Marco Alba foi uma das estrelas do lançamento do edital da parceria público-privada da Corsan, na manhã desta sexta, no Palácio Piratini.
Os detalhes da PPP de R$ 9,5 bilhões em 35 anos, que projeta água e esgoto tratado para nove em cada dez residências até 2028, e um ano antes para o sistema Gravataí-Cachoeirinha, já tratei no artigo Como tirar Gravataí do rodapé do saneamento, publicado pelo Seguinte: na semana passada.
Vou me ater às esperanças da política liberal que subiu os degraus de tapete vermelho, obervada pelos bustos estatizantes de Getúlio Vargas, Carlos Barbosa e Júlio de Castilhos.
Marco teve seu protagonismo não só por ter sido o escolhido para falar pelos nove prefeitos que aderiram ao projeto. Desde antes da cerimônia sua voz era ouvida, como um cicerone informal de técnicos envolvidos desde os anos 2000 na modelagem da PPP.
“Esse trabalha no projeto há uma década!”, “Essa é a grande responsável!”, apresentava o prefeito (especialista no setor de saneamento ao ponto de ter tentado uma concessão própria), que circulava no saguão lotado onde estavam também o governador Eduardo Leite, o diretor-presidente da Corsan Roberto Barbuti e o presidente do BNDES, Gustavo Montezano, que nesta manhã também visitou as obras de duplicação da ERS-118.
Como secretário de Saneamento do governo Yeda Crusius, entre 2007 e 2010, Marco participou da elaboração dos primeiros rascunhos de uma parceria entre a estatal e a iniciativa privada. O projeto, cujas linhas são traçadas desde 2011 pela consultoria Price Waterhouse Coopers Auditores Independentes e já foi submetido a auditorias prévias da Procuradoria Geral, Contadoria e Tribunal de Contas do Estado, seguiu pelos governos Tarso Genro e José Ivo Sartori, até a assinatura hoje, por Eduardo Leite.
O “sprint final”, como todos repetiam.
– Plantemos tâmaras – filosofou Marco, ao fim do discurso, lembrando o ditado árabe “quem planta tâmaras, não colhe tâmaras”.
Aos que não conhecem, é a parábola do senhor que plantava a fruta e foi questionado por um jovem que atravessava o deserto:
– Por que plantar o que não vai colher?
À época, as tamareiras levavam até um século para produzir os primeiros frutos.
– Se todos pensassem como você, ninguém colheria tâmaras – foi a resposta.
Ao fim, a tentativa de fazer negócio com a água e esgoto é a primeira tamareira gaúcha. Não há nenhuma PPP em curso.
– Em nosso plano estratégico, essa PPP é a prioridade – resumiu o presidente da estatal, que fez carreira no mercado financeiro.
– A Amazônia é sempre uma preocupação mundial, mas saneamento é o grande problema ambiental do Brasil – argumentou o presidente do BNDES.
– Há investidores privados interessados nas PPPs do saneamento – garantiu, dizendo que a carteira do banco prevê para o setor R$ 16 bilhões em 2020, quando seriam necessários R$ 160 bilhões.
– Esses dólares no mercado são os mesmos para todos. Por isso é bom sair na frente – alertou o governador, entusiasta das PPPs.
– Se me oferecessem os R$ 12 bilhões necessários para resolver o saneamento no Rio Grande do Sul, eu preferia fazer a parceria com a iniciativa privada. Quando é o Estado que faz, precisa licitar cada obra, cada trecho, cada estação. São centenas de concorrências, sujeitas à falta de interessados, empresas quebrando, embargos judiciais… Não trato a PPP como a única solução, mas como a melhor solução – disse, politizando, mas tratando de dejetos com uma elegância diferente dos discursos do presidente Jair Bolsonaro nos últimos dias:
– Quem é contra geralmente mora numa área nobre e puxa a descarga que vai para o rio poluído de onde é tirada a água de quem não tem tratamento de esgoto.
Ao descer as escadas do Palácio, sem nenhum assessor mas ao lado do vice Áureo Tedesco, Marco foi otimista:
– Agora vai.
A pressa do governador em promover o leilão ainda este ano, em 29 de novembro, tem lógica. São Paulo já busca investidores interessados. Nesta tarde, menos de duas após o lançamento do edital gaúcho, era a pauta principal do Estúdio I, da GloboNews.
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