Dez anos depois de ser o líder do primeiro ano do governo Marco Alba, Dilamar Soares assume a liderança do governo Luiz Zaffalon na Câmara apresentando como missão alcançar a “Pax Romana”.
Se o vereador fala em necessidade de manter a paz, é porque há guerra – no que, salvo engano, resto absolvido de ser um incendiário, um Nero da aldeia, como sutilmente já consideraram tanto Zaffa, quanto Marco, a descrição que jornalisticamente publico desde o traumático rompimento: III Guerra Política de Gravataí, pós Abílio x Oliveiras, Bordignon e Stasinski.
Siga os principais trechos da entrevista dada ao Seguinte: por Dila, que é historiador, está em seu terceiro mandato e só espera a janela de transferência partidária para sair do PDT. Nos links entre as perguntas é só clicar para ler a série de artigos sobre a ‘III Guerra’.
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Seguinte: – És, como já apontei inúmeras vezes, o vereador mais próximo ao prefeito Luiz Zaffalon. Assumes a liderança do governo em meio à III Guerra Política de Gravataí. Como o historiador observa a crise e suas consequências, e como age o político?
Dilamar – A Pax Romana, de 27 a.C a 325 d.C foi um período de glória de Roma. Com altos e baixos, Gravataí vive momentos assim de 2013 para cá. A política não pode interferir no que não seja para construir. O prefeito está enfrentando os desafios, agora com prioridade nos problemas da educação, da saúde, tocando investimentos em infraestrutura, um plano diretor que prepara a cidade para o futuro, e me pediu para, neste período que está em viagem aos Açores, garantir a governabilidade e uma maioria na Câmara para Gravataí não parar. A Câmara é uma casa política, mas é preciso que os projetos andem, pelo bem da cidade. Debates certos são aqueles feitos na hora certa. A eleição é só no ano que vem.
Seguinte: – O governo Zaffa ainda tem maioria na Câmara? Mudarão as regras de distribuição de secretarias e cargos entre partidos?
Dila – Em tese, temos maioria sim. Qualquer recomposição com espaços no governo depende do retorno do prefeito. Mas será inevitável alguma mudança, já que o prefeito me pediu para comunicar que tem as portas abertas para todos.
Seguinte: – Para todos?
Dila – Governos precisam de maioria para governar. O prefeito quer diálogo, como já vem fazendo.
Seguinte: – Uma composição com vereadores de oposição não esbarra em contas do passado, como no caso de Cláudio Ávila, adversário nas últimas seis campanhas e autor de uma série de denúncias nos últimos 10 anos, inclusive por suposta corrupção; ou em contas mais recentes, como em relação a Fernando Deadpool, que responde a denúncia assinada pelo próprio prefeito e pelo vice, Dr. Levi, devido a incidentes na fiscalização da saúde, ou Bombeiro Batista, denunciado por você mesmo por supostas fake news; e, ainda, não se choca com diferenças ideológicas, como em relação a Thiago De Leon (PDT) ou Paulo Silveira (PSB), que estão mais à esquerda?
Dila – Governos precisam de diálogo com o parlamento. Bolsonaro fez isso, Lula faz, mesmo com aqueles que cassaram Dilma. Buscamos o bom diálogo, sem a necessidade de tirar a característica de oposição de cada um, ou criar um ‘nós contra eles’. Uso exemplo de Cláudio Ávila que, como já noticiaste, ajudou a aprovar um financiamento que poderia parar. Já fui oposição e governo. Sei que é preciso respeitar o parlamento e os bons projetos.
Seguinte: – Consideras os cinco vereadores do MDB, que ficaram com Marco Alba, governistas, ou já oposicionistas?
Dila – Acredito que são base do governo. Mas não me intrometo nessa relação entre o prefeito, seu ex-partido por 40 anos, ou com Marco Alba. Cabe-me garantir a Pax.
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Seguinte: – Secretários de Educação, Obras e Comunicação, todos ligados a Marco Alba, já caíram. Teremos novas demissões?
Dila – Não tenho autorização para falar sobre isso. Neste momento, não é minha função.
Seguinte: – Não temes que a oposição use a crise política para causar instabilidade no governo usando do expediente de denúncias e CPIs?
Dila – Não temo porque a cidade vai bem, o governo tem aprovação de 90% e todos os vereadores tem maturidade suficiente. Seria uma manobra eleitoreira. Mas, se acontecer, estamos preparados. Transparência total é outra ordem do prefeito, que como descreves, é um ‘sincericída’ e não tem nada a esconder.
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Seguinte: – Acertei na leitura, a partir da entrevista do prefeito para Chico Pereira, que o governo terá candidato: se não for Zaffa, será Levi?
Dila – Respeito tua interpretação, mas estou preocupado em garantir a governabilidade. Não toquei nesse assunto com o prefeito. Não cabe a mim, ao menos neste momento, conduzir esse processo.
