Às 22h desta segunda, Miki Breier fez post em seu perfil no Facebook, que você acessa clicando aqui:
Gasto com a folha:
Dezembro 2016: 77,8%
Dezembro 2019: 56,14%
Fui ouvir o prefeito de Cachoeirinha. Siga o que ele disse e, ao fim, comento.
– O próximo governo poderá contrair financiamentos. Em nossos quatro anos, arrumamos a casa – resumiu, usando como exemplo Gravataí, onde Marco Alba (MDB) segurou a folha de pagamento, num fim de mês perpétuo para o funcionalismo, pagou mais de R$ 200 milhões em dívidas e neste segundo governo consegue financiar R$ 100 milhões em infraestrutura.
– Lembra 2000 – compara, citando o que tratei no artigo Marco Alba, o ’Grande Eleitor’ de Miki?; 2020 is the new 2000, sobre a eleição daquele ano quando a popularidade do governo de Daniel Bordignon, do qual Miki era vice, ajudou a eleição do então companheiro de PT José Stédile à Prefeitura.
O custo político do ajuste na folha, o prefeito reconhece.
– Enfrentamos uma greve de 60 dias. Mas não tinha como não agir frente àquele absurdo de quase 80% da receita destinado à folha de pagamento. Foi preciso cortar vantagens que não havia em município algum. Tanto que muita gente passava em concursos em Porto Alegre, Gravataí, Novo Hamburgo, mas escolhia trabalhar em Cachoeirinha.
Miki cita outras medidas como a redução de 19 para 12 secretarias e de 250 para 160 CCs, diminuição de contratos e a atração de novos negócios:
– Só na Vital serão 700 empregos – exemplifica.
Os 54% que representam o limite da Lei de Responsabilidade Fiscal Miki projeta atingir no próximo quadrimestre.
– A população reconhece nosso esforço. E estamos conseguindo fazer algumas entregas, como a iluminação de led em 100% da cidade, o cercamento eletrônico e o cabeamento de fibra ótica que permite wi-fi em todas as escolas, unidades de saúde e em 20 praças.
Agora analiso.
Ao expor o desequilíbrio de 2016, com a destinação para a folha de quase 8 reais em cada 10 arrecadados por Cachoeirinha, Miki faz gritar falhas administrativas – e políticas – dos governos de seu partido, o PSB, e principalmente reafirma Vicente Pires como seu vilão favorito, mesmo que o último prefeito tenha enfrentado uma crise nacional, econômica e política, que de marolinha se transformou em tsunami.
Inclua dentro dos alvos da incompetência a quase totalidade da Câmara. Mesmo os que hoje estão na oposição – ou ‘Situação A, B, C…’ – deram sustentação às duas décadas do mesmo grupo político no comando da Prefeitura.
Nem o próprio Miki escapa da culpa.
Sim, primeiro porque o prefeito não mentiu na campanha, mas omitiu muito sobre a situação financeira que herdaria.
E, no governo, só se arriscou ao mexer com a folha de pagamento do funcionalismo, o que se não fizesse, nem salários conseguiria pagar.
Porém, não atacou o rombo no Iprec, o instituto de previdência; e nem tentou cobrar corretamente o IPTU – e aí não me refiro a aumentar alíquotas, atualizando uma planta de valores 20 anos defasada, mas sim a desengavetar o projeto de georreferenciamento que, para se ter uma idéia, aplicado em Gravataí, com fotos aéreas revelando construções não registradas corretamente na Prefeitura, mais que dobrou o número de metros tributados e, consequentemente, a receita com impostos municipais.
As contas certamente estariam melhores, contudo na mesma proporção da impopularidade do governante.
Por isso a necessidade de campanhas eleitorais não tratarem apenas de promessas de bondades e a ‘mamadeira de piroca’ das fake news. É preciso debater temas que fazem parte da vida real de quem senta na cadeira principal da Prefeitura.
Chato dar más notícias, mas o próximo governo, sem certidões negativas de débito da previdência, não tem como contrair empréstimos (única forma que hoje as prefeituras têm para fazer obras) mesmo que a folha de pagamento esteja em 54% limitado pela LRF.
E, para equacionar a previdência sem estourar a folha, provavelmente os próximos anos serão de ‘reajuste zero’ e, anote, de aumento em alíquotas de contribuição previdenciária do funcionalismo.
Mais: Miki inaugurou a UPA, e, como Gravataí, o custo mensal de cerca de um milhão de reais é bancado quase que exclusivamente pela Prefeitura e algum troco dos governos estadual, federal e emendas parlamentares.
E tem a fila de mais de mil crianças esperando vagas em creches.
E tem…
Ao fim, é para comemorar a projeção de que Miki encerrará este primeiro governo com a folha dentro do limite e com possibilidade de buscar financiamentos. Mas a situação de Cachoeirinha inspira cuidados – e muitos remédios amargos, ainda. Se aparecer candidato dizendo que só com ‘vontade política’ é possível fazer muito mais, é ‘conto da Cachoeirinha’.