A terraplanificação do pensamento desses últimos tempos opera uma coisa estranha entre os jornalistas – profissionais, não caça-cliques: de algozes dos políticos, tornaram-se defensores! Não por um Slackline interesseiro entre pentelhos de ninguém, mas por justiça.
O Grande Tribunal das Redes Sociais odeia tanto a política, ao mesmo tempo em que sonha com messias, que o jornalismo precisa exercer com responsabilidade maior do que nunca a prestação do serviço público e a mediação das coisas – mesmo que o milagre brasileiro indique uma democracia completamente isenta de democratas.
Fazendo minha parte, aqui elogio o prefeito Marco Alba por ter inaugurado o que vou chamar de ‘creche de Jornal Nacional’. Em Um novo tempo para as crianças da Rondon o Seguinte: noticiou ontem a inauguração e trouxe fotos, como a que ilustra esse artigo, mostrando a escola de educação infantil que começa a funcionar na segunda no bairro da periferia de Gravataí.
Uso a provocação de ‘creche de Jornal Nacional’ por Gravataí ter sido incluída em um JN de dezembro na lista das cidades que dividiram R$ 1 bilhão do governo federal para construção de creches cujas não obras foram concluídas.
A prefeitura explicou à Rede Globo que as obras das escolas de educação infantil da Vila Natal (Favo de Mel) e São Vicente (Raio de Sol), com 188 vagas cada, estavam paradas por problemas nos repasses do governo federal – que negou atrasos.
O Seguinte: foi investigar, já que a versão das milícias digitais inevitavelmente era a de que “o dinheiro sumiu”, já que cada creche custa em torno de R$ 2 milhões, R$ 1,5 mi do governo federal, outros R$ 500 mil da prefeitura.
Vamos aos fatos, aqueles chatos que atrapalham argumentos – os quais, principalmente quando alimentados pelo ‘deu na tv’, e nestes tempos em que aos políticos resta apenas a presunção de culpa, tornam-se verdades indiscutíveis.
As duas creches citadas estavam mesmo paradas. Nem 10% das obras tinham sido feitas. Em fevereiro de 2018, a empresa contratada não se interessou em renovar o contrato, alegando não suportar os atrasos de até quatro meses nos repasses do Ministério da Educação, via FNDE. Um levantamento do investimento necessário para conclusão das obras prepara novas licitações.
Mas não há como não considerar um azar – para não dizer injustiça, já que as obras estavam mesmo paradas – Gravataí figurar como um dos três exemplos globais para o levantamento do site Transparência Brasil, que revela que, nos últimos dez anos, “de 14 mil obras contratadas com recursos federais, só 44% das escolinhas e creches foram entregues; 18% foram canceladas e 38% não saíram do papel ou estão com obras paradas por uma série de problemas”.
É que Gravataí é a cidade gaúcha com mais obras de escolas infantis em andamento. Três creches – Marechal Rondon, inaugurada nesta quinta, a Centro (Bem Me Quer) e a Morada do Vale II – estão sendo entregues, num pacote de 11 Emeis projetadas até o fim de 2020, num total de 1,5 mil vagas – 957 delas já em 2019 – e um investimento de R$ 18 milhões.
Para entender o problema é preciso voltar a 2016, no primeiro governo Marco Alba (MDB), quando Gravataí só conseguiu retomar a construção de seis creches – Marechal Rondon, Morada II e III, Rincão, Princesas e Porto Seguro – ao se livrar da construtora imposta pelo governo federal, que faria 14 só no município, mas quebrou depois de construir no Rio Grande do Sul apenas quatro, de 208 escolas infantis, deixando obras paradas e materiais se deteriorando país afora.
Em uma articulação do prefeito junto ao ministro chefe da Casa Civil Eliseu Padilha, o Ministério da Educação editou uma resolução, publicada naquele ano, que permite à prefeitura destinar recursos próprios para manter os pagamentos em dia às construtoras contratadas e depois ser ressarcida pelos repasses do governo federal.
Aí já no modelo tradicional, ‘tijolo e cimento’ como costuma falar Marco Alba, e não na estrutura que era tecnologia exclusiva no Brasil da ‘construtora do calote’, entraram na lista as emeis Bem Me Quer, Favo de Mel, Cohab C e Costa do Ipiranga. As obras em alvenaria permitem que, caso as construtoras não toquem o serviço no prazo, possam ser substituídas com maior facilidade.
A Bem Me Quer, a polêmica creche que há dois anos tratamos no Seguinte: nos artigos Não presídio, creche é polêmica em bairro nobre d Creche da polêmica em bairro nobre logo vai abrir, era um exemplo em vistoria que fizemos em dezembro: estava 75% pronta graças a repasses do cofre da prefeitura. O atraso do governo federal chegava ao um ano, como confirmou Diego Junqueira, da construtora Se Conter.
– Deu uma tristeza ver a matéria no Jornal Nacional quando nos esforçamos tanto para construir essas creches – lamentou na época Sônia Oliveira, secretária da Educação, que acompanhou o Seguinte: numa vistoria das obras ao lado do adjunto Guilester Neves após a reportagem do JN.
E quinta, lançada pelas mulheres do MDB como pré-candidata a prefeita, sorria ao lado de Marco na inauguração da Rondon.
Hoje há na fila das creches 3 mil crianças, a maioria entre zero e três anos. O Tribunal de Contas do Estado (TCE), que faz um cálculo incluindo crianças de todas as classes sociais aponta 9 mil. Mas, entre 2012 e este ano, o número de crianças atendidas cresceu de 3.038 para 6.557. São dados que evidenciam uma prioridade para o déficit de vagas.
No artigo O que poucos sabem sobre ’as creches do Jornal Nacional’, conclui assim: “Gravataí tem problemas. Muitos, por óbvio. Mas no caso das creches, é inegável que o governo tem feito o que pode. Azarão ser exemplo negativo em horário nobre. A César, o que é de César”.
Ao fim, apesar do calote federal, a creche da Rondon está pronta, linda e é mais uma promessa cumprida.
Goste-se dele, ou não, inegável é que Marco Alba faz um bom governo. Gravataí, com R$ 40 milhões em investimentos, não é um paraíso, mas é um oásis em meio a tanta depressão.
Siga entrevista que o Seguinte: fez com a secretária da Educação Sônia Oliveira em dezembro em uma vistoria pelas obras em creches. A da Rondon foi onde aconteceu a entrevista