Não foi só a ausência do prefeito Marco Alba no aniversário de Jones Martins (MDB) a deflagrar no meio político de Gravataí o fofocômetro de que Levi Melo (Republicanos) pode ser o candidato do governo à Prefeitura em 2020, mesmo que o ex-deputado federal sempre se apresente como o ‘número 1 da fila’ da sucessão e tenha demonstrado força, como tratei no artigo Aniversário mostra tamanho do Jones.
Explico, com base em conversas em on e off com fontes envolvidas em Gravataí, Cachoeirinha e Glorinha, e comento.
1.
Começando pelo fim.
Como costumo dizer que “a coincidência nunca foi eleita”, um acontecimento da manhã desta segunda esquentou uma informação que apurei domingo, e reforça especulações sobre a eleição de 2020 em Gravataí.
Um release foi postado às 10h25 no site da Prefeitura: “Gravataí e Glorinha assinam Termo de Cooperação que une esforços para acolhimento institucional de crianças e adolescentes”.
Na foto, os prefeitos Marco Alba (MDB) e Darci Lima da Rosa (sem partido) aparecem ao lado do secretário da Saúde e procurador-geral de Gravataí, Jean Torman (MDB), e do procurador-geral de Glorinha, Régis Fonseca (PSD).
2.
Cruzemos outra fronteira.
Marcius Terres, o Biga, que é dirigente do PSD de Gravataí, está deixando o cargo de procurador-geral adjunto do governo Miki Breier (PSB), em Cachoeirinha.
O advogado retorna à Glorinha, onde reassume a Procuradoria-Geral, em substituição a Régis.
– Procede. Assume dia 1º de dezembro – respondeu Darci, por WhatsApp.
Fonte da Prefeitura de Cachoeirinha também confirmou.
Régis voltaria para a Secretaria da Saúde de Glorinha?
O prefeito não respondeu.
Aí esquenta a fofoca.
3.
Régis é o ‘número 1’ do Dr. Levi. Ele falou ao Seguinte:
– Assumirá a Procuradoria ou a Secretaria da Saúde de Gravataí simbolizando a parceria de Levi com o governo Marco Alba para 2020? Já acertaram isso hoje?
– Não tratamos de política, só do convênio.
– Levi será o candidato de Marco?
– Pergunte a eles. O que posso garantir é que apoio o que o Levi decidir.
– Pelo apoio à Levi, e principalmente caso assumas cargo no governo Marco Alba, não teme uma expulsão do PSD, do qual és o primeiro suplente à Câmara? Afinal, é o partido que tem o vereador Dimas Costa como candidato à Prefeitura pela oposição?
– Respeito o PSD. Já falei com o Dimas e qualquer decisão será em consenso, para não criar constrangimento para ninguém.
4.
De um congresso médico da Semana Brasileira do Aparelho Digestivo, em Fortaleza, Dr. Levi respondeu ao Seguinte: pelo WhatsApp:
– Não tenho cargos indicados no governo do Marco e o Régis está como procurador de Glorinha.
Percebam o “está”, no qual Levi evita uma meia verdade, o que sempre é pelo menos uma metade próxima à mentira.
Sobre ser o candidato do prefeito à sucessão, saiu-se com um “o Marco é que deve responder essa pergunta…”, assim, com reticências, por mensagem escrita.
Indo além, tratar o prefeito por "Marco" também é um sinal de intimidade.
5.
Dimas confirmou o acerto com Régis para uma desfiliação sem expulsão. E revelou outra conversa telefônica, com Levi:
– O Régis é um grande amigo, vai sair de comum acordo. Seguirá o caminho dele, com a candidatura do Levi a prefeito. Inclusive o Levi me disse que eu e ele liderávamos pesquisas.
Dimas apoiou Levi em 2016 e, na eleição suplementar de 2017, apoiou Rosane Bordignon (PDT), enquanto o então companheiro de PSD fez campanha para Marco Alba.
6.