Seguinte: – Para qual partido vão Zaffa, Levi e Dila?
Dila – Isso prefeito e vice vão decidir. O que posso responder é que aceitei ser líder governo e vou com Zaffa para onde ele for.
Seguinte: – O PL seria a primeira opção, mas as negociações foram suspensas com o ex-vereador Evandro Soares lançado como candidato a prefeito pelo ex-presidente Jair Bolsonaro?
Dila – Insisto que não me cabe responder. Sei que há uma série de convites. São prefeito e vice da quarta economia gaúcha, apesar de, se não sabes, Levi ainda não ter se desfiliado oficialmente do Republicanos… Sobre o PL, só sei que o presidente estadual Giovani Cherini ligou três vezes para o prefeito na terça passada, mas ele não atendeu, estava jogando futebol no Alvi-Rubro, como sempre faz.
Seguinte: – O presidente municipal, vereador Demétrio Tafras, convidou Zaffa e Levi para se filiarem ao PSDB do governador Eduardo Leite. Muita gente próxima ao prefeito e vice, dois políticos que se apresentam como “de direita”, considera o PSDB um PT de sapatênis. Para tantos mais radicais, bolsonaristas, por exemplo, é um partido de esquerda. Zaffa pode tucanar?
Dila – Reformas feitas pelo governador Eduardo Leite aconteceram antes em Gravataí, como a Previdência. É um governo que privatiza a Corsan, o que o prefeito sempre se manifestou a favor. Não vejo Leite muito à esquerda, e não sei se já houve conversas entre o governador e o prefeito. O que sei é o que noticiaste, que o presidente local abriu as portas do partido. O prefeito tem guardado essa decisão para ele.
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Seguinte: – Como Zaffa se apresentará na eleição para se diferenciar de Marco Alba, seu ‘Grande Eleitor’ em 2020?
Dila – É uma leitura política que o prefeito não fez comigo e, como líder do governo, não estou autorizado a fazer. Fui convidado para a liderança porque conheço a cidade, estudo os projetos, consigo fazer a defesa técnica do governo. É essa a linha que o prefeito quer. Não tratamos sobre ele ser ou não ser candidato. Fiquei sabendo da saída do prefeito do MDB pela imprensa. Eu estava apalavrado com o Podemos, para me filiar. Três dias antes do prefeito anunciar a desfiliação, o ex-prefeito Marco Alba me pediu para acomodar lá o pessoal do ex-prefeito Francisco Pinho e articulamos as filiações. Só na noite após a saída é que o prefeito me chamou para conversar, fez o convite para a liderança do governo, nos termos que já te falei, para garantir a governabilidade e não deixar a política interferir na vida da cidade, e aceitei. Jamais negaria.
Seguinte: – Mesmo que digas que não é o articulador político da reeleição de Zaffa, assim és visto por muitos no meio político, seja pela tua relação com o prefeito, como pela experiência nas campanhas dos prefeituráveis Dr. Levi e Anabe Lorenzi, além de uma passagem ao lado de Daniel Bordignon. Não temes estar com o “xis na testa”, e virar alvo dos adversários?
Dila – Não sou articulador político da reeleição e tu sabe disso. Estava em outra vibe, tocando meu mandato, que seria meu último, mas muito graças ao incentivo do prefeito estava em momento especial, com a ‘Lei Dila’, por exemplo… comecei outra faculdade, de Direito. Não estava articulando rompimento algum. Não tenho responsabilidade pela escolha do prefeito. O que tenho é capacidade defesa, de estudar projetos. O prefeito valoriza o mérito, me chamou para isso, me abriu todos os números. Se for candidato à reeleição e precisar de minha ajuda, jamais negarei. Hoje minha função é na Câmara, assim como fiz em 2013, defendendo o governo Marco Alba em seu pior momento, quando Gravataí era chamada ‘cidade dos buracos’, e aprovamos reformas e leis que ajudaram a mudar Gravataí. A missão que Zaffa me der, cumpro. Somos amigos, mas mais do que isso o admiro, desde muito antes dele ser o ‘gerentão’ do governo Marco Alba.
Seguinte: – Disseste que o prefeito abriu os números. As contas, o endividamento, como estão? Os projetos são factíveis e os financiamentos de mais de R$ 200 milhões são pagáveis?
Dila – Se não houver nenhuma catástrofe, as contas estão equilibradas. A maioria dos projetos já estão em execução e os financiamentos são pagáveis. As obras de infraestrutura fazem a cidade crescer, atraem investimentos e empregos, o que gera novas receitas. Gosto que o prefeito sempre repete que é preciso fazer mais. É o desafio do gestor racional, da ‘ideologia dos números’, como dizes. Gravataí não aceita mais aventuras. No que depender de mim, é Pax.
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