RAFAEL MARTINELLI

‘Live-lixo’: Bolsonaro, o fujão, segue golpista e critica terror por truque

Associo-me à análise do jornalista Reinaldo Azevedo sobre a última live de Jair Bolsonaro como deprimente da república.

Compartilho aquele que reputo o melhor artigo do dia sobre a ‘live-lixo’.

Jair Bolsonaro, o ainda presidente poltrão e fujão, que assistirá lá dos EUA ao “enterro formidável de sua última quimera”, fez uma live de despedida nesta sexta. E se viu o quê? O delinquente político de sempre, a justificar e a incentivar os atos que resultaram em ao menos uma tentativa de ataque que até ele classificou de “terrorista”. Aí diz o tolo: “Ah, mas ele condenou essa ação…” É mesmo? Seguiu o roteiro definido por algum advogado para tentar se livrar de eventuais encrencas adicionais. Vamos ver.

Sobre a bomba que aliados seus colocaram num caminhão-tanque, afirmou:
“Nada justifica, aqui em Brasília, essa tentativa de um ato terrorista, aqui na região do aeroporto de Brasília. Nada justifica. Um elemento, que foi pego, graças a Deus, com ideias que não coadunam com qualquer cidadão”.

Como? “Não se coadunam mesmo?” Em nenhum momento o ainda presidente pediu que seus aliados abandonassem as portas do quartel. Ao contrário: ele os incentivou a permanecer lá à medida que continuou a colocar em dúvida o resultado das eleições e apontou supostas injustiças que teriam sido cometidas pelo TSE e que teriam prejudicado a sua campanha. O único postulante que agrediu a ordem legal na disputa deste ano foi Jair Bolsonaro. As duas PECs que ele conseguiu aprovar no Congresso, na boca da urna, ferem a Constituição: a dos combustíveis e a dos benefícios sociais. O sistema legal engoliu brasa acesa para não extremar a crise.

Inexiste golpismo benigno. Esse negócio de apoiar quem prega golpe de estado, mas condenar quem tenta ato terrorista é conversa de pilantras. A questão aí é apenas de escala. Os que estão incitando os militares a rasgar a Constituição também estão cometendo crimes, com o patrocínio político e moral do presidente da República. Alguns celerados estão nas ruas desde o dia seguinte ao resultado das eleições, esperando que algo vá acontecer, embora não saibam o quê. O silêncio do presidente, entremeado por algumas palavras ambíguas nesse tempo — suas e de pessoas que lhe são próximas — levou os fanáticos a acreditar em alguma intervenção, nem que fosse de extraterrestres. Como os militares não deram o golpe e como os ETs não compareceram, alguns resolveram que era hora de fazer alguma coisa: por que não explodir bombas?

Bolsonaro tem o temperamento emocionado dos truculentos — parte costuma ter lágrima fácil. É o caso do brucutu que nos governa. Mas calma lá! O bicho não chora de empatia, não. Segue incapaz de entender a dor do outro. Todas as vezes em que este senhor verteu lágrimas, estava a falar de assuntos pessoais, que lhe diziam respeito ou a alguém de sua família. Nunca se viu o presidente da República chorar pelos quase 700 mil motos de Covid-19. Em vez de lágrimas, fel: “Não sou coveiro”; “Tem que deixar de ser um país de maricas”; “Todo mundo morre um dia”.

Quando, no entanto, se trata de espetacularizar seu próprio sofrimento, seja em razão da facada, seja em razão de supostas injustiças de que se considera alvo, como na live desta sexta, então lá vem a cascata de lágrimas de quem é incapaz de reconhecer um palmo adiante de seu nariz antediluviano. Poderia chorar o Brasil em razão da herança maldita que ele deixa na Saúde, na Educação, no Meio Ambiente, nos Direitos Humanos e, sim!, na Economia. A PEC da Responsabilidade Orçamentária, que Lula conseguiu aprovar com extrema habilidade, veio para corrigir um Orçamento elaborado por um governo canalha, de que o fujão é o maior emblema. O país não chorou. Preferiu depô-lo pelo voto.

Na live, criticou o futuro governo nestes termos:

“O que eu vejo desse governo que está previsto para assumir domingo? É um governo que começa capenga. Já com muitas reações. A gente vê gente que votou para o lado de lá e se arrependeu, dado o que está acontecendo”.

Notem a sutileza: “governo que está previsto para assumir domingo”. Poder-se-ia dizer: é só a gramática bolsonariana”. Mas é mais do que isso. Quer deixar no ar a suspeita de que há dúvidas sobre a posse, mesmo estando com um pé num avião da FAB que vai lhe proporcionar a fuga. A propósito: a viagem, com o nosso dinheiro, é imoral e também ilegal. Ele está usando o bem público a serviço ou para fugir de suas atribuições? A resposta é óbvia.

Quem está arrependido? Parece que isso começa a se revelar entre os celerados que caíram na sua prosa frouxa e no seu silêncio entre covarde e criminoso.

É bem verdade que está ecoando algumas Pitonisas do caos que andaram pululando na outrora chamada “grande imprensa”, que se mostrou numa versão, digamos, minimalista nestes dias de transição. Não vou chamar de “Cassandras” certos colunistas que já anteviram a tragédia antes mesmo que se conhecesse a composição do governo. E não o faço porque a pobre Cassandra é a personagem mais injustiçada da mitologia/literatura. Ela acertava todas as suas previsões. A sua desdita estava em que, por maldição de Apolo, ninguém acreditava no que antevia. Alguns dos nossos antecipadores de desastres estão sempre errados, mas há muita gente que acredita em suas profecias furadas.

Bolsonaro embarca na crítica desses setores enfezados na imprensa e fala em suposto descontentamento com um governo que ainda nem começou. Sem desestimular o golpismo e buscando se distanciar do terrorismo para ver se consegue se livrar da cadeia. Vai fugir para os Estados Unidos. Espero que o estado de direito se cumpra e que ele ocupe um dia, não muito distante, a suíte que lhe está reservada na Papuda.


Assista a live na íntegra

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