registrados hoje não 117, mas 3.510 notificações; não 16 mas 480 pacientes aguardando resultado de exames; não 13 mas 390 casos confirmados e não 88, mas 2.640 suspeitas descartadas.

A mim parece inexplicável ‘liberar o chocolate’, e sobre isso já tratei em José Rosa quer comércio aberto para vender chocolate em meio à crise do coronavírus; oração póstuma, quando evoquei a Oração Póstuma, do Millôr, que em trecho diz que “agora estamos empenhados numa guerra civil para verificar se tal subnação – como outras, assim concebidas – pode existir e perdurar. Estamos aqui, reunidos num campo de conflito dessa guerra. Viemos aqui dedicar uma parte desse campo como último lugar de repouso – uma colônia de férias – para aqueles que tiraram tantas vidas a fim de que essa subnação possa sobreviver”.

É um símbolo ruim para outros comerciantes (necessariamente) parados devido aos riscos da pandemia, e que quase morrem em casa de tanto fazer contas de boletos e ficam cada vez mais sem ar à medida que se aproxima o dia 5 de cada mês.

Eduardo Leite também corre da responsabilidade de decidir, com um corpo sanitário técnico infinitamente maior que as prefeituras, e joga os prefeitos contra seus comerciantes e a comunidade.

Que plano de contingência é esse do Estado do Rio Grande do Sul que, em 24h, decide que é possível abrir isso ou aquilo sem nenhuma justificativa sanitária?

Feio, pusilânime senhor Eduardo Leite!

Por óbvio é triste o momento por que passam lojistas, sejam vendedores de chocolate ou de carros usados. Mas estamos todos sob um novo contrato social que nos exige inimaginável – e caro – compromisso.

Se me permitem uma esperança econômica: países que foram mais duros nas medidas para ‘achatar a curva’, como a China, ou a Nova Zelândia, estão saindo antes da crise.

A quarentena não é para sempre, como entendem desinformados, e falseiam informados do mal. Mas atentem que esse tempo de isolamento, que parece um ano!, não completou 30 dias ainda, e o Ministério da Saúde alerta que abril é o pico do contágio.

Se o governador Eduardo Leite já entende estar com uma retaguarda pronta para não deixar ninguém sem respirar, faz bem o prefeito Marco Alba em esperar que em Gravataí fiquem prontos os 42 leitos de triagem do ‘hospital de campanha’, junto ao Dom João Becker, e da ‘enfermaria de campanha’, junto ao 24H. As obras começaram nesta terça.

Precisamos de uma rede de saúde municipal minimamente preparada para receber e ‘separar’ pacientes, e se necessário colocá-los em respiradores até podermos transferi-los para leitos de UTI nos hospitais de referência para tratar a COVID-19: Clínicas e Santa Casa, em Porto Alegre; e Hospital Universitário, em Canoas.

Aos ‘neoSUSialistas’ é preciso lembrar que nosso sistema de saúde no país é para todos, mas há décadas resta universalmente falido, e neste momento profissionais de saúde respiram ‘aerossóis’ sem EPIs em hospitais Brasil afora.

Leitos pelo SUS e em UTIs sempre estiveram ocupados. 95% é a média nacional, 97% a de Gravataí. Na aldeia, não temos leitos suficientes nem mandando para casa todos hospitalizados, ou decretando que bebês não nasçam, crianças não se quebrem, jovens não se acidentem ou sejam baleados, adultos não tratem câncer e idosos não enfartem.

Ao fim, neste momento em que até Gramado grita mais que a ciência, solidarizo-me aos prefeitos brasileiros, que pisam no chão, em calçamento ou no barro, e tem coragem de pensar em preservar antes de tudo a vida daqueles que encontram na fila do banco ou no supermercado.

São navios abandonando o rato.

 

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