A Corsan projeta em uma semana concluir a limpeza do canal do Departamento Nacional de Obras e Saneamento (DNOS) no rio Gravataí, como informou na sexta-feira, a GZH, o secretário-adjunto do Meio Ambiente, Sustentabilidade e Bem-estar Animal, Diogo Castilhos.
É mais uma batalha, mas ainda longe do ‘Dia D’ na ‘guerra pela água’ travada no manancial que abastece mais de um milhão de pessoas também de Cachoeirinha, Glorinha, Viamão, Alvorada e Santo Antônio da Patrulha.
É a segunda medida emergencial da companhia, que já fez uma espécie de barragem no Mato Alto para garantir o abastecimento de 60% dos consumidores de Gravataí, ou 150 mil pessoas, como o Seguinte: reportou em SEGUINTE TV | Rio no nível zero: Corsan faz ‘barragem’ emergencial no Mato Alto para garantir água para Gravataí durante o verão; Assista.
O canal – aberto nos anos 60 para beneficiar os arrozeiros e que, por desviar o curso original do rio, resta como um dos culpados pelo ‘rio nível zero’ pela última década – tem seus cerca de sete quilômetros de extensão com vazão bloqueada por vegetação e areia. A desobstrução projeta desviar do Banhado dos Pachecos, em Águas Claras, Viamão, até o Gravataí.
Conforme medição da Fepam, nesta segunda-feira o rio está em 0,06 m na captação em Gravataí.
De acordo com as regras definidas pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema), quando a medição fica abaixo de 0,50 metro é determinado estado crítico e a retirada de água fica suspensa para todas as finalidades, exceto para a distribuição ao consumidor.
Quando o nível está acima de 0,80 metro, é definido estado de atenção e a captação de água acontece normalmente, mediante monitoramento permanente. Abaixo dessa marca, começa o estado de alerta, tornando intermitente a possibilidade de captação para irrigação e outras finalidades que não sejam o abastecimento para o consumo humano.
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Ao fim, trato as medidas da Corsan como ‘batalha’ e não ‘Dia D’ na ‘guerra da água’, porque são emergenciais, como confirma a própria companhia.
Como tratei numa série de artigos no Seguinte:, a (nem tão grande assim) grande obra para enfrentar a falta de água são as 13 microbarragens no rio Gravataí.
A Metroplan (Fundação Estadual de Planejamento Metropolitano e Regional) tem recursos destinados, mas desde 2018 não conclui o estudo de impacto ambiental (EIA/Rima), para o qual a empresa Ecossis Soluções Ambientais venceu o processo licitatório por R$ 400 mil. Os R$ 5 milhões para a obra já eram previstos em 2012, no PAC da Prevenção.
– O problema da nossa bacia não é a falta de chuva e sim de represamento da água – resume o geólogo Sérgio Cardoso, que também alerta para algo tão impactante quanto: a falta de aplicação de planos de gerenciamento nas 28 bacias gaúchas.
– Cada bacia tem diferentes necessidades. Temos nosso plano, mas é preciso o Estado aplicar. Não somos um órgão executivo – observa, sobre as propostas elaboradas ao longo das últimas duas décadas.
Ainda aguarda a caneta do governador Eduardo Leite (PSDB) um Plano de Manejo da Área de Proteção Ambiental (APA) do Banhado Grande, com determinações sobre os usos e atividades, limitações, focos de preservação e ameaças serão concretas e terão peso sobre os planejamentos dos municípios de Gravataí, Viamão, Glorinha e Santo Antônio da Patrulha e as possibilidades de licenciamentos de atividades na região.
Há, inclusive, a projeção de cobrança captação e utilização da água por diferentes atividades econômicas, como já tratei em Custa centavos o ‘milagre’ para salvar o Rio Gravataí; A cobrança da água.
Para se ter uma ideia da importância: a APA do Banhado Grande tem 136,9 mil hectares e ocupa 66% da área da Bacia Hidrográfica do Gravataí.
É a maior APA do RS, guardando, entre quatro municípios, os conjuntos remanescentes de banhados Grande, Chico Lomã e dos Pachecos (onde fica o refúgio de vida silvestre), a Coxilha das Lombas e as nascentes do Rio Gravataí.
A unidade de conservação foi criada em 1998, e desde então, tinha estabelecida como uma necessidade para sua concretização a elaboração do Plano de Manejo.
Concluo como em A ‘guerra pela água’ no rio Gravataí: lacrada arrozeira que capta 5 vezes mais que a Corsan; Saídas há, para além da tentação de proibir. Dê-nos água, governador Leite!: se Leite quiser, água não vai faltar, caso as microbarragens sejam feitas.
E, combinemos: os R$ 5 milhões são troco na relação com os impactos econômicos e sociais da falta de água anual.