Para Marco não liguei ou mandei mensagem.
Seria inútil. É óbvio que não quer falar do assunto.
Como contei na madrugada de sexta, o prefeito não respondeu Whats que enviei pedindo um comentário sobre a ausência no aniversário de Jones.
Mais de 20 anos cobrindo política me ensinaram a compreender o som do silêncio.
Analiso.
‘Grande Arquiteto’ da política, Marco, em seu poker face habitual, mantém habilmente o comando sobre a sucessão e, por conseqüência, blinda ao máximo da influência da corrida eleitoral um governo que cresce em avaliação, apresenta bons indicadores fiscais e sociais e, em 12 meses, terá entregue R$ 100 milhões em obras, entre elas o símbolo da duplicação das pontes do Parque dos Anjos.
Inegável é que hoje tanto Jones quanto Levi são ‘prefeituráveis’ de um mesmo espectro político e ideológico, estão próximos ao governo, sob influência de Marco e aguardando sua palavra final.
E, mesmo que a decisão que Marco tomar o faça perder um dos dois, caso o preterido resolva concorrer por conta própria, e não pelo MDB, mesmo que disputem votos com o candidato do governo, os terá como crias, ou, no mínimo, identificados com sua gestão e a defesa de seu legado.
É possível perceber a obsessão de Jones por ser candidato a prefeito. Político experiente, articula ininterruptamente, principalmente entre os seus. Fazer uma festa de aniversário para mais de mil pessoas no ano de véspera da eleição segue o script do ‘GreNal da aldeia’ travado desde os anos 90 pelas candidaturas de Marco Alba e Daniel Bordignon, e também por seus 'postes'.
Já Levi – que é um ‘meio outsider’ por, apesar de candidato por quatro vezes a diferentes cargos, e eleito para um mandato como vereador, ter a imagem de ‘não político’, aparecer pouco e quase nada vazar sobre articulações dele com personagens da política local – parece disposto a concorrer, apesar de a cada referência ao seu nome diferentes fontes acrescentarem que “a família está meio assim…”.
Além de uma conta alta que precisou pagar da campanha à Prefeitura em 2016, caso eleito Dr. Levi teria que abdicar de contratos de sua clínica, a Millenarium, com a Prefeitura e o ISSEG, o ‘plano de saúde’ dos servidores, e teria sua renda como um dos médicos mais renomados da região reduzida em pelo menos 10 vezes – em cálculo meu.
No artigo sobre o aniversário de Jones, conclui que, "nas conversas entre políticos", a ausência de Marco "para uns foi uma incompatibilidade de agendas; para outros foi sinal de que, ou Jones não é o candidato, ou o prefeito não quer minimamente antecipar a escolha do sucessor; e para outrem foi um teste de fidelidade aplicado por Marco Alba no companheiro de 30 anos de partido”.
Acrescento outra hipótese: pode ter sido um sinal de Marco a Levi.
É que o médico ainda pode ter receio de se filiar ao MDB e não vencer uma prévia contra Jones, como aconteceu em 2012, quando queria ser vice, mas na véspera perdeu a indicação para Francisco Pinho (PSDB).
Em uma noite de sábado, testemunhei a saída de Levi do SnackBeer antes mesmo da convenção terminar. Foi quando, não com 'Cara de Levi', mas com cara de brabo, anunciou para mim, e publiquei na coluna que tinha no CG, que não seria candidato a nada, nem à reeleição para vereador.
Ao fim, como no artigo A sucessão de Marco Alba e a III Guerra Aldeana; da fofoca ao Instagram, reafirmo meu sentimento de que Marco Alba ainda não decidiu, apesar do Dr. Levi aparecer como o favorito para boa parte do meio político de Gravataí; muito bem próximo ao prefeito.
Caio Fernando Abreu é quem dizia que “o mundo, apesar de redondo, tem muitas esquinas”.
Gravataí também, algumas dessas encruzilhadas ainda sem placa de identificação.