greve dos professores

Mais de 50 escolas sem aula em Gravataí

Professores reuniram-se em frente à escola João Paulo II | EDUARDO TORRES

Não havia aquele burburinho de todo começo de manhã em frente às escolas municipais de Gravataí nesta segunda-feira. A maior parte delas amanheceu já com os portões fechados e com cartazes anunciando aos pais e alunos o início da greve dos professores do município contra o projeto que prevê a extinção do Ipag Saúde. 

Conforme levantamento da prefeitura, 73% das escolas municipais não tiveram aulas na primeira manhã da greve — 32 escolas tiveram adesão total ao movimento e outras 23, parcial —, enquanto somente 20 estabelecimentos funcionaram normalmente. De acordo com a presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública Municipal de Gravataí (SPMG), Vitalina Gonçalves, 80% da categoria aderiu ao movimento na manhã de segunda.

 

: Lista orientava os pais sobre adesão à greve na escola Alberto Pasqualini | EDUARDO TORRES

 

Situação que pegou de surpresa a técnica em enfermagem, Odete Lopes, 40 anos, que tem dois filhos na escola Alberto Pasqualini, na Morada do Vale II. Os dois meninos, do terceiro e do nono ano, estudam à tarde, mesmo horário em que a mãe trabalha.

— Eu vim aqui na escola ver se não vai mesmo ter aula. Hoje eu até consigo deixar eles com a minha mãe, mas já fico preocupada com os próximos dias — comentou.

 

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Na Alberto Pasqualini, onde estudam 956 alunos — uma das maiores da rede municipal —, a adesão à greve é parcial. Uma folha foi afixada na parede da escola indicando os horários e turmas que mantêm as aulas. O filho mais novo de Odete teria aula normal à tarde, mas o mais velho só tinha previsto um dos períodos de aula.

— Entendo que eles (servidores) têm o direito de reivindicar melhorias, mas as crianças acabam prejudicadas. E nós, pais que trabalhamos, também — lamentou, na saída da escola, a Odete.

No pátio, estavam alguns professores explicando a causa da mobilização aos pais. E a maioria apoiava a greve.

 — Estamos encontrando todos bem receptivos ao nosso movimento. Estão bem informados e solidários — conta o professor Carlos Albani.

No bairro Parque Florido, a escola Jardim Florido nem abriu nesta segunda. Um cartaz explicava os itens da paralisação. Na casa ao lado da escola, Marli Beatriz Kolinsk, 49 anos, mãe de um estudante do nono ano, apóia a greve.

— Acho justo. Eles têm que reivindicar o que é direito deles. É ruim por um lado, mas se os professores são prejudicados, nossas crianças também vão ser ali adiante — diz a mãe.

 

: Na escola Jardim Florido, os portões nem abriram nesta segunda pela manhã | EDUARDO TORRES

 

Na metade da manhã, o sindicato fez um apitaço em frente à escola João Paulo II, na Morada do Vale I, que tinha adesão total. Ali, a presidente do sindicato reforçou a posição da categoria, definida em assembleia na quinta passada.

— Entendemos que o Ipag é viável, e temos estudado alternativas, mas o governo não dialogou. Houve uma reunião antes do envio do projeto de extinção à Câmara de Vereadores e, em nenhum momento naquela conversa, o governo falou em extinguir o serviço de saúde do instituto. Hoje a gestão do Ipag é toda da prefeitura, e a gestão dos recursos é um dos problemas que encontramos — aponta.

 

O impasse

 

A greve foi deliberada no mesmo dia em que o projeto de lei 19/2019, do Executivo, prevendo a extinção do benefício de assistência à saúde e alterando a estrutura do Ipag, entrou em debate na Câmara. Conforme a prefeitura, a decisão de sair do plano dos servidores é baseada no déficit, que teria chegado a R$ 6,4 milhões em 2018 e precisou ser coberto com recursos do município do orçamento de 2019. Em nota, a prefeitura afirma entender que "o dinheiro arrecadado nunca será suficiente para as despesas".

O risco, sustenta o governo, é comprometer mais adiante os recursos do Ipag Previdência, e a aposentadoria dos servidores municipais. A Prefeitura repassa 33,7% do aporte da previdência e 4,5% da saúde.

— A decisão de acabar com o Ipag Saúde vai prejudicar não só aos servidores, mas boa parte da economia do município. Hoje, o Ipag custa R$ 26 milhões ao ano. Destes, R$ 18 milhões ficam no município e movimentam clínicas e profissionais da saúde aqui da cidade — aponta Vitalina.

Cada servidor tem 5,5% de desconto para o Ipag Saúde e outros 2% por dependente. A contribuição deles equivale a 62% do custeio do plano. Uma parcela de R$ 10 milhões anuais cabe ao município. Ao todo, são cerca de dez mil beneficiários deste sistema de saúde.

 

: Mobilização teve adesão de 80% dos servidores da educação municipal | EDUARDO TORRES

 

A presidente do sindicato garante que a categoria tem planos alternativos para melhorar a gestão e evitar a extinção do Ipag Saúde.

— Poderíamos limitar, por exemplo, cirurgias eletivas e exames de imagem. Em março do ano passado, o governo propôs reajuste aos prestadores de serviços do Ipag Saúde. Aumento de 11% para todos, exceto para os serviços de imagem, que aumentaram 21%. Não sabemos o motivo. Estamos propondo alternativas, mas o governo quer discutir a migração para um plano de saúde privado, que não queremos discutir — critica Vitalina.

Nesta semana, os demais servidores municipais de Gravataí fazem assembleia, e há possibilidade de que a greve avance para os demais serviços da cidade. O projeto do Ipag segue tramitando na Câmara.

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