Nem a dor de quem perde alguém sensibiliza covidiotas. A cada postagem sobre uma vida perdida pela COVID-19, a politização da morte, o negacionismo, o desamor e o orgulho da burrice substituem mensagens de consolo às famílias.
– Ah, mas morreu porque tinha comorbidades! – virou diagnóstico de especialistas do Grande Tribunal das Redes Sociais, ao menos incorporando uma palavra nova ao exíguo vocabulário.
Não são os mais de 400 mil moradores de Gravataí e Cachoeirinha, mas conforme pesquisa são potencialmente 15 mil, como tratei ontem em Os 15 mil covidiotas e a demitida do Leblon entre nós.
Só que, ente nós, e também eles, mais da metade tem essas ‘doenças’. Alguns sabem, e tratam, ou tem acesso a planos de saúde e bons hospitais, outros não – a 'ideologia dos números' ganha cor, e classe social, com a taxa de letalidade do novo coronavírus maior entre negros (54,8%) e brancos (37,9%).
Fiz um levantamento com base em dados oficiais de 2019 do Ministério da Saúde e conferem com estudo feito na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp): mais de 50% da população adulta brasileira apresenta ao menos um dos fatores que aumentam o risco de manifestações graves da COVID-19.
Se considerados apenas os adultos com menos de 65 anos, a proporção dos suscetíveis a complicações caso venham a se infectar pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2) ainda é alta: 47%.
Siga os dados do levantamento do Seguinte:.
Os idosos são 30 mil em Gravataí, 10,6% dos 281.519 habitantes projetados pelo IBGE para o ano passado.
Os hipertensos, ou com complicações cardiovasculares são 69.535, ou 24,7% da população.
Os diabéticos, 7,6% das pessoas, perfazem 21.395.
Asmáticos são 8,6 mil, ou 3%.
Pessoas com HIV são 1.016, ou 0,3%.
Portadores de doenças renais 160, ou 0,05%.
Acima do peso correspondem a mais da metade da população: 156.806 (55,7%).
20% da população de Gravataí é considerada obesa: 56.303.
Detalhando mais a pesquisa, entre os hipertensos/cardíacos/obesos, um dado que assusta quando o vírus começa a baixar para as periferias, é que os mais afetados são aqueles com menor escolaridade. Com até oito anos de estudo são 42,5%; entre 9 e 11 anos de estudo são 19,4% e com 12 ou mais anos de estudo são 14,2%.
Asmáticos são mais asmáticas. E desde bebês. Dos 6,4 milhões no Brasil, são 3,9 mi mulheres e 2,4 mi homens.
Na Aids, são 756.586, com 29,4% de subnotificação.
Subiu a bandeira preta do risco que corremos?
Um estudo do British Medical Journal (BMJ), publicado pelo Grupo Abril, traz novos dados sobre a letalidade nos grupos de risco do novo coronavírus.
Os pesquisadores avaliaram 113 pessoas que morreram e outras 161 que se recuperaram da infecção em Wuhan, na China, onde a epidemia foi deflagrada. A idade média dos que vieram a óbito era de 68 anos, contra 51 nos curados.
A hipertensão arterial é uma das comorbidades mais associadas às complicações fatais: 48% dos falecidos tinha pressão alta, ante 24% dos que se recuperaram — o dobro!
Entre os que morreram, 21% possuíam diabetes — esse número caiu para 14% entre os que ficaram bem. E 14% dos falecidos sofriam com outras doenças cardiovasculares.
Provavelmente, os idosos estão mais suscetíveis às complicações do SARS-CoV-2 por causa de alterações no sistema imunológico naturais da idade. No caso dos males cardíacos, a circulação prejudicada e a debilidade dos pulmões parecem favorecer a agressividade da infecção.
Já o diabetes, principalmente o tipo 2, é um fator de risco para o agravamento de diversas infecções. Isso porque prejudica as defesas do organismo contra vírus, bactérias e afins.
Outros problemas são relacionados a complicações em decorrência do SARS-CoV-2: asma, enfermidades hematológicas, doença renal crônica, imunodepressão (provocada pelo tratamento de condições autoimunes, como lúpus ou câncer) e obesidade também estão ligadas às mortes.
Para as doenças que atacam os pulmões, como asma e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), a relação é clara. São transtornos que já atrapalham a respiração. Nesse cenário, há acúmulo de secreção pulmonar e aumento da sensação de falta de ar.
Portadores da doença renal crônica também são incluídos pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como membros do grupo de risco da COVID-19. Isso porque os rins são responsáveis pela filtragem do sangue e participam da resposta imunológica frente à uma ameaça viral. Fora que a lesão desses órgãos geralmente vem de outras doenças crônicas associadas a sintomas graves da infecção, como hipertensão e diabetes.
Não é possível somar todas as incidências, porque chegaríamos a 287.512 pessoas, número maior que a população. Obviamente, há muitas ‘comorbidades’ nas mesmas pessoas.
Aplicando os 50% da pesquisa nacional em Gravataí, são mais de 140 mil pessoas no ‘grupo de risco’. Em Cachoeirinha, 65 mil.
Ao fim, quem não leva a sério a 'ideologia dos números', covidiota é.
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