Vamos à notícia e depois comento.
Mais de 2,3 mil servidores ativos de Cachoeirinha receberam, antecipadamente, a quitação dos seus vencimentos do mês de janeiro nesta sexta-feira, dia primeiro de fevereiro.
– São 2.372 matrículas aptas a receber o pagamento, já que um bom número de servidores encontra-se em férias. O valor total da folha é de R$ 2.630.773,88 e do vale-alimentação, de R$ 388.459,23 – informou Sabrina Gattini, secretária interina da Fazenda.
Ao comentário:
Sem dúvida é uma boa notícia. Infelizmente a dificuldade enfrentada por municípios e estados para pagar servidores – reflexo da interminável crise econômica e política nacional, mas também herança de irresponsabilidades fiscais e eleitorais de diferentes sotaques e cores partidárias – deixa cada vez mais no passado a expressão: “não faz mais do que a obrigação”. Hoje, prefeito e governador que paga em dia só não é herói para o servidor porque, onde isso acontece, a ‘bondade’ quase sempre está conjugada ao ‘reajuste zero’ e ao corte no que alguns chamam ‘vantagens’, outros ‘privilégios’ – assim é em Cachoeirinha, e também em Gravataí, para usar um exemplo próximo onde se mexeu no plano de carreira, na contribuição previdenciária e chega-se ao quarto ano sem a reposição (pelo menos diretamente) das perdas com a inflação.
Inegável é que Miki Breier parece soltar na direção do funcionalismo a pomba branca da paz, que carrega no bico um ramo de oliveira, criação de Pablo Picasso, símbolo da bandeira de seu PSB, quando podemos sempre desconfiar de maquiavélicas estratégias de governos que, Brasil afora, atrasam salários para notícia da crise ganhar as manchetes e o Grande Tribunal das Redes Sociais – onde entre mortes, desastres, epidemias, guerras, destruição e perigos tantos se divertem – bater na porta de quem não é servidor público e, assim, amarrar não um bode, mas um bom vilão barnabé no sofá da sala.
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Mesmo machucados pelos ajustes nos planos de carreira e benefícios, propostos pelo prefeito e aprovados pelos vereadores ainda em 2017 num governo socialista e, pelo menos em tese, ideologicamente simpático ao funcionalismo, os servidores hão de reconhecer que a antecipação é uma decisão do professor Miki, que poderia depositar os vencimentos até quinto dia útil do mês – prazo limite conforme o calendário.
Para o afago, Miki usou da receita que entrou nos cofres da Prefeitura com o recolhimento do IPTU pago em cota única, com descontos de 15%, até o dia dois de janeiro. É a quarta vez que consegue adiantar a quitação da folha. Em 2018, foram duas vezes: em 28 de dezembro, entre Natal e Ano Novo e, em 29 de março, na véspera da Sexta-Feira Santa. Em 2017, foi feito em 28 de dezembro, também entre os feriados de final de ano.
Insisto na tese da boa notícia porque Cachoeirinha ainda usa 6 a cada 10 reais do arrecada para pagar os servidores (em 2016, 80%; em 2017, 70%) e, nos dois primeiros anos, o governo precisou pagar parcialmente os salários por três vezes em 2017, devido ao caixa raspado em agosto, setembro e novembro; e em agosto de 2018, quando decisão judicial sequestrou receita em favor do Iprec, o instituto de previdência dos servidores municipais.
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Quem conhece a realidade da Prefeitura de Cachoeirinha e não usa os números como milicos de guerras ideológicas entende que – como o otimista aquele que diz que “tudo vai de pior a mal” – não é feio, nem exagerado, Miki comemorar uma ‘simples’ antecipação de sete dias no pagamento dos salários.
Se a partir do ‘pacotaço’ de 2017 muitos servidores passaram a vê-lo como inimigo de infância, o gesto do prefeito o faz hoje pelo menos um amigo honorário.
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