Quando em artigos no Seguinte:, o último Acordo Mercosul-União Européia é ruim para GM Gravataí; there is no free lunch, nem marmita grátis, que traz relacionados os links de outros textos, alertei para o risco da GM ir embora, como fez a Ford, muitos acharam terrorismo, ou secação de governos – mesmo que prefeito, governador e presidente tenham, ao menos hoje, diretamente, influência alguma sobre o que os CEOSs de Detroit calculam e decidem sobre investimentos da montadora dos Estados Unidos para o mundo.
Mas, o dia de hoje, quinta-feira, 22 de agosto de 2019, fotografa meus argumentos: enquanto o Sindicato dos Metalúrgicos de Gravataí (Simgra) rejeitava oferta da GM para reduzir salários, mais de mil pessoas faziam fila para trabalhar na Yaap, uma terceirizada da empresa.
Eram 30 vagas!
João Batista Souza foi até lá e, com realismo espirituoso, pelo qual o cumprimento, postou: “hoje senti na pele o tamanho do desemprego em nosso estado. Mais de 1000 pessoas disputando 30 vagas para empresa chinesa que faz tanques para GM. Devia ter jogado o dinheiro da gasolina em bilhetes da loto que era mais fácil”.
Se me permite o amigo de Facebook, de quem é a foto que ilustro o artigo, faço um adendo: desemprego no Rio Grande do Sul, mas também em todo Brasil!
Fiquei imaginando Valcir Ascari, o Quebra-Molas, esteio do Simgra, chegando para a reunião desta manhã com engravatados da GM para discutir 21 pontos de pauta. Se testemunhou a fila da tragédia social, não haveria como, infelizmente para os trabalhadores, sentar à mesa com o garbo de presidente do sindicato da unidade mais produtiva da América do Sul e uma das mais eficientes no mundo.
Enquanto moradores de Gravataí à Livramento esperavam na fila uma oportunidade de participar de uma entrevista para ganhar na Yaap mais ou menos os R$ 1,3 mil que a GM propõe para seus metalúrgicos, Quebra-Molas subia as escadas para lutar por reposição salarial. Arrisco, em seu íntimo, já se contentaria em não reduzir salários, como querem os Armani risca de giz de Detroit.
E o piso é de R$ 1.647,00!
Em 2019, a GM ameaçou ir embora. Não só de Gravataí, mas do Brasil. Depois recuou e anunciou R$ 10 bilhões em investimentos, pelo menos 10% disso em Gravataí, mas aos trabalhadores avisou que em 2020 não abre mão de discutir um novo acordo trabalhista.
– Tem pontos que são sagrados, como a participação nos lucros, a não-terceirização da atividade fim e trabalho aos domingos sem hora extra – pontou Ascari ao Jornal do Comércio, citando a preocupação com a inclusão de mudanças trazidas pela Reforma Trabalhista e pela MP da Liberdade Econômica (opino: sobre a primeira, o temor é justo, sobre a segunda, não passa de um factoide que não muda nada em relação ao que já prevê a Constituição).
Ao fim, o problema de Ascari e dos sindicalizados na negociação com a GM é que na fábrica de São José dos Campos, em São Paulo, os trabalhadores aceitaram a proposta da GM.
Acredito que Gravataí também vai aceitar.
Na fila de hoje, não duvido que todo e qualquer um dos mil aceitaria metade dos direitos que os metalúrgicos tem hoje – conquista do sindicato, registre-se.
Isso não é uma sugestão, muito menos uma crítica: são fatos, aqueles chatos que atrapalham argumentos e, mais do que tudo, um lamento.
Que tempos para os assalariados, muitos já pedindo desculpas por ter um trabalho, por ainda ter algum direito trabalhista…
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