Seguinte: foi atrás de informações para colocar o leitor por dentro de uma das principais promessas dessa eleição: a construção de novo hospital na cidade
Dá para fazer um novo hospital público em Gravataí? A resposta é tão complexa quando enigmática: sim e não.
Sim: dinheiro para a obra, se consegue. Há fontes federais de financiamento, além do próprio orçamento da Prefeitura, do Governo do Estado e até de municípios parceiros interessados em algum tipo de consórcio.
Depois disso é que começam os problemas e surge o primeiro 'não' dessa história: Gravataí, sozinha ou mesmo em parceria com cidades da região, não tem como bancar o custeio mensal de uma estrutura complexa – e cara – como um hospital público.
– Foi exatamente aí a coisa parou quando se fez toda aquela discussão sobre o hospital regional – lembra a arquiteta Denise Cézar, que trabalhou como servidora concursada da Secretaria da Saúde por quase oito anos.
Que papo de hospital é esse?
O Seguinte: tomou como base de referência para essa reportagem o acúmulo de informações do projeto do Hospital Público Regional.
Lembrando: ainda em 2007, a cidade capitaneou um movimento em busca de recursos para o projeto. As cidades do entorno, como Cachoeirinha, Alvorada, Viamão, Porto Alegre e Glorinha toparam a empreitada.
Uma série de reuniões foram feitas e estudos começaram a ganhar forma.
Um deles chegou até ao plano assistencial do hospital que, em outras palavras, define que tipo de atendimento seria feito na instituição. No caso específico, a opção seria por um hospital especializado em trauma.
– Com esse conjunto de rodovias e o número de acidentes que há no entorno de Gravataí, não poderia ser diferente – lembra Denise.
Gravataí ainda gostaria de incluir outra especialidade: a maternidade. Hoje, as crianças que nascem no Hospital Dom João Becker não contam com uma UTI Neonatal, por exemplo. Uma nova unidade poderia pleitear junto ao Ministério da Saúde um investimento nessa necessidade, já que Gravataí não está referenciada para isso hoje.
O hospital seria uma unidade de saúde com média e alta complexidade, ou seja, com capacidade para exames, procedimentos, cirurgias e tratamentos mais complexos. Pelo menos 150 leitos novos seriam criados – para crianças, adultos e idosos.
E tudo o mais que uma estrutura desse porte exige: cozinha, serviços especiais de coleta de resíduos, limpeza, atendimento, enfermagem, laboratório completo e manutenção, para ficar nos mais corriqueiros.
Quando a obra é o de menos…
Só para a obra, em 2010, havia uma expectativa de gastos na ordem de R$ 40 milhões nesse complexo hospitalar de média e alta complexidade, especializado em traumatologia e maternidade. Atualizado pelo IGP-M, o Índice Geral de Preços – Mercado, o valor chegaria, hoje à casa dos R$ 78.679.233,87.
Os equipamentos não custariam menos do que R$ 60 milhões – elevando o gasto inicial para, pelo menos, algo em torno de R$ 138 milhões.
Para se ter uma ideia do tamanho desse dinheiro, com R$ 138 milhões daria para pagar mais de cinco meses e meio da folha de pagamento de toda a Prefeitura de Gravataí, que gira na casa dos R$ 24,3 milhões por mês.
E esse seria o menor dos problemas do hospital.
Equipamentos
Os estudos feitos para o Hospital Público Regional não chegaram a orçar equipamentos especificamente – mas havia uma ideia aproximada do que seria necessário para abastecer de recursos tecnológicos uma unidade deste porte.
A estimativa de R$ 60 milhões, hoje, provavelmente estaria ultrapassada.
Esbarrou no custeio
Se obra fosse feita e os equipamentos comprados, instalados e operando, o hospital teria resolvido apenas metade do seus problemas. O custeio mensal de uma unidade de média e alta complexidade é muito alto – e os bolsos dispostos a cobri-lo, poucos.
O governo do Estado, por exemplo, ao ser perguntado sobre o projeto, enviou como resposta que o hospital regional era uma intenção da gestão anterior. Disse, ainda, que está em vigor o decreto 52.862, que veda a contração de obras, novos contratos e novas despesas.
Ou seja: o dinheiro anda curto no Piratini.
Compare com o Grupo Hospitalar Conceição: o orçamento para os três hospitais do grupo em Porto Alegre, em 2016, é de R$ 3,6 bilhões – em média, R$ 1,2 bilhão por unidade.
O orçamento de toda a Prefeitura de Gravataí, para o ano todo, é pouco maior do que a metade disso: R$ 635 milhões em 2016.
Mesmo que a prefeitura pudesse dispor de cada centavo do que arrecada para o hospital, ainda assim seria dinheiro insuficiente para estrutura de saúde complexa e dessa envergadura.
A saída seria ampliar os repasses do Ministério da Saúde – mas, mesmo assim, não há uma garantia de que os recursos seriam suficientes.
Hospital menor, grandes frustrações
A opção para se fazer um hospital municipal seria 'encolher o projeto' e fazer algo mais enxuto – mas, mesmo assim, os gastos poderiam ser elevados. Sem falar na ideia de ter uma estrutura com o nome 'hospital' pendurado à porta que, eventualmente, não atendesse ao que as pessoas esperam dele.
