crise do coronavírus

Leite vai brincar de colorir mapinha? Gravataí, Cachoeirinha e Grande Porto Alegre querem bandeira vermelha por decreto

Reunião da Granpal nesta quarta | Foto MATEUS RAUGUST | PMPA

Pelo que apurei o governador Eduardo Leite não deve atirar no lixo o Distanciamento Controlado rebaixando ‘por decreto’ os 50 tons de cinza da bandeira preta para vermelha, como reivindicam Gravataí, Cachoeirinha e a Granpal, a associação dos prefeitos da Grande Porto Alegre.

Não por gosto ou azedume de Leite. A ‘ideologia dos números’ ainda não permite.

Em resumo, a proposta dos prefeitos, também defendida pelo presidente da Fecomércio, Luiz Carlos Bohn, é dar um ‘migué’ no principal indicador: o índice de leitos livres versus ocupados.

O modelo estabelece uma espécie de trava que coloca todas as regiões sob bandeira preta quando a relação entre leitos livres e ocupados baixa de 0,35. Hoje, esse índice é de 0,22.

— Mesmo que o número de mortes e a ocupação de leitos clínicos venha caindo, a situação não é confortável. Nas UTIs, ainda estamos com duas vezes e meia mais do que no início de fevereiro, quando o patamar já era alto. Para mudar alguma coisa é preciso ter certeza de que a queda é consistente — ponderou à GZH o secretário Luís Lamb, coordenador do Comitê de Dados do RS.

Pela declaração do procurador-geral do Estado ao site, também não deve prosperar a proposta Sindicato das Escolas do Ensino Privado (Sinepe), com aval do Sindicato Médico, para criar uma bandeira específica para a educação, levando em conta o baixo índice de contaminação de crianças e a sobra de vagas nas UTIs infantis.

– A alteração dos critérios de cálculo do distanciamento controlado com a mera finalidade de mudar a bandeira representaria uma forma indireta de descumprir a decisão judicial que veda aulas presenciais durante a bandeira preta – disse Eduardo Cunha da Costa, que aguarda julgamento de ação no Supremo Tribunal Federal (STF) para liberar as aulas presenciais no Rio Grande do Sul.

Também conforme a reportagem, no Gabinete de Crise desta quinta o governador sinalizou apenas com a flexibilização às restrições impostas atualmente para os shoppings centers. A tendência é autorizar, a partir de sexta-feira ou sábado, o funcionamento das praças de alimentação dos shoppings até as 20h.

Atualmente, pelo regramento estadual, esse tipo de estabelecimento, só pode atender os clientes até as 15h e manter o local aberto para os consumidores até as 16h. Depois disso, pela regra atual, os estabelecimentos podem seguir comercializando produtos, mas sem consumo no local.

Em Gravataí, o momento é de estabilidade, mas ainda nas alturas do Morro Itacolomi. Em Cachoeirinha não é diferente. A altura do ‘platô’ é a do Edifício Madrid.

As internações em Gravataí diminuíram de 150 para 60, mesma proporção de Cachoeirinha. As UTI estão em 90% de ocupação de leitos.

– Houve importante arrefecimento nas internações – comemora o secretário da Saúde Régis Fonseca, logo mantendo o apelo:

– Independente da classificação de cor de bandeira, o que sempre reforçamos é a necessidade da adoção de todas as medidas sanitárias, especialmente aquelas de caráter pessoal: o uso de máscara, a higienização frequente das mãos e o distanciamento interpessoal.

É ainda assustador o número de vidas perdidas pela COVID-19 na Gravataí que ultrapassou os 20 mil casos. Até às 13h desta quinta, já são 20.060 infectados com 638 mortes – 109 em 22 dias. A média é de 5 a cada 24h. Menor que as 6,5/dia de março, pior mês da pandemia, mas quase cinco vezes maior do que dezembro, por exemplo.

Na relação entre óbitos e infectados, Gravataí (3,18%) tem média superior ao RS (2,5%), ao Brasil (2,7%) e ao mundo (2,1%).

Ao fim, sigo como o impopular Dr. Stockmann, de O Inimigo do Povo, de Ibsen, apelando para o respeito à ciência, cujos indicadores tem mantido as 50 semanas de bandeira preta.

Não por gosto ou azedume de Leite, reafirmo.

Reputo ser otimista agora lembra aquela história do cara que se atirou do décimo andar e, ao passar pelo oitavo, refletiu: “Até aqui tudo bem”. E, ao chegar ao segundo andar, convenceu-se: “Bem, se eu não me machuquei até aqui não é nesse pedacinho à toa que eu vou me arrebentar”.

Escrevo sem secação, e sim com torcida: quando os indicadores permitirem, devido à conjunção da vacinação-distanciamento-cuidados pessoais, todos comemoraremos que as pessoas possam trabalhar mais próximas ao novo normal.

Fato é que se nesta sexta o governador aceitar dar 'migué' nos indicadores para permitir a bandeira vermelha por decreto, o Distanciamento Controlado tornar-se-á uma brincadeira de colorir mapinhas.

 

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