moisés mendes

Levamos um drible de Casemiro

Foto FERNANDO FRAZÃO | Agência Brasil

O ambiente do futebol brasileiro pode não ter chegado ao ponto de ser de maioria bolsonarista. Ainda não. Mas é de uma maioria alheia à realidade do país.

Ninguém pode cobrar engajamento às grandes questões nacionais de profissionais de uma área que apenas durante a ditadura (e com raras exceções) explicitou posições não alinhadas com a direita.

Chega a ser cansativo ver as pessoas repetindo que o bom mesmo foi a época de João Saldanha e mais tarde de Sócrates, Afonsinho, Reinaldo (o do Atlético, pouco lembrado), Casagrande, Vladimir.

É difícil citar muita gente. A alienação é a marca do futebol entre dirigentes, técnicos, jogadores, narradores, comentaristas. Os fora da caixa são meia dúzia de abnegados à democracia.

É bom incluir nessa lista o sociólogo Adilson Monteiro Alves, diretor de futebol do Corinthians no início dos anos 80. Adilson era inspirador e aliado dos jogadores.

Hoje, o que o futebol brasileiro tem é um grupo de militantes bolsonaristas explícitos, às vezes dissimulados, outras vezes furiosos e ostensivos, incluindo de novo comentaristas e narradores gaúchos. A crônica esportiva gaúcha é reacionária como não foi na ditadura.

Tudo coerente com a realidade. O jogador brasileiro, que atua aqui ou na Europa, parece jogar em Marte. A Seleção, grife do bolsonarismo como identidade verde-amarela, foi sequestrada há muito tempo pela direita e depois pela extrema direita.

A camiseta está em poder do fascismo dos bacanas de classe média há muito tempo. Por isso é surpreendente que a Seleção, com jogadores alheios à realidade brasileira, tenha ameaçado um boicote não à Copa América, mas ao próprio Bolsonaro, o genocida que insistiu no Brasil como sede de um torneio que não vale uma caixa de cloroquina.

Por caminhos tortos e atalhos imprevisíveis, que envolvem interesses diversos, e não só a desculpa da pandemia, a Seleção ensaiou uma conspiração contra os interesses políticos do sujeito que é ídolo de muitos jogadores.

Seria bem feito para os dois lados, que se merecem, apesar de Tite ser uma exceção como sobrevivente em meio a calhordas, pilantras, alienados, assediadores e corruptos.

Mas foi apenas um drible. Quando Casemiro anunciou, depois do jogo contra o Equador, na sexta-feira, que a decisão estava tomada e era decisão de grupo, todos esperavam que a Seleção finalmente desafiasse o poder de Bolsonaro.

Mas não foi desta vez. Prevaleceram o interesse econômico e o acovardamento. Bravura, nos esportes, não é para os fracos. Os jogadores são tão subservientes quanto os militares.

 

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