Dilamar Soares se atirou na frente de uma bala, não perdida, mas sim achada, que teria como alvo o prefeito Luiz Zaffalon, na primeira crise como líder do governo desde a deflagração da III Guerra Política de Gravataí, Zaffa x Marco Alba, Abílio x Oliveiras, Bordignon x Stasinski.
A maioria dos políticos com os quais conversei, tanto de governo como oposição, reconheceu a ‘proteção ao rei’ feita por Dila; o que, reputo, precisaria vir dele, um leal a Zaffa e desapegado a cargos.
O episódio restou desvelado quando vereadores, e o público presente, testemunharam, assustados, a um bate-boca entre Dila e o também vereador Clebes Mendes, antes de começar a última sessão da Câmara.
Pelo que apurei com diferentes fontes, Dila cobrou Clebes por, em encontro com o prefeito, ter criticado sua condução política como líder do governo.
Clebes teria alertado para dificuldades de relacionamento de Dila com políticos da oposição e recomendado ao prefeito que ligasse pessoalmente para os adversários.
O objetivo seria construir uma nova maioria na Câmara, excluindo o MDB, partido onde Clebes responde a um processo de expulsão por, com seu voto, ter permitido a reprovação das contas de 2017 do governo Marco Alba, além de ser acusado de ter feito campanha para Dimas Costa (PSD), que perdeu a eleição para Zaffa.
A ideia de Clebes seria isolar o MDB a partir da atração para o governo de vereadores de oposição; os quais, no meio da discussão, mas sem revelar nomes, fazia sinal com os dedos ter quatro sob seu rol de influência.
Fato é que Zaffa não seguiu o conselho de Clebes. Não saiu demitindo os indicados para cargos por vereadores que ficaram com Marco Alba, não ligou para nenhum político, não negociou secretarias e CCs e nem permitiu se envolver em conspirações secretas ou definições açodadas sobre seu futuro partidário que, em vez de protagonismo, garantiriam talvez não mais do que o sequestro por outro grupo político.
Se Zaffa ouviu, não sei, mas políticos receberam o alerta de Clebes de que o MDB, junto a vereadores de oposição, preparava inclusive um ilógico impeachment do prefeito; nem investigo motivos, já que quando se une uma ‘República de Vereadores’, necessários não são os motivos para cassar alguém – como aconteceu em 2011, com a prefeita Rita Sanco (PT), depois, ao lado do vice, Cristiano Kingeski (PT), absolvida de todas as acusações.
Ilógico é porque – e aí está o ponto principal o qual reputo Dila se atirou na frente da bala por seu amigo prefeito – a permanência do MDB no governo é útil tanto a Zaffa, quanto ao partido comandado por Marco Alba.
Para Zaffa, o MDB é a garantia de cinco votos, inclusive em ‘pautas-bomba’, como já foram a reforma da previdência e os subsídios para a Sogil. E para o MDB a não ‘demissão’ do governo permite, além de não perder cargos, manter a ligação com realizações de um governo que ajudou a eleger.
Remeto novamente a Guerra e Paz, de Tolstói, para compreender, como fiz em Declarada III Guerra Política de Gravataí: Zaffa vai sair do MDB para enfrentar Marco Alba; Bem-vindo à política, prefeito!, primeiro artigo sobre o racha: ninguém é candidato de si mesmo. “A soma das vontades fez a revolução”, está lá, entre as 1255 páginas da primeira parte e às 2528 da segunda.
Zaffa ouvisse Clebes e, como Napoleão a caminho de Moscou, submeteria seu exército a uma Batalha de Borodinó.
Naquela que foi a mais sangrenta batalha das guerras napoleônicas, quem visse a retaguarda em desordem do exército russo diria que bastaria mais um pequeno esforço dos franceses para aniquilar o exército russo; e quem visse a retaguarda dos franceses diria que bastaria mais um pequeno esforço dos russos para destruir os franceses. E, se franceses e russos não fizessem esse esforço, as chamas da batalha se extinguiriam lentamente.
Só que, no Borodinó, como uma fera ferida, os franceses avançaram até os russos recuarem, aparentemente perderem Moscou, mas, como campeões morais, verem seu povo orgulhosamente incendiando a cidade ao abandoná-la; o que logo também fizeram os invasores, para não comer carne de cavalo.
Ao fim, reputo acertou Dila ao cobrar Clebes por atropelá-lo, e com uma estratégia napoleônica, expor o prefeito a buscar uma desnecessária e custosa ajuda entre adversários de ontem, quando tem os adversários de hoje, seu ex-MDB, para ajudar ao menos até amanhã, a eleição de 2024.
Zaffa, escolhendo Dila e não Clebes, pode adiar – e até ferir – sua coligação para reeleição em 2024, mas não mata o governo, seu verdadeiro cabo eleitoral, nem diminui a moral abrindo o flanco para a narrativa da traição; o que já analisei em O ‘se’ e o ‘quando’ Zaffa vai ‘demitir’ MDB de Marco Alba do governo; Alice Através do Espelho e a III Guerra Política de Gravataí.
No Borodinó, franceses ganharam perdendo. Zaffa não parece representar nenhum ‘Napoleão de Hospício’ para permitir o incêndio de Gravataí; ao menos um ano antes do inevitável.
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