O que dizem os candidatos
O Seguinte: pediu que as assessorias das candidaturas à Prefeitura de Gravataí enviassem por email que posição defendem sobre um Hospital Público Municipal.
Anabel Lorenzi (PSB)
Nós concordamos com a luta pelo Hospital Público em Gravataí, pois esta é uma reivindicação histórica da população da cidade, tendo em vista que o Hospital Dom João Becker não atende em sua totalidade pelo SUS e acaba não comportando a demanda. Porém, as finanças públicas municipais são insuficientes para a construção e, principalmente, a manutenção de uma obra deste porte. Portanto, há a necessidade de buscarmos parcerias junto aos governos Federal e Estadual para a realização deste grande sonho para todos os gravataienses. Contribuiremos com muita disposição para que o Hospital Público se viabilize, o mais breve possível, em Gravataí.
Daniel Bordignon (PDT)
O que faremos de imediato será tomar medidas para garantir um melhor funcionamento da rede atual. Investir na reestruturação dos prédios, na ampliação e qualificação dos profissionais da saúde. Assim, pretendemos ampliar o horário de atendimento dos postos e implementar medidas preventivas. Quanto ao almejado hospital público, existe a possibilidade de termos um em Gravataí se existir parceria entre o governo Estadual e o Federal tanto na construção quanto na manutenção. Porém, antes precisaremos fazer, junto com a população, um diagnóstico local para melhor distribuirmos os serviços de saúde na cidade.
Levi Melo (PSD)
É possível e imprescindível. A Organização Mundial de Saúde indica, para cidades acima de 100 mil habitantes, o número de 2,5 a 3 leitos hospitalares para cada um mil habitantes. O Hospital Dom João Becker conta com apenas 140 leitos de internação. Em 2004, a Associação Hospital Vale do Gravataí, da qual eu era o presidente, desenvolveu um projeto para a construção de um hospital na nossa cidade. Não obtivemos êxito naquela época devido a entraves políticos. Faz parte do nosso Plano de Governo, como compromisso prioritário, a construção de um hospital público com 250 leitos, com UTI neonatal/pediátrica, 30 leitos de UTI adulto, bloco cirúrgico equipado para oito salas cirúrgicas, banco de sangue completo e setor de emergência para atendimentos nas mais diversas áreas, incluindo politraumatizados. Temos o projeto e iremos executá-lo através de parcerias público privada e financiamentos adequados.
Marco Alba (PMDB)
É possível, desde que haja a participação do Estado e da União, com o maior aporte de recursos. O custo de um novo hospital seria de R$ 200 milhões para construção e, aproximadamente, outros R$ 200 milhões/ano para custeio e manutenção. Qualquer coisa fora desse formato é inviável. A coligação “A mudança já começou. Gravataí não pode parar” trabalha por essa conquista. Porém, é preciso lembrar que, desde 2012, buscamos a conquista do Hospital Público Regional em Gravataí. Foi o governo Tarso Genro (PT) que, após confirmar um hospital em Gravataí, voltou atrás e excluiu a cidade do projeto que criou mil novos leitos na Região Metropolitana. Hoje, além de estarmos construindo as UPAs, na Região das Cohabs e das Moradas, atuamos na promoção e prevenção de saúde, ampliando a Saúde da Família, que foi de 24% para 55% da cobertura territorial.
Rafael Linck (PSol)
Sim! Mas precisamos deixar claro que, para tal premissa ser concreta há a necessidade de realizar uma revolução administrativa na prefeitura. A máquina não é eficiente. A atual gestão corta direitos e serviços básicos da população, mas distribui Cargos de Confiança (Cc’s) como se fossem balas, só isso custa em torno de 25 milhões de reais por ano ao cofre. Precisamos auditar a dívida do município assim como todos os contratos de aluguéis de prédios e carros oficiais, que serão reduzidos consideravelmente na nossa gestão. Com isso teremos hospital e serviços de qualidade. É preciso rediscutir e fiscalizar de forma efetiva esse contrato entre o atual hospital da cidade e a prefeitura. Deixamos claro também que a solução para a saúde de Gravataí não é somente o hospital. Passa por potencializar a política de Saúde pautada pela PREVENÇÃO e as equipes da Estratégia para Saúde da Família (ESF) são essenciais neste processo. O “Portas Abertas”, outro exemplo, não será mais só para duas UBS’s (Unidade Básica de Saúde), mas sim deixaremos mais postos de saúde funcionando até às 22 horas, de forma que atenda todas as regiões da cidade, para citar algumas mudanças de tantas que queremos implementar.
Sadao Makino (PSTU)
Não enviou resposta até a publicação desta reportagem.
Valter Amaral (PT)
A discussão da construção de um hospital público encampou boa parte do debate sobre as demandas reprimidas nesta área de atendimento à população. Nossa proposta é que se retome o projeto de construção de um Hospital Público Alta Especialidade e Complexidade, com ênfase especial em Traumatologia e UTI Neonatal, uma vez que estas duas demandas são as mais recorrentes na cidade. Estamos estudando a possibilidade de um consórcio, como aconteceu em Palmeira das missões, a fim de facilitar a construção e a manutenção do hospital público.